Angel
Se ainda existiam alguns resquícios de lucidez em mim eles se desfizeram assim que vi Benjamin passar por aquela porta. Nas últimas três horas eu já considerei desistir da aula de literatura e até mesmo da faculdade, mas a única coisa que consegui foi desistir de tentar entender Benjamin. Já me perguntei muitas vezes quais são os motivos que levaram ele a me odiar tanto a ponto de voltar a frequentar uma aula só para me torturar. Cheguei a conclusão de que o problema não sou eu e que os motivos dele — seja lá quais sejam — são infundados e irracionais. A pergunta que perdura na minha mente agora é: quando foi o momento que ele decidiu que iria me torturar? Foi na casa de Eric, logo depois de ver a minha dança ridícula? Ou foi no final de semana passado, logo depois de me ver chorando? Parando para pensar agora, ele provavelmente se divertiu com a cena. Talvez tenha sido no momento em que ele cravou os seus olhos em mim. Me lembro que assim que vi Benjamin pela primeira vez, sabia que jamais encontraria alguém tão bonito quanto ele. E o fato de que a partir do momento em que ele me viu decidiu que eu seria a próxima vítima de suas torturas queima dentro de mim como ácido. Não aguento mais ficar dentro desse quarto. As paredes parecem estar se fechando e nem mesmo o álbum Indie mais calmo que eu conheço foi capaz de me acalmar. Sair com uma amiga agora faria bem, mas como sempre Olivia não está aqui. Procuro por um livro no meu armário, mas não encontro nada que não me lembre Benjamin ou que eu já não tenha lido inúmeras vezes. Ligo então para Olivia, na esperança de que ela possa me salvar dessa tortura psicológica em que Benjamin me colocou.
— Oi! — ela atende no segundo toque e a sua voz sai muito mais entusiasmada do que eu esperava. Quando imagino os motivos para isso apenas coisas obscenas me vêm a cabeça.
— Você sabe onde eu posso encontrar uma biblioteca nessa cidade? — No lugar onde eu costumava morar era fácil, a única coisa que eu precisava fazer era andar dois quarteirões e pronto. A biblioteca era extremamente limitada, mas era o meu maior refúgio.
— Biblioteca? Cara, você é mais nerd do que eu imaginava. — Olivia responde com um humor que não estou disposta a retribuir. Quando ela percebe isso, continua:
— Tenho quase certeza de que um quilômetro para frente do campus tem uma biblioteca.— Quase certeza? — confiro receosa. Quantos por cento seria a certeza dela? Setenta... Oitenta? Não posso andar por um quilômetro atoa.
— Espera um pouco. — ela pede. Escuto a sua voz longe do celular conferindo as informações com Eric. Eu me surpreenderia se ela não estivesse com ele. Alguns minutos depois escuto a ligação chiar quando Olivia pega o celular na mão novamente.
— É isso mesmo, você segue a rua do campus reto por um quilômetro, logo depois de passar por um parquinho anda por mais alguns metros e vai encontrar a biblioteca. — ela explica, enquanto eu fico imaginando como vai ser andar por um quilômetro de ruas movimentadas e sol escaldante.— Okay, obrigada. — falo pronta para desligar, mas antes que eu faça isso, Olivia grita meu nome com o mesmo volume que as pessoas usam para chamar a atenção de alguém no meio de um lugar lotado.
— Fiquei sabendo que o Benjamin está fazendo aula de literatura junto com você. — ela diz. Consigo imaginar o seu risinho do outro lado da linha.
— Pois é... — Me pergunto como ela ficou sabendo disso. Será que Benjamin já está se gabando sobre como o seu plano de me torturar está dando certo?
— Ele está tão afim de você!
Ela fala com tanto entusiasmo na voz que me sinto triste por ter que desapontá-la.— Sinto muito ter que te dizer isso, mas dúvido que os motivos de Benjamin estar frequentando aquela aula tenham a ver com isso. Posso garantir que ele está bem longe de sentir qualquer tipo de coisa por mim que não seja ódio. — A minha fala dói de uma forma inesperada. O efeito que Benjamin tem sobre mim parece ser tão grande quanto o seu ódio infundado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O MEU SONHO MAIS SELVAGEM
Romance"Ela tinha sonhos. A vida toda sonhou com príncipes encantados e finais felizes. Ele era alto e mais bonito do que ela podia colocar em palavras. Ela podia ver o fim dos dois antes mesmo de começarem. Ele demorou muito para perceber o privilégio que...