Capítulo 35

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Benjamin

Eu sempre julguei tolos aqueles que deixavam o desejo manipulá-los. Aqueles que caíam na ilusão do amor. Afinal, nada dura para sempre. As pessoas dizem adeus. Tudo o que você confia, deixa você algum dia. Me apaixonar, significaria cair em desgraça. Mas agora, andando por ruas iluminadas com Angel ao meu lado, eu percebo que tudo me leva até ela. Só Deus e eu sabemos disso, mas estou perdidamente apaixonado por essa garota. Eu repeti a frase "eu a odeio" tantas vezes na minha cabeça sem sequer perceber o quanto eu estava me enganando. E agora olhando para ela sei que se por um acaso infeliz eu morresse neste exato momento, eu morreria feliz, porque Angel seria a última coisa que eu vi e isso seria suficiente para mim. Mesmo que eu fosse para o inferno, a minha última visão teria sido do paraíso. Nada no mundo me preparou para isso e não é de um milagre que preciso, eu só preciso dela.

— Benjamin — Ela abaixa o rádio e me encara. Lá se vão mais uma vez os meus batimentos regulares e baixos...

— Sim?

— Obrigada. — Angel faz questão de olhar bem no fundo da minha alma quando diz isso. Se as ruas não estivessem tão vazias eu com certeza já teria causado um acidente. — Se você não tivesse chegado naquele momento eu nem sei o que poderia ter acontecido... — Um calafrio passa pelo seu corpo. Assim que os seus olhos se enchem de lágrimas, ela volta a encarar a janela. As memórias ainda estão muito recentes e nítidas. Eu posso sentir o ódio percorrer por cada centímetro do meu corpo, mas o meu desejo de protegê-la e ficar aqui para ser o seu suporte é maior do que qualquer tipo de raiva.

— Ei, já está tudo bem. — Seguro o seu rosto com a mão que não está no volante e recolho uma lágrima. Ver ela chorando me faz querer chorar também, mas eu não vou, ela não precisa de todo esse drama agora. — Eu não consigo nem imaginar como você deve estar se sentindo, mas se precisar de um amigo pra conversar... ou até mesmo chorar, eu estou sempre disponível para você. — Ter que usar a palavra amigo me irrita tanto quanto me entristece, mas pelo menos eu consegui fazer Angel sorrir. Vou considerar isso uma vitória.

— Bem, eu vou cobrar esse ombro amigo qualquer dia desses.
Eu ainda me surpreendo com a sua beleza toda vez que ela sorri. Me pergunto se algum dia vou parar de fazer isso.

— Eu vou estar esperando ansiosamente por isso.
Ela aumenta o rádio e começa com a sua cantoria de novo. Mais uma vez enquanto eu a observo, eu só quero vê-la sorrir. Eu só quero fazer ela ser minha. É agonizante, mas eu nunca lhe diria como eu me sinto, porque ela poderia simplesmente não se importar e isso simplesmente não iria me ajudar. Além do mais, eu não posso. Não posso me dar ao luxo de amar alguém. Angel é linda de uma forma inexplicável e tão frágil quanto vidro. Então eu me pergunto, quanto tempo ela levaria para perceber que eu só vou machucá-la? Quanto tempo eu levaria para deixar o seu coração de vidro cair?
Quanto tempo até eu tentar o meu máximo e ainda assim não ser o mínimo do que ela precisa? E o mais importante de tudo: quanto tempo até ela me deixar?
Não posso. É isso o que eu repito para mim mesmo o caminho inteiro. Não posso. Eu simplesmente não posso...

— Chegamos... — Angel avisa algo que nós dois já percebemos há alguns minutos atrás.

— É, chegamos... — Eu não quero ter que ir embora. Eu sei que preciso e que é o certo a se fazer, mas Deus, como eu não quero ter que ir embora.

— Acho que eu tenho que entrar. — A sua boca fala isso, mas o seu corpo permanece aonde está. Eu seria eternamente grato se ele me desse um único motivo para ficar, nem que fosse só por mais cinco minutos, mas ela não faz isso e enfim abre a porta. Acho que é isso. Bom, vai ser para o melhor, não é mesmo? Quem sabe amanhã quando eu acordar, eu já tenha encontrado forças para nunca mais falar com Angel. Eu sei que prometi muitas coisas essa noite, mas é para o bem dela. Eu só vou machucá-la se ela permitir que eu entre de vez na sua vida. — Acabei de perceber que vou precisar de ajuda para abrir o meu vestido. — É, foda-se tudo isso, eu vou ajudar ela a abrir esse vestido.

Devo admitir que olhei muito para a bunda de Angel enquanto ela andava na minha frente até o seu quarto. Ela realmente caminha como se estivesse em uma passarela.
— Eu tenho dezessete chamadas perdidas da Olivia. E duzentas mensagens — Angel diz assim que pega o seu celular na cômoda do quarto. — E E você? Alguma ligação?

Percebo que já faz muito tempo desde a última vez em que mexi no meu celular. Pego ele do meu bolso e me deparo com uma quantidade exagerada de ligações.
— Mais de trezentas ao todo.
Angel suspira fundo, assim como eu imaginando as inúmeras perguntas que vamos ter que responder amanhã.

— Eu queria dormir e não precisar acordar por pelo menos um ano! — ela resmunga e bate o pé como um bebê.

— Bom, você precisa tirar esse vestido pra fazer isso. — sorrio com mais malícia do que eu planejava, mas Angel não parece perceber isso.

— É, você está certo. — Ela se vira de costas para mim e sorri por cima do ombro. Me dou conta de que me enganei ao achar que ela não tinha visto a malícia no meu sorriso. Ah, ela viu sim, e está tão maliciosa quanto eu.
Seguro o seu cabelo e observo o seu pescoço por alguns segundos antes de finalmente começar a abrir o zíper. Eu consigo imaginar tantas coisas das quais eu abriria mão só para ter a chance de beijar aquele pescoço...
Eu juro que consigo ouvir a música Versace On The Floor tocando em algum lugar. Provavelmente é só a minha cabeça enlouquecendo mais uma vez. Eu preciso sair daqui! Desço o zíper até o seu fim tomando cuidado para não prendê-lo na pele de Angel. Tiro as minhas mãos do seu cabelo e daquele vestido provocador o mais rápido que consigo. Eu posso sentir o controle se esvaindo do meu corpo assim como a minha sanidade fez há meses atrás quando eu conheci Angel.
— Pronto. — digo. Torço para que ela se mova, porque eu mesmo estou imóvel.
Assim que ela fizer isso, vou fugir desse quarto como o diabo foge da cruz, mas Angel não se afasta. Ela se vira para mim e me encara. Sua respiração ofegante, sua boca entreaberta e eu, um homem louco pelo seu toque. Foi tolice minha pensar que conseguiria fugir, é como se eu fosse um refém e ela é quem está me mantendo preso. Eu não acho ruim e com certeza não estou reclamando. Eu provavelmente desenvolvi uma Síndrome de Estolcomo. E o que acontece agora? Eu beijo ela? Eu me declaro? Eu nunca vou descobrir, porque Angel já deu o primeiro passo. Eu senti o meu coração parar assim que os seus lábios tocaram os meus. É tudo o que eu tinha imaginado... Não! É melhor! É como sentir o toque dos deuses... É magnífico! Por Deus, é magnífico...

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