Capítulo 31

209 17 4
                                    

Benjamin

Eram sete horas quando eu entrei no chuveiro. O meu plano era tomar banho às oito, mas a minha ansiedade decidiu que não. Passei a manhã sorrindo com a ideia de ver Angel hoje. Passei a tarde preocupado com a ideia de estar em um carro sozinho com ela. E agora saindo do banho, ainda estou passando na minha cabeça o que dizer e o que não dizer. Eu não posso estragar essa noite. Não posso ser o babaca que costumo ser e muito menos falar as merdas que costumo dizer. Eu preciso ser perfeito, o único problema é que não sei como fazer isso. Tentei me espelhar em Angel e em toda a sua abundante perfeição, mas mesmo que eu tentasse a minha vida toda não chegaria ao seus pés. Ela é naturalmente perfeita e eu? Bom, eu sou naturalmente estúpido, arrogante e escroto. Vou tentar o meu melhor, não que isso seja o suficiente ou o que a Angel mereça, mas é o que eu tenho a oferecer, pelo menos por essa noite. Considero pentear o meu cabelo, mas desisto da ideia ao me recordar da última tentativa. Visto uma das minhas inúmeras blusas brancas e percebo que emagreci quando coloco uma calça que costumava ficar apertada no meu corpo. Acho que isso é o que acontece quando tomamos a decisão de passar os dias em uma névoa de sentimentos confusos, sem comida, sem água e sem paz. Pego o vale presente que comprei para Ashley, coloco no meu bolso e desço as escadas.

— Vai sair? — Minha mãe pergunta assim que entro na cozinha. Anthony e meu pai se viram para me olhar ao mesmo tempo.

— Vou, não me espera acordada. — Já fazem alguns anos desde que a minha mãe parou de esperar por mim, mas eu achei que essa conversa seria uma boa brecha para eu treinar a minha tentativa de ser perfeito por uma noite, afinal tenho que ser gentil.

— Tem certeza que não quer comer antes? O jantar acabou de sair. — Ela aponta para os pratos servidos na mesa. Devo admitir que me sinto tentado a comer, mas tenho certeza que essas malditas borboletas no estômago não deixariam.

— Não, obrigado. — Uma das boas maneiras é: agradecer sempre. Eu pesquisei e devo admitir que é muito mais difícil do que parece. Só Deus sabe o quanto eu quero revirar os meus olhos agora.

— Você vai sair com a Angel? — Anthony pergunta. Ele ainda não esqueceu ela. Aparentemente eu não sou o único que acha Angel inesquecível.

— Angel? Quem é essa? Sua namorada?— Minha mãe sorri como se tivesse ganhado na loteria e mais uma vez a minha vontade de revirar os olhos aparece. Não demora muito até o sorriso dela ser substituído por uma feição carrancuda. — Espera aí, por que o seu irmão conhece ela e eu não? — Agora estou com vontade de correr.

— Tchau mãe, tenho que ir. — Saio dali o mais rápido que consigo. No caminho até o carro percebo que o que eu fiz não foi muito gentil e nem educado. Dou meia volta amaldiçoando tudo o que vejo pelo caminho e entro dentro de casa novamente. Todos estão no mesmo lugar e minha mãe e meu pai estão falando sobre mim, mas eu já esperava por isso.
— Boa noite, minha querida família. — digo para a surpresa de todos. Saio enquanto eles ainda estão processando o que foi isso. No caminho para o campus fico rindo das suas reações confusas e depois atordoadas. Graças ao trânsito chego às exatas oito e catorze. Estaciono o meu carro e fico esperando até dar o horário combinado. Às oito e vinte, Angel me manda uma mensagem conferindo se eu realmente vou aparecer. Seria cômico, se não fosse pertubador. Ela me acha tão escroto a ponto de me comprometer com algo e não cumprir? Começo a achar que se eu tenho uma versão que é a minha pior de todas, eu devo tê-la mostrado para Angel. Eu poderia ficar triste e melancólico de novo, mas decido usar isso como um estímulo para a minha tentativa de ser perfeito. Não tenho certeza se mostrei a minha pior versão para Angel algum dia, mas eu pretendo mostrar a minha melhor essa noite. Quando o relógio finalmente marca oito e meia, eu vou até o seu quarto. A mensagem dela dizia pavilhão B... A23, então eu bato na porta com as mãos tremendo de nervosismo e espero por ela abrir como se estivesse esperando pelo momento mais importante da minha vida. Talvez esse realmente seja...
Angel abre a porta lentamente. Quando finalmente a vejo por completo sinto que o meu corpo está prestes a desfalecer, então seguro o batente para impedir que isso aconteça. É uma benção para os meus olhos, para os olhos de qualquer um. Ela está magnífica, da cabeça aos pés. O vestido vermelho... o salto alto... o cabelo caído pelos ombros... Por Deus, eu acredito em milagres quando a vejo!

— Você está linda... — Para a minha surpresa e a de Angel eu disse essas palavras em voz alta. Acho que não vai ser tão difícil ser gentil essa noite.

— Obrigada. Você também está. Eu quero dizer lindo e não linda, sabe... — ela ri nervosa e um pouco ofegante. A cena é engraçada, mas decido não dar risada temendo constrangê-la — Quer entrar? Eu ainda preciso finalizar algumas coisas. — ela pergunta. Concordo com a minha cabeça e adentro o quarto. Ele é o que eu imaginava. A parte de Olivia é como olhar para uma paisagem trevosa e a de Angel é como se unicórnios tivessem vomitado por todo canto.
— Pronto! — ela anuncia se virando para mim novamente, agora com um brinco brilhante e aparentemente pesado nas orelhas. — Agora só falta mais uma coisa... — Angel encara os pés enquanto fala. Começo a pensar quais são os motivos que a deixariam envergonhada, mas não encontro nada. Estou pronto para entrar em pânico.
— Quando eu fui comprar esse vestido, eu não experimentei ele, então eu não percebi que precisaria de ajuda pra fechar o zíper. — Se eu entendi certo o rumo dessa conversa, posso afirmar com clareza que daqui a alguns segundos vou infartar — Pode fechar para mim? — Angel se vira de costas para mim. O seu zíper está aberto, uma pequena parte da sua calcinha entrega que ela escolheu a cor roxa para hoje e o meu coração está batendo tão alto que temo ela escutar. Em outras circunstâncias esse zíper aberto seria o meu melhor amigo, mas nessas, ele é o meu pior inimigo. Não sei ao certo se é um delírio meu, mas posso sentir o suor escorrendo pela minha testa. Essa é mais uma prova de que Angel está sim, tentando me matar. Como ela pede algo assim de forma tão inocente? Será que ela não tem ideia de que poderia me deixar duro apenas com um toque suave? Aparentemente não, mas o seu zíper aberto sabe disso e ele está claramente me colocando em um dos maiores testes de autocontrole que já estive. Subo o maldito zíper tão rápido quanto consigo. Angel se vira para mim com um sorriso e diz:
— Obrigada. Podemos ir agora. — Ela pega um embrulho que estava em cima da sua cama, caminha até a porta e espera até que eu vá também. Quando não está olhando passo a mão pela minha testa e vejo que eu não estava delirando, eu realmente suei que nem um porco. Por Deus, ela ainda vai acabar comigo!
No caminho até o carro, Angel resmunga:
— Esses sapatos estão me matando!
Tento respondê-la com um sorriso amigável, mas ele não sai. Ao que parece, aqueles sapatos vão ser a morte dela, e aquele vestido a minha.

O MEU SONHO MAIS SELVAGEM Onde histórias criam vida. Descubra agora