Capítulo 24

201 13 7
                                    

Benjamin

Tomo o banho mais demorado do ano, tentando ficar o mais limpo possível. Não sei porque faço isso, mas parece certo. Coloco a minha calça preta, a única que não é rasgada e uma blusa de mangas longas, novamente porque parece certo. Me olho no espelho do banheiro e pela primeira vez desde... sempre, penteio o meu cabelo. Fico parecendo o vilão de Os Incríveis, então decido bagunçar meu cabelo de novo e torcer para que ele fique bom quando secar. Estou cheirando a sabonete artesanal. Vou em direção ao quarto dos meus pais e me arrependo de entrar sem bater, porque me deparo com eles se agarrando como se fossem dois adolescentes cheios de hormônios. Que visão do inferno!

— Eu não te ensinei a bater? — Minha mãe pergunta me repreendendo.

— Pelo visto não o suficiente.
Desvio o meu olhar e não volto a encará-los até que se soltem.

— O que você quer? — ela pergunta se sentando na cama.

— E fala rápido porque nós dois temos assuntos para resolver. — Meu pai diz sorrindo para ela, que corresponde com um olhar safado. Eles estão flertando bem na minha frente. Meus pais estão flertando bem na minha frente. Talvez eu vomite.

— Vocês dois podem parar? Não é legal descobrir que os seus pais tem uma vida sexual ativa!

— Ah claro, como se você não soubesse. — Minha mãe ironiza.

— Eu sempre preferi fingir demência.
Os dois riem de mim. Não se fazem mais pais como antigamente...

— O que você quer? — ela pergunta e me faz lembrar o motivo pelo qual vim até aqui e tive que presenciar esse show de horrores.

— Um perfume.

— Perfume? Mas você nunca usa perfume.
É claro que ela não me daria a merda do perfume sem antes me questionar... É óbvio que Anthony teve para quem  puxar.

— Acho que ele está tentando impressionar uma garota — Meu pai mostra um sorriso de canto de boca para Sierra e ela retribui. Fico imaginando o quão forte seria o tapa que eu iria levar se ela descobrisse que a chamei pelo nome nos meus pensamentos.

— Será que vocês só poderiam me dar a droga do perfume?
Altero minha voz alto o suficiente para eles pararem com as suas bobagens, mas baixo o suficiente para que Anthony não acorde.

— Tá bom, estressadinho. Não precisa gritar. — Ela se levanta e vai até o seu armário gigantesco. — Que tipo de perfume você quer? Cítrico, frutal, aromático, amadeirado...

— Que merda toda é essa? — A interrompo antes que eu desista do bendito perfume. — Só me dá um perfume cheiroso.

— Todos os perfumes são cheirosos, eu preciso saber o que você quer.

Não sei o que pedir. Que tipo de cheiro Angel gosta? Eu sei que ela gosta de flores, porque uma vez a vi observando algumas no campus.
— Você tem alguma coisa que cheira a flores? 

— Floral então? — ela pergunta.

Concordo com a cabeça, sem saber muito bem o que isso significa. Se eu estiver cheirando a flores, então tudo certo. Minha mãe então pega um frasco de perfume minúsculo do seu armário e o passa para mim. Após eu espirrar o perfume na minha cara — e me sentir um  completo idiota por isso — ela mesmo decide borrifar a fragrância em mim. Saio do quarto cheirando a lavanda e no começo o cheiro me incomoda, mas depois de alguns minutos eu começo a gostar. De qualquer forma, não sou eu quem precisa gostar. Acho que nunca fiquei tão ansioso enquanto esperava Olivia, Eric, Lucas e Ashley chegarem. Não tenho ideia do que vou fazer quando ver Angel ou muito menos do que vou falar. Ela não percebeu que caminhei atrás dela pelos corredores dos prédios hoje. Ela estava saindo da aula de literatura e eu imediatamente reconheci os seus cabelos. Eu pensei em chamá-la, mas ela parecia estar procurando por alguém. E logo depois abaixou a cabeça. Foi aí que eu desviei o meu caminho do seu e fui embora. Escuto o barulho de um carro se aproximando, abro o portão mais rápido do que já abri alguma vez na vida e espero até eles descerem do carro. Primeiro desce Ashley, então Olivia e por fim Eric. Não vejo sinal de Angel. Cadê a Angel? Cadê ela? Por Deus!

— Eae cara. — Eric fala. Passo reto por ele e vou até Olivia.

— Cadê a Angel? Você não chamou ela? Estou a ponto de gritar com Olivia se ela responder que sim.

— Ela não quis vir.
Um soco doeria menos. Angel não quis vir. Eu não sou um idiota, sei que isso tem a ver comigo. É... ela definitivamente me odeia.

— Vocês chamaram a Angel? — Eric pergunta.

— O Benjamin quem deu a ideia. Ele está todo interessado nela esses últimos dias. — Olivia sorri. Não demora muito até Ashley estar me encarando como uma águia encara um passarinho.

— É mesmo, Ben? — Eric está passando muito tempo com Olivia, porque o risinho em seu rosto é idêntico ao dela.

— Não acredito que você está querendo foder a Madre Teresa. — Ashley se intromete, me irritando em níveis absurdos com o seu comentário.

— Eu não quero foder ninguém! E não estou interessado na Angel! Você e o Lucas sempre quiseram chamar ela para o ensaio, eu só fui lá e fiz isso. Qual o problema? — grito apontando o dedo para Eric.

— Nenhum, cara. Não precisa ficar na defensiva — Ele levanta os braços. Reviro os meus olhos e ignoro quando Ashley faz o mesmo com os dela.

Lucas chega alguns minutos depois. E tenho que passar duas horas ensaiando e me controlando para não quebrar alguma coisa... ou alguém. Eu não acredito que passei perfume atoa. Eu não acredito que fiquei tão ansioso para nada. O que eu sou? A porra de um adolescente de quinze anos que está apaixonado? Não sei responder essa pergunta, porque nunca fui um. Eu não vou desistir de tentar consertar as coisas com Angel. Na verdade, já não tenho mais tanta certeza disso, mas vou lutar enquanto ainda me resta forças e disposição. Quando o ensaio finalmente acaba, deito na minha cama considerando nunca mais levantar dela. Não consigo dormir porque não paro de pensar em Angel e mesmo se eu conseguisse, ela continuaria sendo a única coisa constante na minha mente. A senhorita angelical, decidiu que vai aparecer nos meus sonhos todos os dias agora. Não vou reclamar, afinal, nos meus sonhos ela não está brava comigo e muito menos me odeia. Tem sido mais difícil acordar toda manhã desde que isso começou. Seja lá qual for a realidade desses sonhos, neles Angel me ama. Eu não posso permitir que ela me odeie. Ela não precisa me amar nessa realidade em que vivemos, mas eu não posso viver com o fato de que ela me odeia. Então depois de algumas horas olhando para o teto e me remexendo na cama, tenho uma ideia. Angel faz aula de literatura. Esse ano eu não escolhi nenhuma matéria extra, isso significa que tenho um espaço vago para uma eletiva. É isso. Eu vou começar a frequentar as aulas de literatura. Não tenho dúvidas de que vou me sair bem na matéria, porque já a cursei há dois anos atrás. Meu único objetivo nessa aula vai ser falar com Angel e se eu não conseguir fazer isso, posso ficar só olhando para ela. Seria uma benção para os meus olhos.

O MEU SONHO MAIS SELVAGEM Onde histórias criam vida. Descubra agora