Capítulo 39

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Angel

Entre músicas de rock e mordidas na bochecha para evitar as lágrimas de rolarem, nós chegamos. É um estúdio de tatuagem com um ar um pouco tenebroso, mas imagino que só penso assim porque nunca estive em um lugar como esse antes. Benjamin anda na minha frente e eu o sigo para dentro do lugar sem cores vivas. Ele não falou comigo desde que praticamente me implorou para esquecer tudo o que aconteceu entre nós. Eu também não disse nada, em partes porque fiquei evitando o meu choro por muito mais tempo do que pretendia, mas também porque eu não saberia o que dizer. Me sinto uma completa aberração enquanto ando pelo estúdio. Todas as pessoas nele, sejam elas as que trabalham aqui ou as que estão sendo atendidas, tem no mínimo três tatuagens, enquanto a única coisa que eu tenho são mechas no cabelo que parecem um tanto quanto infantis agora.

— Eae cara! — Benjamin para em um balcão e começa a falar com um homem careca que tem uma quantidade impressionante de piercings no rosto. Os dois parecem se conhecer a muito tempo e imagino que isso se deva ao fato de que Benjamin provavelmente sempre vem nesse estúdio para fazer as suas tatuagens. Enquanto eles conversam, começo a olhar para Benjamin tentando adivinhar onde é que diabos ele vai fazer uma nova tatuagem. Não sei se existe mais pele em branco nele para isso. Os seus braços definitivamente não possuem nenhum espaço em branco. O seu abdômen tem um pouco, mas qualquer tatuagem que ele tentasse acrescentar ali ficaria espremida. Bom, acho que ele poderia fazer uma nova tatuagem em alguma das suas pernas, mas por Deus, isso significaria que eu teria que ver Benjamin de cueca. Isso não teria como dar certo, eu mal sinto as minhas pernas só de saber que ele está olhando para mim, não quero nem imaginar de que forma meu corpo reagiria ao ver Benjamin de cueca. Eu desmaiaria... ou pior, eu atacaria ele mais uma vez.... Por Deus, ele não pode fazer uma tatuagem na perna! Seria o meu fim! Seria a minha completa des...

— Angel! — O grito de Benjamin funciona como um balde de água fria jogado sem dó nem piedade em mim às seis horas da manhã. — Eu te chamei três vezes! — Ele me olha como se estivesse prestes a gritar "qual o seu problema?" em alto e bom som para todos nesse lugar escutarem.

— Desculpe, eu me distrai. — Me apresso em dizer antes que ele realmente o faça.

— Vamos, o Marty já está me esperando. — Ele se despede do careca e começa a andar.

— Quem é Marty? — pergunto, enquanto tento acompanhar os seus passos rápidos escada acima.

— Meu tatuador.
Não sei ao certo se é a atmosfera caótica que está óbvia e pairando entre nós dois, mas as respostas curtas e grossas de Benjamin soam como destilação de ódio nesse momento. Não acho que ele odeie a minha presença aqui ou a mim mesma, mas por via das dúvidas me mantenho quieta. Nós dois a entramos em um sala pequena, mas espaçosa o suficiente para caber três pessoas. O tatuador por incrível que pareça, assim como eu, não tem nenhuma tatuagem.

— Benjamin, quem diria... Já faz o quê? Um ano? Achei que nunca mais ia ver o seu rosto aqui. — Marty fala assim que olha para Benjamin. Os dois sorriem um para o outro como se fossem parceiros de bar.

— Não vai se livrar de mim tão fácil, cabeção! — Eles fazem um cumprimento muito bem articulado. Começo a me perguntar quantas tatuagens Benjamin costumava fazer por ano.

— Achei que você tinha tomado juízo, mas pelo visto não foi dessa vez. — O tatuador ri e então percebo os seus olhos finalmente notando a minha presença. — Mas pelo menos agora você tem uma namorada. Se deu bem, a garota é bonita.
O elogio de Marty não me deixa constrangida, mas ele presumir que eu e Benjamin estamos juntos deixa todos os meus níveis de vergonha extremamente altos. Isso não poderia ser em hora pior!

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