Capítulo 40

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Benjamin

Eu estou um grande poço de emoções confusas e atos incoerentes. Eu gostaria de poder jogar a culpa em Angel como eu costumava fazer antes, mas agora eu não sou mais um cego em relação aos meus próprios sentimentos. Eu sei que estou perdidamente apaixonado por ela e também sei que toda essa loucura é culpa minha e somente minha. Eu tomei uma decisão essa madrugada: nós nunca iríamos comentar sobre o ocorrido. Seria mais fácil assim. Ela não teria que sofrer as consequências de ter um relacionamento comigo e eu aguentaria toda a dor de não tê-la ao meu lado calado. Era isso, eu tinha tomado uma decisão. Tudo estava bem novamente, mas a minha insônia decidiu que não. Então eu fiz a única coisa que me acalma em situações de extrema falta de sono: eu comecei a desenhar. Foram horas e horas tentando colocar em um pequeno pedaço de papel toda a pureza da minha magnífica Angel — bem, ela não é minha, mas eu gosto de pensar que sim — e eu não cheguei nem perto disso. Porém, aqueles rabiscos foram o suficiente para eu perceber o óbvio: eu jamais conseguiria ficar longe de Angel, não importa o quanto eu tentasse. Eu tinha que vê-la, mas eu precisava de uma desculpa plausível depois do que aconteceu, e foi aí que eu tive a ideia de fazer uma tatuagem. Para alguns pode parecer loucura e eu não duvido que seja. A quem eu estou querendo enganar? Me tornei um louco de pedra há muito tempo. Eu iria ver ela, mas o plano continuava o mesmo. Nós nunca falaríamos sobre o que aconteceu, em hipótese alguma. Então lá estava Angel, com a sua perfeição divina e os seus olhos inchados pelo sofrimento que eu a causei naquela madrugada. Eu me senti culpado, eu me senti o pior dos homens, mas eu não podia pedir desculpas, porque isso significaria falar sobre o que aconteceu e nós não podíamos fazer isso. Assistir ela tentando segurar as suas lágrimas enquanto olhava pela janela do carro foi uma tortura. Eu perdi a conta de quantas vezes quis beijá-la e afirmar que tudo ficaria bem. Dizer que nós iríamos ficar juntos para sempre se dependesse de mim e que eu a amava mais do que parecia ser possível amar alguém. Eu não podia. Eu não fiz nada. Se há alguns meses atrás eu aprendi o que é se apaixonar, hoje com toda certeza eu aprendi o que é ter um coração partido. Mas eu disfarcei bem, ela nunca saberia da minha dor. Até mesmo porque seria egoísmo da minha parte me queixar sobre o meu coração partido, quando eu claramente tinha partido o dela há algumas horas atrás.
Então ela pegou a minha mão e foi como se tudo fosse muito claro e fácil de novo. Nós deveríamos ficar juntos. Nós éramos feitos um para o outro. Não importava se ela me deixaria algum dia, ela seria minha enquanto eu fosse privilegiado o suficiente para isso. Mas não. Não era nada claro e muito menos fácil. Então eu fechei os meus olhos e os mantive assim. Era mais fácil quando eu não olhava para ela. Eu me concentrei na dor da agulha e no toque da sua mão. Funcionou por um tempo, mas eu sabia que alguma hora eu teria que abrir os olhos de novo e aparentemente eu escolhi a pior hora para fazer isso, porque lá estava Angel, observando a si mesma com a admiração que todos a olham, mas que ela parece nunca perceber. E lá estava eu, preso no belo desastre que somos nós. Bem, ela carrega toda a parte do belo enquanto eu fico responsável por todo o desastre.
Eu decidi que iria dizer para ela então tudo o que eu sinto. Diria que eu a machucarei e que também vou desapontá-la, mas que eu nunca estive tão determinado a mudar como estava naquele momento. Não seria fácil, eu não mudaria do dia para a noite, mas eu melhoraria aos poucos até me tornar o homem que ela merece. Mas como dizer isso? Aquele não era o momento e nem o lugar apropriado. Então eu agi como um adolescente cheio de hormônios, flertando e jogando indiretas. Era óbvio até mesmo para um cego que a mulher tatuada nas minhas costas era Angel. Eu pensei que ela estava se divertindo com todas aquelas perguntas. Pensei que eu estava no caminho certo, e foi quando eu me dei conta de que ela não tinha nem ideia. Eu poderia ter ficado irritado, e acredite em mim, eu fiquei. Uma parte dentro de mim gritava um xingamento atrás do outro, mas eu não contaria isso para ela. Então eu decidi interpretar aquilo como um sinal, seja ele divino ou não, alguém estava me dizendo para recuar e dessistir daquela besteira de contar a verdade. E foi isso o que eu fiz. Agora aqui estamos nós. Novamente dentro do carro, com Angel novamente encarando a janela e eu novamente voltando para a estaca zero, porque simplesmente não consigo ficar longe dessa garota.

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