Capítulo 30

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Benjamin

O meu despertador tocou e a minha mãe veio me chamar na porta. Não adiantou, eu não vou para a aula hoje. Eu não estou em condições de ver ela. Ela está me deixando louco... de novo. Eu pedi desculpas e foram as desculpas mais sinceras que eu já disse para alguém na minha vida. Angel as aceitou. Angel não me odeia. Então por que eu continuo sonhando com ela toda maldita noite? Por que eu não consigo parar de pensar nela? Que merda foi aquela na aula de ontem? O meu trabalho já está feito, eu não deveria ter ido para a aula. Por que eu fui para a aula? E por que eu não fui capaz tirar esse coração da minha mão no banho? Eu me enganei ao pensar que estava enlouquecendo antes, o que está acontecendo comigo agora, isso sim é enlouquecer. É isso, estou louco... delirante... maluco! E como se toda essa situação já não fosse ruim o suficiente, agora eu tenho que aturar Anthony perguntando sobre Angel todos os dias. Oh senhor, se essa for a sua maneira de me castigar, eu já entendi o recado, por favor pare!
O relógio marca dez horas e eu ainda estou apodrecendo na minha cama. Eu não quero dormir, porque sei que a partir do momento em que os meus olhos se fecharem Angel vai aparecer, como um anjo... e às vezes como uma deusa. O meu anjo... A minha deusa. Nos sonhos ela é sempre minha e se eu pudesse dormir para sempre, acredite eu dormiria, mas eu não posso. Em algum momento eu tenho que acordar, e esse é o problema, eu não quero acordar para um mundo em que Angel não é minha. Tudo é confuso quando eu estou acordado, eu não sei o que falar, nem o que sentir. Eu quero dizer que talvez eu a ame, mas o que chego mais perto de fazer é dar a ela a certeza de que a odeio. Angel não me odeia, ela mesma disse e sei que foi verdade, mas não sou um tolo, sei que se as coisas não mudarem de curso não vai demorar muito até que ela comece. São exatamente cinco e dez da tarde quando o meu celular apita. Eu não dormi para evitar sonhar com Angel, mas isso não impediu ela de invadir os meus pensamentos. Pego o meu celular na mão como se estivesse pegando a merda de um tijolo. Estou um lixo!
Eu não estava preparado para o que eu vi naquela tela de vidro minúscula. De todas as coisas que passaram pela minha cabeça hoje, essa nunca foi uma delas. Parecia tão impossível quanto uma viagem no tempo, mas eu estava errado, assim como os cientistas vão descobrir estarem também daqui a alguns anos. Angel me mandou uma mensagem. Eu chequei a sua foto de perfil mais vezes do que posso contar e cheguei a conclusão de que não, eu não estou delirando, ela realmente me mandou uma mensagem. Foi apenas um oi, mas ela mandou com dois i's seja lá o que isso signifique. É como se todo a vida que foi sugada do meu corpo essa manhã voltasse.

O que você quer?
É a minha resposta. Não estou para papo furado. Angel não mandaria uma mensagem para mim sem motivos, principalmente depois do que aconteceu ontem. Então quero saber porque ela mandou essa mensagem o mais rápido possível ou então a minha ansiedade vai me matar. Pela primeira vez no dia saio do quarto e pego alguma coisa para comer na cozinha. Minha mãe olha para mim como se estivesse vendo uma miragem e eu quase dou risada da sua reação. Volto para o quarto correndo e pego o celular na mão desesperado para ver o que ela respondeu. Nada. Não tem nada nas minhas mensagens. Angel não respondeu nada. Por Deus, essa garota acaba comigo!
Decido esperar com o pensamento positivo de que ela deve ter apenas ido tomar um banho ou coisa do tipo. Cinco e meia. Cinco e quarenta. Cinco e cinquenta. Seis horas. Foda-se, já me cansei de esperar, eu vou ligar para ela. O celular toca seis vezes antes de Angel finalmente atender.

— Alô? — ela fala. A sua voz não carrega surpresa, apenas receio. Ela sabia que era eu quem estava ligando.

— Por que você me mandou aquela mensagem? — pergunto rapidamente. O ar já está em falta no meu corpo, eu preciso de respostas!

— Não era nada importante, já mudei de ideia.

Ela acha que pode fazer isso? Pois, está enganada!

— Angel, por favor me fala o que era. — Na minha cabeça eu exigi por uma resposta, mas as minhas palavras foram uma súplica. Ela não é uma idiota, eu sei que percebeu.

— Eu só ia te perguntar se você poderia me levar no aniversário da Ashley amanhã. Eu já chequei com as outras pessoas e aparentemente todo mundo vai estar ocupado com alguma coisa ou alguém. — Ao escutar do que o assunto se tratava me sinto um completo lunático. Que merda de reação foi a minha?
— Mas eu já sei que você não vai me levar, não se preocupa eu não vou te pertubar com isso. — Angel fala por fim com um suspiro. Me pergunto se foi o meu silêncio que a fez chegar a essa conclusão.

— O que te fez pensar isso?

— Bom, você não foi muito legal quando respondeu a minha mensagem. — ela responde quase como um cochicho. Sempre que falo com Angel tenho a impressão de que ela age como se estivesse falando com uma bomba que a qualquer momento pode explodir. Não posso culpá-la, acho que eu realmente agi como se fosse a porra de uma bomba que precisa ser desarmada constantemente. Ela devolveu a vida para o meu corpo e eu não consegui nem responder a merda da sua mensagem de maneira gentil. Me sinto o mais patético dos idiotas.

— Eu te levo na festa. — digo em alto e bom som. É um juramento.

— Sério? — Sua voz é um misto de entusiasmo e ceticismo. O fato de ela não conseguir acreditar em uma simples promessa me dói mais do que deveria.

— Sim, te pego às oito e meia. — confirmo.

— Tudo bem. Oito e meia. — Ela não está conferindo, só está repetindo aleatoriamente. Talvez ela ainda não acredite em mim.

— Oito e meia. — Minha repetição não é nada além de uma desculpa para falar com Angel por mais tempo. Uma parte de mim gosta de pensar que ela está fazendo o mesmo. Estou parecendo um tolo arrebatado, mas não me importo.

— Bom, tchau. — ela demora alguns segundos para se despedir. Tenho vontde de implorar para que fique, mas em vez disso, eu apenas digo:
— Tchau.

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