Ok. Ela poderia começar essa história da forma mais clichê que existe. Mas é que ela não é muito fã de “era uma vez”, então... Bom, na verdade ela não é muito fã de nada que envolva lá muito sentimentalismo, e existe coisa mais sentimental do que “era uma vez”? Você ouve essa frase e já pensa em romantismo, saudosismo... E todos esses “ismos” a faziam correr. Exceto um. O egoísmo. Ah, este sim parecia estar enraizado nela. E seria, talvez, um grande aliado das merdas que ela fez. E olha... como ela fez merda. Fez muita. Demais. Dava para uma vida inteira e mais um pouco de outra.
Mas, como falado lá em cima, a ideia aqui não é condenar ninguém, julgar, apontar erros e acertos. É só contar uma história, e se essa história é construída em cima de erros e acertos... Bom, aí já não se pode fazer muita coisa.
O fato era que lá estava ela. Em seus 25 anos, uma carreira consolidada, muito bem sucedida naquilo que fazia... Fisicamente ainda era a mesma menina de sete anos atrás. E a mesma menina que pulava catracas. Ela adorava pular uma catraca. Fazer o quê? Quando você pula uma e as outras aparecem, isso se tornam meio que um vício.
A mesma silhueta esbelta, o mesmo tom de pele alvo (ela não gostava muito de pegar sol e que se dane o mundo), o mesmo nariz ... Mas o corte de cabelo, este estava diferente. Um pouco mais... sério, pode-se dizer. Mais adulto. Mais mulher talvez fosse a melhor definição. A melhor definição do que ela era... A maquiagem um pouco mais evidente e as roupas... um tanto quanto sérias demais para uma menina que só vestia camisa, calças coladas (e pretas, de preferência)
Não... Hoje ela vestia uma calça colada, mas de uma marca famosa e com o corte feito sob medida. Nos pés, levava uma bota de saltinho que, sozinha, deveria valer o guarda-roupas inteiro de uma pessoa menos abastada. Um terninho preto com as mangas dobradas por cima de uma blusa de tecido fino ligeiramente colada ao corpo. Definitivamente não se tratava mais de uma “marrentinha metida a blackblock”. Se tratava de uma mulher madura, sua figura refletia uma pessoa mais comedida e que prezava pelo diálogo, alguém com quem se podia ter conversas profundas, filosóficas, intelectuais... Não que ela nunca tenha sido isso... Mas agora... Bom, era dona do próprio nariz. As roupas, o jeito de andar, a postura até, refletiam bem isso.
- Eu pensei que você não viria pra casa. Pelos tempos que a reforma aqui acabou... – a mulher de cabelos loiros, usando um terninho branco e um saltinho nos pés, pontuou.
- Eu até pensei em ficar mais tempo no hotel, pelo menos até achar um apartamento.
- Ficar em hotel, Marcela? Pelo amor de Deus! Você tem mãe, tem casa, não precisa de hotel.
- Eu sei disso, dona Jossi. Só não queria incomodar.
- E desde quando ter minha filha em casa é um incômodo, hã?
- Desde quando faz sete anos que ela não vem aqui e agora chega de mala e cuia.
- Para de besteira, vem cá!
A mulher a puxou para um abraço apertado e foi o jeito ela se deixar envolver... Não que não quisesse, pelo contrário. Era sua mãe ali. A pessoa que mais amava no mundo, a que mais admirava, sua inspiração de vida. Suspirou nos braços dela e deixou a cabeça descansar sobre seu colo.
- Eu estava com saudades disso – disse baixinho.
- Eu também, filha. Mas aí a filha desnaturada não lembra que tem mãe! – deu um tapinha de leve no braço de Marcela, que se afastou sorrindo.
- Eu sei que a culpa é minha, mas o fuso horário também não ajuda, né?
- Seis horas adiantadas, Marcela. Seis horas – a mulher seguiu brigando.
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MIL ACASOS
FanfictionSinopse: O que acontece quando o tempo passa? Alguns aproveitam cada segundo, outros repensam o que viveram até ali e há os que simplesmente se arrependem de seus feitos e tentam reverter o ponteiro do relógio e recuperar tudo que lhe foi perdido. S...