Capítulo 6 - O seu lugar é bem longe de mim

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Quando Marcela saiu do hospital, na madrugada, as meninas a levaram para a casa de Bia, onde ela passou o restante da noite e a manhã. Saiu de lá depois de ter comido um lanche reforçado, regado a sermões. Sim, ela ouviu umas poucas e boas e, embora alegasse que teve seus motivos para beber daquele jeito, suas amigas não lhe pouparam.

- Eu posso curtir minha bad em paz?

- Poder pode, o problema é que você não curte a bad em paz. Você faz dela um inferno pra todo mundo! Já pensou se te acontece alguma coisa? A gente não ia saber nem por onde começar a te procurar.

- A Gizelly saberia – Clara soltou do nada, fazendo Marcela levantar a vista.

- Como assim a Gizelly?

- Nada, a Clara que não tá falando coisa com coisa, não é Clara? – Isa lançou para ela um olhar expressivo, fazendo a menina no mesmo minuto entender que havia falado demais.

- Eu acho que confundi os nomes – Clara respondeu, fazendo um esforço sobre humano. É que ela não conseguia mentir, dizer inverdades e omitir informações. Já fez suas amigas passarem poucas e boas por causa disso.

Marcela não deu muita importância e se levantou para pegar a bolsa. Embora já estivesse melhor, ainda sentia a cabeça ligeiramente pesada. Se despediu das meninas, agradeceu imensamente cada uma delas e seguiu para a casa de sua mãe. E foi recebida da pior forma possível por Jossi.

A mulher lia uma revista concentradíssima quando Marcela passou pela porta. O olhar que sua mãe lhe lançou a fez se encolher.

- Está viva – disse em um tom impassível – Pensei que ia ter que chamar a polícia, o corpo de bombeiros, o exército para poder te achar.

- Eu... – Marcela retorceu os dedos, não sabia como começar – Eu tive um probleminha aí.

- Marcela, minha filha, eu não acredito que está tudo se repetindo outra vez! Sete anos depois e os mesmos erros! Sim, porque com certeza você fez alguma coisa, porque ninguém some assim do nada. Eu liguei pra Bia, ela disse que você tinha ido comprar uma pizza e havia esquecido o celular. Liguei depois e ela disse que você tinha ido dormir. Você sabe quantas vezes eu te liguei? Umas vinte!

- Desculpa... Eu... – clareou a garganta – Eu passei mal e...

- Passou mal? – a expressão de Jossi mudou para visível preocupação – O que foi que aconteceu, Marcela? Você está machucada, te fizeram alguma coisa?

- Não, mãe... Eu estou bem. Agora estou bem – Marcela jogou a bolsa no sofá – Eu só... bebi além da conta e...

- De novo? Olha aí! Não estou falando?

- Eu posso continuar? – Marcela já estava perdendo a paciência. Jossi se calou – Eu tive meus motivos.

- Você sempre vai ter um motivo, Marcela. Por mais pequeno que ele seja, você sempre vai descambar pra esse lado.

- Dessa vez ele não foi pequeno, eu garanto – ela disse e só aí Jossi percebeu melhor a aparência abatida e derrotada da filha.

- O que aconteceu? Você não me parece tão bem assim.

E e Marcela contou tudo a Jossi. A ida ao salão, o encontro inesperado com Gizelly e depois com o marido dela e as coisas que ele falou. Sua mãe fez uma careta quando ela falou o que havia ouvido de Henrique.

- Eu não acredito que ele disse isso – Jossi soltou – Olha, do que eu conheço do Henrique, foi uma atitude bem inesperada, eu diria. O que deu nele?

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