Capítulo 40 - O respiro em meio ao caos

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Notas do Autor

O capítulo de hoje está fofo. E sobre ele: lei do retorno.

Boa leitura!
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- Mamãe... – a vozinha tirou Gizelly daquele torpor momentâneo em que havia entrado. Virou o rosto para a filha sentadinha ao seu lado na fila de cadeiras da recepção do hospital – A tia Marcela ainda vai demorar muito a acordar? Estou com saudades?

Aquilo cortou o coração da empresária em proporções absurdas. E ela adoraria ter as respostas, mas naquele momento, também estava atrás delas. Não tinha mesmo o que dizer. A indefinição estava lhe matando, talvez literalmente. Cansada, abatida, praticamente dormia e acordava naquele hospital. Suas costas já estavam mais que em frangalhos de ficar toda torta naquelas cadeiras, ia para casa só e somente só para tomar banho, trocar de roupa e retornar para o hospital imediatamente. Queria estar ali se alguém desse notícias, queria estar por perto caso Marcela precisasse dela. E queria que ela precisasse, porque se isso acontecesse, era sinal de que estava tudo bem.

Já fazia três dias naquela agonia. O médico teve que mantê-la em coma induzido por mais tempo do que calculo para ver se a medicação fazia efeito. Química forte para reduzir o suor e a temperatura do corpo. Resultou em uma arritmia e um corre-corre frenéticos pelos corredores do hospital. Gizelly quase agrediu uma enfermeira para poder ver a namorada, mas a mulher foi tão forte e decisiva quanto ela: daquela porta, ninguém passava. E ela externou seu desespero nos braços de Mariana, sendo amparada pelas meninas e por Josi.

As preces e súplicas já tinham se esgotado, o fio de esperança parecia cada vez mais despedaçado e fino, quase um fiapo. Se agarrou a Luisa e nunca pensou que um serzinho daquele tamanho pudesse lhe dar tanta força. Completamente destruída: era bem essa sua definição. Se voltou contra os céus, esbravejou com quem quer que estivesse lá em cima tentando entender o porquê daquilo. Marcela merecia? Ela? Alguém merecia passar por aquilo? Qual o propósito? Testar sua fé ou sua capacidade de se manter firme? Provar para ela que ninguém é merda nenhuma debaixo do céu? Que nós, seres humanos, somo a personificação da fragilidade? Ela estava frágil, tanto quanto uma folha de papel que se for molhada, se dissolve inteira.

Chorar? Nem tinha mais o quê. Já desidratara do tanto de lágrima que deixou correr. Todo dia de manhã alguém lhe enfiava um calmante goela abaixo, porque só dopada para conseguir suportar a dor da incerteza. Naquela manhã, tinha sido o mesmo ritual de sempre: acordou ali, lavou o rosto e passou uma água com pasta na boca no banheiro, retornou para a recepção e lá se prostrou de novo, dessa vez agarrada com as meninas. Mari havia levado uns bolinhos de alguma coisa que ela não quis nem saber o que era. Por mais apetitosos que estivessem, nada descia.

Clara, em um gesto surpreendente, a abraçou e permitiu que ela descansasse a cabeça em seu ombro. Davi e Enzo ali sempre por perto, Bia tentando segurar as lágrimas que ainda tinha e Isa ereta feito um dois de paus, a expressão impassível, como se estivesse meio fora de órbita. Qualquer lugar, na verdade, era melhor do que aquele ali, do que aquela situação.

Foram chamadas de volta à realidade quando um médico irrompeu pela porta do corredor que levava à UTI. Gizelly saiu atropelando todo mundo, Josi tinha acabado de chegar ao hospital. Luisa passou entre as pernas. Foi ela quem assumiu a palavra.

- Moço, a tia Marcela acordou? – Gizelly mordeu o lábio e se virou, voltando a derramar as lágrimas que ela nem sabia mais que tinha. Passou a mão pelos cabelos em desespero. Se aquele homem não tivesse uma boa notícia para dar, ela daria por encerrada sua prova de resistência e entregaria os pontos.

- Você, quem é? – o homem se agachou para ficar da altura dela.

- Meu nome é Luisa. Eu sou amiga da tia Marcela. A mamãe e ela são namoradas – a menina explicou bem explicadinho – Ela vai ficar boa logo? Eu estou com saudades.

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