Notas do Autor
Bom, queria esclarecer que o capítulo de hoje é um esclarecimento sobre a história geral da fic. Por que "Criando laços"? Porque muitas relações vão ser explicadas aqui e outras mais se criarão.
Sobre capitulo de hoje: o que está ruim sempre pode piorar.
Obs: partes em itálico são flashbacks.
************************************Nesse mundo maluco e frenético em que a gente vive, muitas vezes é preciso se desligar um pouco ou você pode acabar entrando em colapso. Tem gente que viaja, se isola “no meio do mato”, que estoura os tímpanos ouvindo música para se abster da barulheira do ambiente... Tem gente que extravasa na luta, que sai correndo por aí para descarregar a adrenalina. Sempre as pessoas procuram fazer algo que as façam sentir bem, reconectadas consigo mesmas, renovadas.
Natália sempre adorou fazer compras. Lembrava-se de pequena, quando sua mãe a levava ao shopping para lhe acompanhar no salão de beleza. Ela passava horas admirando o trabalho das profissionais dando aquele tapa na autoestima daquelas mulheres, se perdia entre vitrines, roupas, calçados, acessórios. Se sentia em casa no meio do templo do consumismo.
Veio de uma família abastada, diga-se de passagem. Seu pai, John Becker, era consultor de uma multinacional americana aqui no Brasil e sua mãe, Soraya, era enfermeira, mas largou a profissão para seguir o marido. Vivia em função dele, do que ele fazia, do que ele lhe proporcionava. Aquilo no começo era lindo, até ele começar a jogar certas coisas na cara da mulher.
Frases como “só tem porque eu te dou” e “não reclama porque é o meu dinheiro que paga suas mordomias” foram se tornando corriqueiras em casa com o tempo, e tudo aos ouvidos atentos de uma Natália pequena, loirinha, os olhos azuis expressivos, que sempre se agarrava à saia da mãe. Não demorou muito até ver o casamento de seus pais desmoronar. Ele com uma amante, teve outra família, uma com quem Natália jamais teve contato e nem fazia questão. Sua mãe, por sua vez, tendo largado a carreira para viver em função do agora ex-marido, se viu sem perspectivas. Se entregou ao vício. E ela assistiu de perto ao seu definhar.
Não mais idas ao shopping, tardes eternas no salão, entre vitrines e vestidos e roupas de marca. A Natália de dezoito anos de idade ia ao bar procurar por Soraya e muitas vezes o estado em que a encontrava não era nem digno de ser descrito. Fazia pena. Do shopping, seu refúgio passou a ser os livros e os estudos. Vendo a mãe naquela situação, vendo o pai lhe virar as costas como se ela lhe fosse uma completa estranha, entendeu que ninguém faria por ela a não ser ela mesma.
Estava no segundo ano do Ensino Médio quando perdeu Soraya para uma cirrose hepática. Já era esperado, disse-lhe o médico à época. Não conseguiu sentir muita coisa, exceto que ok, tinha sido deixada mais uma vez. Não entendia o que havia feito de errado para que a vida lhe fosse tão injusta: seu pai, que sempre foi um exemplo de integridade e moral, deixou a mãe por um “caso”, abandonou a mulher que dedicou a vida a ele. Lhe abandonou. Depois foi a vez da sua mãe. Natália se sentia insuficiente para ela, vendo-a se acabar dia após dia sem levar em conta que tinha uma filha ali que ainda precisava dela.
Em sua cabeça a única coisa que se firmou daquilo tudo foi: ninguém está nem aí para ninguém. Não se apegue nem jure amor, porque as pessoas, elas procuram aquilo que lhes é cômodo: o dinheiro, a satisfação, a segurança. E se não aguentam a barra, elas se deixam sucumbir sem nem tentar lutar como se não valessem à pena ou como se aqueles a quem um dia juraram amar, não valessem à pena. Natália sentia isso: que não valeu à pena para seu pai e que não valia à pena para sua mãe.
Mas uma coisa era seu maior orgulho: tinha uma inteligência absurda, uma capacidade de aprender e de pegar as coisas no ar com uma facilidade impressionante. Entrou na melhor faculdade de São Paulo com bolsa e viu ali uma realidade que um dia lhe foi conhecida mas que, naquele momento, lhe parecia algo distante como uma coisa de outro mundo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
MIL ACASOS
FanfictionSinopse: O que acontece quando o tempo passa? Alguns aproveitam cada segundo, outros repensam o que viveram até ali e há os que simplesmente se arrependem de seus feitos e tentam reverter o ponteiro do relógio e recuperar tudo que lhe foi perdido. S...