Capítulo 53 - Completude

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Notas do Autor


Capítulo de hoje: Marcela, eu quero te matar.

Boa leitura!
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O que te faz entrar em estado de elevação? Tem gente que consegue isso ouvindo música. Tem gente que recorre a químicos. Tem gente que se coloca no limite do próprio corpo, que sente na aventura, no risco, a plenitude na alma. E tem gente que consegue se elevar com coisas mais simples como... um bate-papo animado entre a esposa e seu filho que sequer nasceu ainda. Relaxamento, conforto e Marcela.

- ... e aí, mini Mozinho, eu vou te ensinar um monte de coisa. Vou te ensinar a andar de bicicleta, vou te ensinar a desenhar, a pular catraca....

E há momentos em que a realidade é dura demais para que você consiga se manter elevado.

- Pular catraca, Marcela? - Gizelly ralhou interrompendo aquela conversa dela com sua barriga - Nenhum filho meu vai pular catraca.

- Gizelly, pular catraca é um ato político. É uma forma de você mostrar que não existe opressão que nos cala, de você se fazer ser visto e ouvido pelo mundo.

- E nosso filho não pode ser visto e ouvido pelo mundo sei lá... compondo uma música ou fazendo um show? Dando uma entrevista na TV? Tem que ser pulando catraca. Ele vai ser é preso, isso sim.

- Tudo bem, Donatello, a mamãe só não entende a essência da coisa, mas ela vai concordar com a gente depois.

- Donatello? - Gizelly repetiu se ajeitando na cama e quase chutando Marcela de cima dela. A mulher tinha o rosto na altura de seu ventre - E quem disse que nosso filho vai se chamar Donatello, Marcela?

- Qual o problema? - a Mc Gowan se ajeitou na cama parecendo um tanto decepcionada - Donatello é um escultor renascentista dos mais influentes.

- Donatello também é o nome de uma Tartaruga Ninja! - os hormônios, eles já estavam fervilhando e Marcela, ela parecia lhe testar - Vai querer também o Michelangelo? O Rafael e o Leonardo?

- Se você quiser... eu não reclamaria. Inclusive a gente pode ir começando a treinar, né? - Marcela veio toda faceira para cima da mulher, mas se enganou se pensou que conseguiria algo. Ou melhor, conseguiu sim. Só não foi o que queria.

- Continua chamando meu filho de Tartaruga Ninja pra você ver o treino que a gente vai fazer - e sem aviso, Gizelly se levantou da cama para ir ver Luisa. A menina estava demorando demais no banho e daqui a pouco esvaziaria a caixa d'água do prédio. Com o movimento que ela fez, Marcela literalmente caiu de cara no colchão. E o fez resmungando frustrada.

No quarto do outro lado do corredor, a mulher nem precisou bater à porta da filha. Luisa apareceu de cabelinhos úmidos e um livrinho de histórias infantis nas mãos. Gizelly só conseguiu olhar para os cachinhos dela pesados com a água e completamente ensopados.

- Luisa... filha, eu não falei que não era pra molhar o cabelo? O tempo está frio, assim você vai pegar um resfriado, meu amor... - choramingou, entrando no quarto para pegar uma toalha e enxugar os cabelinhos da menina direito.

- Mas o chuveiro é grande, mamãe - Luisa se justificou como pôde.

- Vem comigo - Gizelly passou por ela de toalha na mão. Entraram no quarto para encontrar Marcela esparramada sobre a cama, rindo feito uma completa idiota encarando o teto - Que cara é essa?

- Nada, só estou feliz - e parecendo uma completa bocó, Gizelly quis acrescentar. Mas nem julgou não. Ela estava tão bocó quanto ela, só conseguia dosar mais e tinha outras preocupações no momento, como a filha de cabelos molhados pingando e ensopando a camisa do pijama.

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