Capítulo 2 - Seu nariz é Lindo

1K 91 214
                                    


- Tudo sim, só um pequeno contratempo com uma hóspede no Tryp, mas já foi resolvido.

- Que hóspede? Alguém importante?

Gizelly parou e pensou um pouco, por uma fração de segundo. Era alguém importante?

- Não. Ninguém importante. Vou lá ver a Luisa – deixou mais um beijo rápido nos lábios do marido e rumou corredor a dentro para ver o que a filha estava aprontando. Ela estava silenciosa demais... e Luisa e silêncio definitivamente eram duas coisas que não combinavam.

- Traz uma água pra ela. Rápido!

- Gente, ela está ficando roxa.

- Eu diria que ela está branca. Mais do que de costume.

- Ela está hiperventilando. Tira o terninho dela, anda!

Inspirar. Expirar. Inspirar. Expirar. Era mais que um movimento involuntário do organismo. Era uma ação de sobrevivência. E, Deus, nunca havia sido tão difícil assim respirar. Parece que o ar estava rarefeito, as coisas começavam a girar, o peito apertava... calafrios... Sintomas já conhecidos de Marcela Mc Gowan.

- Ela está tendo uma crise de ansiedade – Mariana foi concisa e a única a falar algo que realmente fizesse sentido.

- E a gente faz o quê? – Bia se desesperou.

- Eu ouvi dizer que dar um tapa resolve – Mari.

- Eu não vou bater na Marcela – Isa foi condescendente. Graças a Deus.

- Ninguém vai bater em ninguém. Saiam de cima dela! – clara alterou a voz e as meninas lhe deram espaço. Sem fazer muito contato, ela pegou a mão de Marcela, que ainda respirava com dificuldade – Marcela, eu quero que você respire bem lentamente, sinta o ar entrando em seus pulmões e solte bem devagar também. Está me ouvindo?

Marcela fez que sim com a cabeça, e ao contar de três de Clara, ela respirou fundo, com uma dificuldade absurda. Quase o ar não passa por seus pulmões. Segurou a respiração por cinco segundos e soltou bem devagar. Repetiu o movimento mais umas cinco vezes até, finalmente, conseguir começar a normalizar as batidas de seu coração.

Quatro pares de olhos lhe fitavam ansiosos e sem nem perceberem, também estava respirando fundo junto com ela. O aperto da mão de Marcela na de Clara afrouxou. Sinal de que ela estava melhorando.

- Você tem ansiedade, Marcela? – Isa perguntou.

- Desenvolvi na faculdade – respondeu, tomando um gole da água que Mari lhe oferecia.

- Nossa. E você não faz acompanhamento? – Mari.

- Fiz – bebeu mais um gole – Mas parei desde que voltei. Tenho que ir atrás de um psicólogo, sei lá.

- Com urgência – Bia afirmou.

Marcela respirou fundo, bebeu o restante da água e se recostou à poltrona. O silêncio que se seguiu era um prenúncio do óbvio. Ela não se furtaria à pergunta.

- A Gizelly casou?

As meninas se entreolharam, como que escolhendo entre si que falaria primeiro. Mari tomou a palavra.

- Casou, Marcela. Dois anos depois que você... que vocês terminaram.

- Dois anos depois que eu fui embora. Pode falar, Mari – engoliu em seco, deu uma fungada, virou o rosto para cima no encosto da poltrona e fechou os olhos.

MIL ACASOSOnde histórias criam vida. Descubra agora