Capítulo 36 - Respostas

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- Será que nós podemos por favor sentar e jantar? Eu realmente estou com fome e o peixe está esfriando.

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Marcela respirou fundo, mas agiu mais movida pela curiosidade que por outra coisa. Marcos mencionou o pai de Henrique e pelo tom que usou, devia saber de algum detalhe que ela teria deixado escapar. Se pegou lembrando o que ouviu de Gizelly na noite anterior: de que seu pai dificilmente a procuraria se não tivesse algo de útil a acrescentar. Se dirigiu à mesa de jantar em silêncio e ocupou a cadeira diante dele. Repetiu cem vezes a si mesma que só estava fazendo aquilo porque talvez tivesse respostas, e não exatamente por tentar dar um voto de confiança a Marcos.

- Eu encomendei naquele restaurante que eu sei que você adora.

- Com que dinheiro, eu posso saber? Não me diz que fui convidada e ainda vou ter que pagar a conta.

Marcos suspirou parecendo cansado.

- Eu tenho minhas economias, Marcela. Uma poupancinha que fiz com o que recebia pelo trabalho na cadeia.

- Você trabalhava lá? – até quis fingir desinteresse, mas nem conseguiu.

- Trabalhava sim. Eu ajudava a encadernar as apostilas das escolas públicas do município e também auxiliava na cozinha.

- Sério? – ela se pegou interessada naquilo – Marcos Mc Gowan pegando no pesado.

- E lavando muita louça – ele brincou e Marcela estacou observando a expressão dele. Não viu peso nem nada, pelo contrário. Havia uma certa leveza que lhe causou uma estranheza absurda. Pigarreou e voltou a atenção para seu jantar.

- Mas me fala de você. Eu não tenho nada de mais pra contar, mas você... seis anos, hum? Seis anos que eu não sabia notícias suas, só o que a Mariana me dizia. E ela não falava muito de você.

- Eu pedi pra ela não falar – ela externou e Marcos engoliu em seco – Do mesmo jeito que não queria saber de você, não queria que você soubesse de mim.

- Eu te entendo – ele admitiu – E não vu te julgar por isso. Talvez eu mereça mesmo todo esse ódio e ressentimento.

- Talvez não, com certeza merece – pontuou fria – Mas a gente não vai ficar de papinho fingindo que é jantarzinho em família. O que você tem pra falar? Desembucha logo que eu quero voltar pra casa. A gigi e a Lu estão me esperando.

Marcos acabou sorrindo, as rugas em seus olhos se acentuando.

- Eu acho até bonito o jeito como você fala delas. Parece família.

- Elas são minha família agora – Marcela de novo foi firme e cortante – E a Luisa tem um pai que é um escroto, eu só estou tentando fazer meu papel como namorada da mãe dela e evitar que ela sofra por causa das merdas daquele canalha. A Lu não merece ter uma relação paterna tão insalubre quanto é a minha.

- A gente pode dar um jeito nisso, Marcela, é só você se abrir.

- Eu quero ouvir o que você tem a falar sobre o Henrique e o pai dele. Dá pra ser ou está difícil? – ela cortou de novo – E de preferência que seja alguma coisa útil. Aquele canalha quis me matar e acabou acertando na Mariana. Aliás, isso me lembra que eu ainda vou ter um acerto de contas pessoalmente com ele.

- Não faz isso, Marcela... você não sabe onde está se metendo nem com quem – Marcos tentou alertar.

- O Henrique é um burro, Marcos – ela externou, levando um pedaço do peixe à boca. Estava uma delícia, mas tão gostoso que ela por pouco não gemeu em deleite. Mas claro que não daria aquele gostinho a seu pai. Nem pensar – Tão burro que tentou mirar em mim e acertou em uma pessoa que não tem nada a ver.

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