MIL ACASOS

Capítulo 35 - Burocracia

Notas do Autor

Sobre o capítulo de hoje, eu queria dizer que ele talvez não tenha tanta tensão quanto o anterior, mas ainda assim sua carga de drama, porque não vivemos sem drama nesta fic.
Sobre o que vocês vão ler hoje: direto ao ponto.
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- Tia Marcela, eu gosto de azul. A gente pode pintar de azul? - Luisa estava deitada na cama entre Gizelly e Marcela, as perninhas cruzadas, o pezinho balançado lá no alto, envolta em um pijaminha com desenhos de nuvenzinhas. Nas mãos, ela tinha um livrinho de desenho que a Mc Gowan havia dado e ali do lado um estojo de coleções, presente de sua mãe.

- Você quer pintar o chão de azul? - Marcela perguntou, fazendo um carinho nos cachinhos dela.

- Pode pintar?

- Claro que pode - Marcela tinha a voz mansa - Na sua arte quem manda é você. O chão pode ser da cor do céu, o céu pode ser da cor chão...

- Qualquer coisa, é só virar o desenho de cabeça pra baixo e dizer que o bonequinho está flutuando - Gizelly brincou e arrancou uma risadinha gostosa de Luisa.

- Eu vou pintar o chão de azul e o céu de... vermelho.

- Um céu poente - Marcela disse, se esticando para pegar o lápis vermelho e passando para ela - Manda ver.

E então ela começou a preencher o desenho que Marcela havia feito com as cores que queria e bem entendia. O bonequinho, que ela apelidou de Dumbo, terminou com o boné roxo, a calça verde, a camisa preta, um braço amarelo e o outro cor de rosa. O sol no céu ficou lilás, o céu mesmo acabou vermelho como ela disse, e o chão azul. As nuvens, cada uma de uma cor também. Era muita informação em uma folha de papel, mas aos olhos de Marcela, ficou a obra mais linda do mundo.

Gizelly foi que se pegou observando aquela cena dela com os olhos grudados nos movimentos de sua cria no papel. Havia um brilho lindo nas íris acastanhadas de Marcela, algo entre orgulho e devoção. Algo que aqueceu o coração da empresária e a fez iniciar um carinho gostoso no braço dela, chamando-a a atenção. Marcela virou o rosto para olhá-la.

- Te amo - sussurrou baixinho como se fosse um segredo.

Marcela riu grande, porque nem tinha como ser diferente.

- Também te amo - e inclinou-se levemente para tocar-lhe os lábios.

Alguns bons minutos depois, Luisa se viu bocejando repetidamente, o que sinalizava cama. Provavelmente não aquela ali. Não aquela noite ali, pelo menos. Tinham duas adultas naquele recinto que precisavam conversar e o assunto era sério e complexo demais para o entendimento de um serzinho de cinco anos apenas.

- Tia Marcela, me leva? - Luisa estendeu os bracinhos para ela um tanto manhosa. Pega de surpresa, Marcela relanceou Gizelly e recebeu um sorriso e leve acenar de cabeça incentivando-a a ir em frente. Se pôs de pé, pegou Luisa no colo e ela a envolveu pelos braços no pescoço. A menina balbuciou um "tô com soninho" bem sonolento mesmo e suspirou, entregando-se à inconsciência. Gizelly as seguiu só para abrir a porta do quarto e Marcela depositar Luisa cuidadosamente sobre a cama enquanto ela ligava o ar e fechava a cortina. Foi a Mc Gowan quem puxou as cobertas e a agasalhou.

- Boa noite, meu amor - sussurrou baixinho e deixou um beijinho na cabecinha de Luisa, que se remexeu de leve, se aninhando mais. Gizelly a envolveu por trás pela cintura, descansando o rosto sobre o ombro dela. Juntas, se puseram a observar aquele meio metro de gente ressonando - Ela é você todinha, Gigi - Marcela sussurrou com um sorriso bobo nos lábios.

- Meu coração batendo fora do peito - a Bicalho proferiu com o queixo apoiado nela.

- O coraçãozinho mais lindo desse mundo - e virou o rosto para olhar para Gizelly.