Capítulo 25 - Entendendo o recado

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Gizelly não sabe dizer nem como que foi que chegou àquele restaurante sem ter enfiado o próprio carro na traseira de algum outro ou sem ter avançado algum sinal sem querer. Estava desatenta, presente em corpo, mas a mente bem longe dali. O jeito como Marcela saiu do carro e se afastou correndo como se quisesse estar em qualquer lugar menos ao lado dela lhe causava sensações nada agradáveis. Não era risível, não era sem importância, pelo contrário: era dolorido, isso sim.

Mas por outro lado, ela, Gizelly, não lhe devia nada, certo? Explicações? Justificativas? Não senhor, elas haviam se beijado o quê? Umas três vezes? Situações extremas que ela, Bicalho, não sabia muito bem explicar, mas que acabaram desembocando em contato corporal indesejado.

Ou não tão indesejado assim.

Droga, Gizelly beijou Marcela porque quis! Na casa dela, naquele bendito closet, foi porque ela quis! Nas outras situações, pode ter sido que não, mas lá com certeza sim. E também beijou Renata porque quis. Quer dizer... ela veio para cima, na verdade Gizelly não esboçara reação e se deixara levar... Mas quis também. No meio do gesto, acabou gostando e... bom. Se sentia bem com ela.

Mensagens trocadas, conversas que não pareciam ter fim... e o olhar de Marcela para a tela do seu celular com aquela mensagem de Renata. O olhar de Marcela sobre si. Um olhar que Gizelly classificaria como perdido. Perdido, ligeiramente indefeso. E isso que lhe machucou mais: não havia questionamento nos olhos de Marcela quando a encarou antes de descer do carro daquele jeito. Não era como se ela estivesse querendo saber o que era aquilo e tomar satisfações. Era só um... se sentir fora do lugar. Lugar errado, hora errada.

Deus, esperava mesmo que ela tivesse tomado o caminho de casa. Esperava com todas suas forças que ela não tivesse ficado por ali, cercando Natália. Foi no medo de Marcela ir bater no prédio dela (e Gizelly a conhecia o suficiente para saber que ela poderia fazer isso sem nem pestanejar), que pegou o celular e ligou para ela. Chamou cinco vezes e foi para a caixa postal. Levou uma buzinada do carro detrás para se pôr em movimento. Ligou de novo: nada. Por fim deu “número indisponível para receber chamadas”. Ah, que ótimo!

(...)

Clara cumpriu bem sua promessa de levar chocolate para ela. Chegou com duas sacolas abarrotadas de embalagens e mais embalagens de besteiras e comidinhas nada saudáveis. Marcela agradeceu com um sorriso (o melhor que conseguiu botar na cara) e estendeu o mindinho para ela que o segurou.

- O chocolate produz endorfina no nosso corpo, Marcela. É o hormônio do relaxamento.

- obrigada, Clara. Você é demais – Marcela ia abrir uma embalagem com o dente, mas foi impedida por um tapinha de Mari no braço que a fez derrubar a barrinha.

- Besteira depois. O almoço está pronto – revirando os olhos, Marcela se deixou ser levada até a mesa – Toni, filho, hoje excepcionalmente eu vou te deixar comer na sala. Mas não faz sujeira e vê se come tudo!

- Tá bom, mãe, valeu! – o menino passou zunindo por elas com o prato em mãos.

Marcela praticamente se jogou na cadeira, nem tinha tanta fome assim. Nem a lasanha de Mari, que era a oitava maravilha do mundo, lhe abriu o apetite.

- Vai ficar só olhando, patricinha? – Isa provocou.

- Sem fome – Marcela resumiu.

- A coisa foi séria mesmo, hein? – Bia.

- Vocês nem imaginam – Marcela ironizou, mas recebeu o prato que Mari lhe passava. Lotado de comida.

- Que foi Marcela? – Bia estendeu a mão e segurou na dela. Aquele gesto significava tanto....

MIL ACASOSOnde histórias criam vida. Descubra agora