Capítulo 47 - Cinco dias com ela

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Notas do Autor

Capitulo de hoje: diário de bordo.

Boa leitura!

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- Perdão? – a mulher se virou para Marcela – Mãe de aluno? Você tem filhos estudando aqui?

- Sim. Luisa Bicalho A senhora conhece?

- Eu exijo silêncio! – Paulo praticamente teve que gritar para ser ouvido. Mariana já estava quase soltando fumaça pelos ouvidos de tanta exaustão e Marcela se limitava a rabiscar um desenho aleatório em seu bloquinho, enquanto Gizelly observava aquilo visivelmente entediada. Aquela pessoas não tinham mais o que fazer não? – Será que nós podemos conversar como pessoas civilizadas? Dona Luana, eu realmente ainda não entendi seus argumentos. Que perigo que a Luisa representa para seus filhos quando ela não cometeu crime nenhum? Que eu saiba quem foi preso foi o avô dela, não ela.

- Vocês não se preocupam com a imagem da escola?

- Nos preocupamos sim, dona Luana. Tanto que estamos aqui falando em nome da educação e zelando para que uma criança não perca o direito a ter um ensino de qualidade só por causa de achismos dos outros! – o coordenador estava para perder as estribeiras. Paulo tirou os óculos e massageou os olhos.

- O Conselho de Pais deliberou e pediu pela saída da Luisa desta escola. É a nossa palavra – a mulher estava irredutível e Gizelly só acumulando ódio. Marcela sabia que ela estava, mas nem se esforçou muito para contê-la não. Eles mereciam o rompante dela. E sua noiva já estava à gota d’água.

- E a palavra da diretoria é que ninguém vai ser transferido ou convidado a se retirar esta escola, dona Luana – Mariana foi curta e grossa – Eu sinto muito, mas isso não tem o menor cabimento.

- Isso é inadmissível! – a mulher protestou – Nós não queremos nossos filhos estudando com más influência.

E a gota d’água, ela sempre vem.

- Já chega – Gizelly se levantou e tomou o lugar de Paulo – Vocês têm ideia do que estão fazendo? Que estão insultando a minha filha na minha cara? Uma criança de cinco anos que nem se defender direito sabe? Falando dela como se a Luisa não tivesse ninguém para protege-la e como se ela fosse corromper os filhos de vocês a sair por aí roubando e matando? – ela tinha a respiração acelerada – Más influências são vocês e pros filhos de vocês! Gente que julga, que condena, que aponta sem o menor senso. Que não se preocupa em ouvir e liga demais para as aparências pra esconder a podridão que são! – a tal Luana se encolheu – Ou vocês acham que ninguém aqui sabe o que está por trás? Vocês apontam pra minha filha pra não terem que lidar com o lamaçal que é a vida de vocês.

- Como? – a mulher sorriu e ajeitou a postura – O que você está insinuando, minha querida?

- Que a senhora é frustrada e quer descontar isso nos outros? – Gizelly provocou. Marcela ergueu o olhar para ela – Que tem uma vida tão vazia que precisa implicar com uma criança pra poder ter alguma coisa que fazer?

- Gizelly... – Mariana tentou interferir. Deu errado.

- Espera, Mariana, que se eles falaram, agora vão ter que me ouvir – respirou fundo – A Luisa é filha de um criminoso? Sim. O avô dela está preso? Está. Mas a mãe dela está aqui diante de vocês pronta pra protege-la de qualquer ataque por mínimo que ele seja. Porque é comigo que a Luisa vive, sou eu quem a cria, sou eu quem dá amor, carinho, atenção, sou eu quem ensino o que é certo e o que é errado. Sou eu que pego e deixo nessa escola todo santo dia, sou eu que levo e trago da aula de música, sou eu que acompanho nas tarefas, sou eu que enlouqueço quando ela adoece, que está ali quando ela precisa de colo. É a mim que ela tira do sério quando faz traquinagem, porque eu estou sempre ali. Sou. Eu. Que. Estou. Sempre. Ali. E chamar minha filha de má influência e filha de bandido, eu não vou permitir, sabe por quê? Porque isso é um ataque a mim também enquanto pessoa e enquanto mãe – Gizelly tinha a respiração curta e acelerada – O pai dela é um bandido? E daí? Eu não sou. O avô dela está preso? E daí? Eu estou aqui gozando da minha liberdade e dando o apoio que ela precisa nesse momento, porque caso vocês não tenham pensado nisso, minha filha também sofre. A Luisa também sofre por não saber do pai que está fugindo feito um rato de esgoto. Ela sofre por saber que o avô está trancafiado numa cela porque fez coisa errada. Mas mais importante: ela aprende muito com isso. Aprende a não ser como eles, a não ir pelo mesmo caminho e a ser alguém melhor. Ao contrário dos filhos de vocês, que se forem a cópia dos pais, coitados. De vocês eu tenho pena. Da minha filha, eu tenho o maior orgulho. E se isso incomoda vocês, problema – ela deu de ombros – A Luisa não vai sair do Cruzeiro, porque vocês acham ruim. Se quiserem, saiam vocês.

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