Capítulo 7 - Existiu amor algum dia?

961 87 170
                                    


- Isa – Gizelly chamou, visivelmente séria e firme – Eu acho que já tem professor demais aqui. Nós não precisamos de mais ninguém. Pode ir, Marcela, eu agradeço seu interesse e disposição, mas não tem espaço pra você no projeto.

Marcela tentou processar as palavras de Gizelly, tentando achar algum sentido nelas. Isa lhe chamou ali porque sugeriu que ela poderia participar do MP3 e agora Gizelly lhe dizia o contrário? E a Bicalho era o quê? A dona do projeto?

- Como assim não tem espaço? – Marcela perguntou – Eu só preciso de uma sala. O material todo pode deixar que eu trago.

- Marcela, não insiste. A gente já tem professor de artes, não precisa de mais ninguém – Gizelly rebateu, agora encarando a Mc Gowan de frente com firmeza e altivez – Não tem porque você se juntar ao projeto, porque a gente não precisa de mais ninguém.

- Aí que você se engana, Gizelly – Marcela também foi firme, como se a enfrentasse – Projeto social funciona na lógica do “quanto mais gente pra ajudar, melhor”. Eu posso ajudar a expandir as aulas de arte, trocar ideias com os alunos, aumentar as turmas...

- Ó, isso aí é uma boa – Enzo se meteu.

- Cala a boca, Enzo – Gizelly o cortou sem nem desviar o olhar de Marcela e o rapaz ficou em silêncio – As aulas de arte estão boas do jeito que estão.

- Gizelly – foi a vez de Isa intervir – Eu acho que se a Marcela quer ajudar, não tem porque a gente recusar. Ela é artista plástica de renome internacional e isso agregaria muito pro projeto.

- Você também é programadora de renome internacional, Isa. Se for só por isso, nossa cota de profissionais internacionalmente reconhecidos já está preenchida.

- Vem cá, Gizelly – Marcela se empertigou – Qual o seu problema? Eu estou tentando somar numa iniciativa bacana e não entendo esse seu piti. Eu posso acrescentar muita coisa no projeto de vocês e eu quero ajudar. Deixa de birra.

Birra? Ah, agora Gizelly estava com birra? E que tom foi aquele que Marcela usou para se dirigir a ela? Não admitiria aquele afronte, não quando estava em seu território.

- Eu não dou três meses pra você desistir da gente e dizer que precisa focar em outra coisa. Não é isso que você costuma fazer? Começar as coisas e depois largar sem uma explicação plausível sequer? – uma facada teria doído menos. Marcela engoliu em seco o  olhar penetrante da Bicalho e se pensou que ela tinha terminado, estava enganada – Eu não quero você aqui se não for sério. Esse projeto não é brincadeira, pra você começar e depois largar na mão. E convenhamos que manter compromisso não é muito sua praia.

- Au! – Enzo soltou – Gigi foi sem dó, hein?

- Para, Enzo! – Isa falou, vendo a tensão quase palpável entre Marcela e Gizelly. Até ela já estava tensa.

- Se eu vim até aqui, é porque eu realmente estou interessada, Gizelly. Você sabe que eu sou a favor de causas sociais, não distorce as coisas e nem vem colocar questões pessoais no meio.

Tinha virado lavação de roupa suja. No meio da quadra do MP3. Na frente de Isa e Enzo. Péssima escolha de cenário e de figurantes. Aliás, não deveria nem ter figurantes numa situação daquela, tinha que ser só elas duas. Mas Enzo parecia interessadíssimo em ver de quem partiria a próxima farpa. E Isa... Bom, era bom ter alguém ali para ajudar a separar caso Marcela e Gizelly se engalfinhassem.

- Não é questão pessoal, Marcela. Só estou falando o que todo mundo aqui sabe. Que você não tem compromisso com nada, que não cuida direito nem de você, imagine de uma turma inteira, que não se importa com mais ninguém além de você – apontou o dedo para ela – E esse seu trabalho estúpido.

MIL ACASOSOnde histórias criam vida. Descubra agora