Capítulo 8 - Lei de Murphy

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Já diz a lei de Murphy: tudo que está ruim sempre pode piorar. Para Marcela, a cota de “coisas ruins” e desastres de seu dia já tinha sido atingida antes mesmo das oito horas da manhã. Acordara atrasada para uma reunião importante no cruzeiro – na verdade, Mariana lhe ameaçou de morte se ela não estivesse presente – o carro de sua mãe não quis pegar e ela teve que chamar um motorista de aplicativo que demorou horrores para chegar por causa do trânsito caótico de São Paulo, demorou outra eternidade para chegar ao colégio e quando o fez, quase atropelou um aluno no portão em sua correria para chegar à sala de reuniões.

Mas lei de Maurphy é lei e, como tal, ela tem que ser seguida à risca. Foi só abrir a porta da sala de reuniões e Marcela desejou nunca nem ter saído da cama naquela terça-feira. Viu Mariana sentada à cabeceira ao lado de uma mulher enfiada em um terninho creme, coque na cabeça e óculos de armação grossa milimetricamente equilibrados no nariz pontiagudo (deveria ser a presidente do Conselho de Pais, marcela constatou), viu Paulo sentado à direita da diretora, Pedro à frente dele, mais alguns rostos que ela desconhecia e apostou serem os outros professores e coordenadores da escola e por fim.....

- Ah, não – disse baixinho, sentindo seu estômago dar uma cambalhota e sua boca ficar ligeiramente seca.

Henrique Mondego em pessoa ocupando a outra ponta da mesa de reuniões. Mas o que diabos aquele homem fazia ali?

- Você está atrasada quinze minutos – Mariana deu seu melhor “bom dia”. Marcela até quis rebater com alguma resposta pronta e ácida, talvez sarcasmo, mas assumiu sua melhor postura profissional e deu a explicação mais aceitável... e verdadeira.

- Desculpem, em tive uns imprevistos – um deles foi ter esquecido de colocar o despertador, teve vontade de dizer, mas se manteve em silêncio – Bom dia.

Dirigiu-se para ocupar a cadeira ao lado esquerdo de Mariana.

- O trânsito dessa cidade realmente é complicado, ainda mais em hora de rush. A gente sempre precisa sair de casa com duas horas de antecedência – Paulo tentou amenizar a tensão quase palpável que havia se instalado ali.

- Bom, eu chamei essa reunião porque nós temos o balanço desse primeiro mês de consultoria depois da situação em que o cruzeiro foi colocado – Mariana soou firme, decidida e se fez ser ouvida por todo mundo ali. Marcela chegou a olhá-la com certa surpresa, afinal, desconhecia, até então, esse lado “mulher de negócios” e administradora da irmã. Sentiu orgulho.

- Os números são bem animadores – Paulo pontuou – A Mariana andou me mostrando e nós temos uma perspectiva bem melhor daqui para frente. Não tivemos mais nenhuma baixa no número de alunos, estamos mantendo um diálogo saudável com os pais e os mestres – olhou para a moça sem nome de óculos ao lado de Mariana e para o corpo de professores ali presente – E eu acredito que em termos jurídicos estejamos bem também, certo, Henrique?

- Caminhando para isso – o homem pontuou com um sorriso ameno. Marcela teve vontade de revirar os olhos – Consegui junto ao juiz o desbloqueio das contas da escola.

- Mentira? – Mariana se ajeitou na cadeira como se tivesse levado um choque. Espera, as contas do cruzeiro estavam bloqueadas? – Ai, graças a Deus, Henrique! Eu já estava começando a me preocupar com a situação dos professores. Temos cash então pra continuar honrando nossos compromissos?

- Temos sim – Henrique respondeu, sorrindo – O juiz entendeu que o cruzeiro não faz mais parte do patrimônio do Marcos e que a estrutura da escola foi usada para fins escusos sem o conhecimento e consentimento da administração.

- Maravilha! – Mariana bateu palmas, animada.

Espera, Marcos havia usado o cruzeiro para fins escusos? A escola estava com as contas bloqueadas? Marcela ficou olhando de um rosto para outro sem entender absolutamente nada. Ela achava que a escola ter sido mencionada em operação contra a corrupção era basicamente porque Marcos foi preso lá dentro, em meio a uma reunião com pais e professores.

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