Capítulo 13 - Ponto fora da curva

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Notas do Autor

capítulo de hoje e sobre ele: Henrique Mondego.

Boa leitura!


- Ótimo – Gizelly seria pragmática. Joguinhos não. Não ali – Quem era a mulher que estava jantando com você na semana passada quando você chegou aqui mais de meia noite dizendo que estava numa reunião de negócios?

É interessante como as pessoas são feitas de dubiedade: qualidades e defeitos, aspectos positivos e aspectos negativos, lado bom e lado ruim... Há quem fale em pontos fortes e pontos fracos. Muitas vezes, os pontos fracos se tornam pontos fortes e vice-versa. E o ponto forte de um pode ser o ponto fraco de outro.

Gizelly  se orgulhava de dizer que era uma observadora exímia. Tinha olhos de águia, atentos, escrutinadores, dificilmente algo lhe escapava e talvez fosse esse seu ponto forte, sua maior qualidade. E também sua fraqueza: muitas vezes aquilo que via, percebia, pegava no ar, lhe deixava vulnerável, exposta e ela odiava isso. Odiava se sentir exposta aos olhares alheios, não no sentido de ser julgada nem nada, mas no sentido de se deixar ver. Não era para muitos que ela se mostrava.

Como Gizelly Bicalho que era – e haja atributos físicos e não-físicos – ela adorava se exibir aos olhos alheios. Ser notada, ser vista. Mas se revelar a eles... não. Aí já era outra esfera, outra história.

Se fosse transparente, no sentido físico da palavra, talvez fosse possível ver as engrenagens de seu cérebro trabalhando feitos loucas dentro de sua cabeça. Ela havia visto um ponto fora da curva, seus olhos capturaram algo que não lhe pareceu nem um pouco agradável, em verdade, lhe deu náuseas. E isso estava lhe fazendo querer vacilar.

Querer. Não significaria que fosse. E se dependesse dela, não iria. Não mesmo.

Viu a veia na têmpora de Henrique saltar em uma clara demonstração de nervosismo. Viu o marido sorrir acuado, o corpo dele praticamente gritando que havia apreensão em cada célula. E, aprendam: se você fica nervoso, é porque lhe afeta. Se você demonstra algum tipo de reação, qualquer que seja, é porque lhe atinge de alguma forma. E se lhe atinge, é porque é real.

A pergunta de Gizelly atingiu Henrique, ela vira na hora. E se isso aconteceu seria porque ela tinha fundamento? Sim, porque se não tivesse, o marido se limitaria a dizer duas palavras, ela se convenceria e o assunto seria dado por encerrado. Mas não, aquele silêncio dele que pairava entre os dois só tornava a raiva que vinha subindo nela mais palpável.

E Gizelly se mostrou bem aí. Sua raiva. Em sua voz.

- Responde, Henrique – seu tom estremeceu de leve e não era no bom sentido. Ela também havia sido afetada pela inércia do marido ao seu questionamento – Com quem você estava jantando naquele dia?

Henrique finalmente abriu a boca para falar algo, mas o que ele disse só tornou a situação ainda mais esquisita.

- Por que essa pergunta, Gizelly? – sério que ele tentaria virar o jogo assim? – Eu não estou entendendo.

- Não interessa. O que eu quero saber é quem era a mulher com quem você estava jantando naquele dia que chegou aqui tarde da noite dizendo que estava numa reunião.

- E estava – o tom dele ficou sério – Eu estava numa reunião de negócio. Era assunto do escritório.

Ele quis dar o tema por encerrado e pegou a bolsa que havia jogado sobre o sofá. Mas Henrique que não se atrevesse a dar as costas para ela.

- Que reunião era essa que nem a sua secretária sabia?

A veia na têmpora dele voltou a saltar. É que esse detalhe, Henrique não sabia exatamente. Gizelly não mencionou nenhuma vez que ligou para o escritório e falou com a secretária dele, recebendo em claro e bom som a resposta de que ele, Henrique, tinha saído naquele dia dizendo que estaria resolvendo um assunto qualquer e que não queria ser incomodado com questões de trabalho.

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