Capítulo 27 - Boa sorte, Gizelly

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Notas do Autor

capítulo de hoje: no reply.




Gizelly acordou naquela manhã com uma dor de cabeça chatinha. Demorou horrores para dormir e quando o fez, ainda foi acordando em intervalos praticamente regulares. Fechava os olhos e via seus sonhos permeados por rostos difusos. Conseguia distinguir o de Marcela entre eles, mas de repente ele se esvanecia numa névoa e se tornava o rosto de Renata. E quando ela conseguia chegar perto para tocá-la, ele tornava a virar o rosto de Marcela.

Acordou mais de uma vez sobressaltada. A impressão que teve foi que tinha acabado de dormir quando seu despertador tocou um bip enjoado na mesinha de cabeceira. Saiu da cama mesmo porque era obrigada, tinha uma menina para cuidar, embora sua vontade fosse permanecer ali naquelas cobertas e que o mundo se esquecesse dela por umas horas. As lembranças da noite anterior lhe fazendo encolher o peito. A expressão de Renata recebendo sua negativa ainda estava viva demais em sua memória e embora tenha sentido que no fim de tudo, ela pareceu entender, ainda relanceou aquele resquício de mágoa no fundo das íris escuras dela. Podia ter sido menos idiota com a pessoa que gostava? Sim, porque Gizelly gostava de Renata, se sentia bem com ela. Só não era como ela, a musicista, queria, mas também não podia fazer nada quanto àquilo. Ninguém pode se obrigar a gostar de alguém e corresponder aos sentimentos. Tem que ser espontâneo, vir e fluir. E ela sabia bem com quem viria e fluiria aquilo que tinha dentro.

E essa pessoa estava se empenhando bastante em se manter fora de seu radar. Depois da festa na casa de Bia, a única vez em que cruzou com Marcela foi no dia anterior, na ONG. E aquilo tinha sido um completo desastre, ela lhe ignorou por completo, sequer se dignara a lhe olhar na cara. Ah, mas pelo amor de Deus! Marcela queria o quê? Gizelly não tinha cometido nenhum crime! Tinha beijado, era livre para isso. Estava com Renata e qual o problema? Ela não tinha nada a ver com aquilo, elas não tinham nada uma com a outra. Por que aquela cara de quem... tomou um tiro? Ou viu o fim do mundo?

Não era o fim do mundo.

Mas conhecendo Marcela como conhecia, Gizelly sabia que para ela, era sim. Viu a expectativa no olhar da mc Gowan segundos antes de Renata chegar. Sentiu a decisão que ela tinha todas as vezes que se beijaram, a firmeza nos gestos e nos toques. Marcela que lhe queria e não se importava de deixar isso claro, inclusive com palavras. Mais de uma vez ela disse que lhe amava. E ver a pessoa que você ama sendo beijada e envolvida pelos braços de outro alguém deve ser mesmo o fim do mundo. Como levar um tiro.

O coração de Gizelly doeu na hora, encolheu que ficou menor que um caroço de feijão. Não avisou Renata da social na casa de Bia, primeiro, porque nem sabia se iria mesmo. Segundo, porque... bom, ela tinha certeza que Marcela estaria lá. Tentou evitar uma situação estranha, mas bom... se quisesse evitar situações assim, não deveria nem ter começado a se envolver com alguém com Marcela estando por perto, certo? Errado. Ela era livre, podia se relacionar com quem quisesse e bem entendesse.

Mas aí era que estava o problema: Gizelly queria? Bom, na noite passada ficou claro que não. Sentiu o toque de Renata, pensou em quem não devia. Ouviu o sussurrar da voz dela, escutou a voz de quem não devia. Era Marcela em tudo. Marcela, Marcela, Marcela! Se deu conta de que aquilo ali, aquele lance com a musicista era pura conveniência. É ótimo você ter uma boca para beijar... mas não. Não era aquela boca que ela desejava beijar.

Resultado: magoou Renata e destruíu Marcela. Sim, ela sabia que Marcela deveria estar destruída por dentro, porque foi aquilo que o olhar dela demonstrou: desalento, devastação. Nunca pretendeu isso. No fim das contas, aquela sua dor de cabeça horrível tinha todos os motivos para ser.

Foi tirada de seu torpor pela porta de seu quarto se abrindo e perninhas curtas passando por elas. Luisa tinha os cabelos eriçados enfiada naquele pijaminha de florezinhas.

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