Capítulo 55

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| A L I C E |

Acordo com um barulho baixo e constante. A chave, em cima da pequena mesa ao lado da cama, vibra com o movimento do celular tocando. Estico as pernas antes de me mover para a ponta do colchão e seguro o aparelho. Pedro. Passo a mão livre pelo cabelo para ajeitar a bagunça e giro a maçaneta. Com os passos acelerados e o ouvido atento, vou atrás das vozes abafadas.

Seguro a rapidez da minha caminhada por alguns segundos ao entrar na cozinha, e sorrio antes mesmo de vê-lo. Nath está apenas de bermuda e com a parte de cima do corpo descoberta. Ainda é difícil não suspirar toda vez que o vejo. Os músculos definidos nas suas costas se esticam quando se vira e fica de frente para mim, sorrindo de um jeito que deixa meu estômago em cambalhotas. Com a palma aberta e o zumbido insistente do telefone, estico o braço.

— É o seu. — Digo e o olhar dele se perde na tela. 

— Nada importante. — Murmura ao enfiar o aparelho no bolso e contornar os braços ao meu redor — Dormiu bem? — Sussurra e fecho os olhos por um breve momento.

— Muito. — Respondo e me afasto um pouco do seu toque — Parecia importante a ligação. — Comento.

— Não era. — Sua voz soa um pouco ríspida, mas talvez seja coisa da minha cabeça. Estar ao lado dele geralmente confunde meus sentimentos. Quase sempre, na verdade.

— Tudo bem. — Sorrio outra vez e o encaro. Seus olhos claros parecem um imã. É como se me puxassem para mais perto mesmo quando já estou tão próxima. Nath se aproxima de novo e esquivo quando seu lábios vem na minha direção  — Tem escova de dente sobrando por aqui? — Ele ri alto e outra voz se une a risada. Movo a cabeça para o lugar do barulho e sorrio constrangida ao encontrar seu amigo nos observando com um sorriso zombeteiro — Oi.

— Olá. 

— Não tinha te visto, desculpa. — Sinto todo meu rosto esquentar com a vergonha e ele sorri ainda mais.

— Sem problemas. — Ele deixa sobre o chão mais uma garrafa de cerveja vazia e se levanta — No banheiro do corredor tem uma caixa fechada. Pode pegar para você. — Assinto quando ele passa por mim e no mesmo instante ergo meu olhar até Nath.

— Como eu não vi um homem daquele tamanho? — Questiono mais envergonhada ainda e quando ele sorri e estica os lábios com força para o lado, meu coração parece parece parar de bater. É como se eu nunca fosse me acostumar com tudo o que sinto perto dele. Como se meu sangue ficasse até mais grosso ao percorrer minhas veias. Esse efeito que ele causa em mim é maravilhoso e assustador ao mesmo tempo, porque com apenas algumas palavras, Nath pode me destruir se quiser. Rápido e fácil assim.

— Você é uma graça, Alice. — Inspiro quando nossos corpos se apertam em um abraço e permaneço desse jeito.

— Seu amigo é igual você? — Pergunto com a cabeça apoiada no seu peito.

— Sim. — Afirma — Somos apenas de hierarquia diferente, mas Rafael também é um anjo. — Inspiro novamente e outra vez — Muito para processar, certo? 

— Eu dou conta. — Recuo um passo e inclino o queixo para frente — Se aguentei você com toda aquela postura idiota no começo, isso vai ser até fácil. — Fecho a boca em um sorriso selado e ele parece se controlar muito para não gargalhar bem na minha cara.

— Eu te amo. — A rouquidão e o sentimento impresso em cada palavra que disse, deixa meus batimentos acelerados. Seguro sua mão e coloco sobre o meu coração para que ele sinta também o quanto me torno mais dele a cada segundo. O quanto - inevitavelmente - nos pertencemos.

— Eu te amo ainda mais. — Sussurro quando a emoção parece transcender qualquer razão que meu cérebro tenta criar. Todo motivo na minha mente deixa de ser um obstáculo e se torna apenas impulso. Eu o quero tanto que mal posso controlar essa vontade absurda de fazer essa relação funcionar de alguma maneira. É apenas aquela certeza genuína e rara martelando dentro de mim. Aquela certeza de que nada mais importa além de nós dois. 

Nenhuma distância forçada.

Nenhum segredo.

Nenhuma mentira.

Só que, infelizmente, eu estava completamente enganada sobre isso.

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