Capítulo 39

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| A L I C E |

— Não foi trabalhar hoje? — balanço a cabeça em negação e coloco a mochila no outro ombro.

— Tirei o resto da semana de folga. — explico e sorrio fracamente. Mal sabem eles que eu estava fazendo exames pouco antes de vir para casa, nem eu mesmo posso acreditar nessa merda — Estava trabalhando demais. — digo e minha mãe concorda com veemência.

— Isso é verdade. — murmura — Nunca te vi em casa assim.

— Vai ser bom. — concordo.

— Sim, porque você está sempre saindo para algum lugar ou chegando de outro, apenas para dormir e começar tudo outra vez. — ela ri alto e meu pai a acompanha.

— Essa menina parece estar sempre com pressa. — ele ri novamente e reviro os olhos.

— Vou para o meu quarto, engraçadinhos. 

Tranco a porta e me jogo na cama de tênis e tudo. Um certo pensamento não some da minha mente e por mais que eu tente me distrair, ele acaba voltando até mais forte. 

Por que soou tão familiar aquela palavra? Ninguém me chama assim. Não de uma forma intensa, de um jeito que faz minha pele se arrepiar sem nem ao menos saber o motivo. E esse calafrio ainda está presente. Presente demais. A sensação esmagadora de reconhecimento parece aumentar a cada instante, tornando a pressão dentro da minha cabeça quase insuportável. 

Querida

Cubro o rosto com o braço e suspiro pesadamente. Tem uma peça faltando nessa história e isso está me deixando fora de controle. Não sou mais capaz de passar um minuto sem voltar a pensar em cada pedaço dessa bagunça. Pensar e pensar, até que esteja tudo completo. Aquele sentimento confuso, como se meu coração estivesse em uma guerra direta com a minha mente, uma luta em que sou invisível, porque estou no escuro.

Empurro um pé no outro para tirar meus sapatos. Puxo a coberta desdobrada em cima da cama e me cubro. Fecho os olhos e me enrolo ainda mais. Aproveitando os segundos de sossego na minha mente, deixando-a vazia o máximo que posso.

Sinto a escuridão se aproximando conforme os minutos se passam e me entrego ao sono aos poucos.

— Não vamos falar sobre isso, Alice. — sua voz rouca e tão linda é completamente o oposto do que queria escutar. Eu não quero perdê-lo. Eu só quero sentir mais dele e não ver o fim disso tudo. Meu coração parece prestes explodir e meu peito se aperta com uma saudade que ainda nem chegou. Fecho os olhos quando as lágrimas se aproximam e me agarro mais ainda ao agora. Buscando por algo que, infelizmente, não posso receber. Ele arrasta a língua pelo meu pescoço exposto e a minha pele se arrepia com o rastro quente e úmido. A sensação gostosa e viciante estremece meu corpo e arfo de desejo.

— Não quero esquecer isso. — murmuro e passo os dedos de um jeito provocante pela lateral do seu corpo, querendo de alguma forma ser capaz de mudar o destino dessa noite — Não quero esquecer você. — acrescento, mas ele se reseta. Sinto o frio da sua ausência, da sua boca quente e provocante quando se afasta, mas volta rapidamente e segura meu rosto. Quando ele levanta meu queixo e me encara, paro de respirar.

— Você precisa, querida. — avisa e assinto imediatamente. Sinto o buraco no meu peito ficando maior e não consigo responder, não que houvesse algum tempo também, pois ele começa a me beijar outra vez, segurando meu lábio entre os seus dentes e apertando. O gemido que escapa da minha garganta parece motiva-lo ainda mais, pois sou erguida com uma velocidade absurda e pressionada contra a parede com força.

— Nath.. céus. — murmuro, perdida entre a realidade e a fantasia. Entre o certo e  errado. Entre esse sentimento que me coloca em chamas, a cada investida que sinto seu pau mais profundo e mais duro dentro de mim. Levando embora o meu juízo e enchendo meu coração com algo inesperado. Algo novo, mas ainda assim, perfeito. Eu nunca, em toda a minha vida, fui tão de alguém como me sinto dele agora.
A cada estocada que impulsiona meu corpo para trás, mais me lanço para a frente em sua direção. Para ele.
Seguro seus fios entre os meus dedos e trago a sua boca até a minha de novo. Não quero que isso acabe. Merda. Não quero não me lembrar disso.

Cavalgue em mim, Alice. — o seu tom exalou luxúria em cada palavra e enquanto eu ficava por cima, observando sua beleza única e tão surpreendente, que me tirava o  fôlego, aceitei o que viria a seguir, porque, nesse momento, com as mãos deslizando pelo seu peito todo, subindo e descendo com força, sentando sem descanso ao sentir a sua rigidez me preencher por inteira, fiquei satisfeita pelo tempo em que estivemos juntos. Fiquei grata por essa fração de felicidade, porque, nesse instante, não existiam barreiras. Não existiam inseguranças ou medo. Éramos apenas nós e nada mais. E eu jamais poderia me arrepender de entregar parte do meu coração nessa noite. Mesmo que com isso perdesse uma parte de mim.
Jogo a cabeça para trás quando sinto o aperto no pé da barriga e gemo. A respiração escapa pela minha boca em passadas curtas e deliciosas, quando o orgasmo me atinge em cheio.

Acordo ofegante e com o corpo coberto de suor, sinto o meio das minhas pernas formigando com o desejo ainda vivo. Ainda pulsante, como se fosse tão real quanto o ar que infla meus pulmões.
O que foi isso?
Meus batimentos estão descontrolados e fico em pé na mesma hora. Estou assustada demais para pensar com clareza, mas ainda assim, uma pergunta grita na mente.

Santo Deus, quem é Nath?

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