| A L I C E |
— Vai tomar mesmo? — sua voz rouca brinca perto do meu ouvido, fazendo aquele maldito arrepio começar o seu caminho pelo meu corpo.
— Sim. — digo, com a fala cortada em um quase sussurro vergonhoso.
— Existe outro meio de você recuperar. — comenta e seus olhos encaram a minha boca quando se vira e fica de frente para mim. Seu tamanho parece me diminuir ainda mais, tão grande e imponente quanto um tanque de guerra - explosivo eu sei que é - engulo em seco e me concentro em um ponto atrás dele, desfocando totalmente desse seu rosto bonito.
— Qual? — indago.
— Eu sei que você sente algo. — diz baixo e sinto a ponta dos seus dedos fazerem uma carícia leve no meu queixo, forçando meu olhar a encontrar o dele. Resisto e continuo super interessada na moldura de gesso no teto, tentando desesperadamente não ceder, porque não confio no meu coração perto dele e se me arriscar, posso me perder para sempre nesse oceano que Nath reflete — Eu também sinto, Alice. — acrescenta e afasta a mão quando devagar — Mas eu tenho as lembranças de tudo.
— Qual é esse outro meio? — pergunto e finjo que suas palavras não tiverem um efeito, porque tiveram e muito. Eu sinto também. Eu o quero como nunca quis nada na vida, mas da mesma maneira, quero odiá-lo pelo que fez em mim. Quero sentir raiva por cada lacuna em branco e cada pedaço que sumiu, raiva por cada pensamento desconexo e confuso, mas ainda mais do que isso, quero sentir raiva pela forma que me sinto perto dele. Como se eu não fosse capaz de controlar esse fogo que parece me consumir a cada segundo. Quero odiar isso também, mas não consigo.
— Só está adormecido dentro de você, querida. — diz confiante e posso sentir o sorriso no seu timbre — Você só precisa deixar seu inconsciente vir até mim.
— Co... como? — retruco e recuo um pequeno passo. Levantando a cabeça e o fitando com uma certa insegurança — Como posso fazer isso?
— Sua mente não se lembra. — ele desliza o dedo pelo meu braço e meus batimentos começam a aumentar — Mas o seu corpo sim. — fico hipnotizada quando sinto seus lábios no meu pulso, em um beijo lento e cheio de promessas. Meu sangue parece até circular com mais força, precisando bombear e bombear, para que eu não perca os sentidos e vire uma poça ao seus pés — Alice. — outro beijo casto — Venha me encontrar. — murmura e aperta a mão na minha cintura, travando seus olhos nos meus, de uma forma intensa e muito... muito sensual. Posso ver o meu corpo se rendendo ao seu toque, se inclinando para cada vez mais perto. Sedento por ele e por essa atração que parece me arrastar como uma correnteza em direção ao seu peitoral definido — Você sente, não sente? — pergunta.
— Não... — gaguejo e ele sorri, porque sabe que estou mentindo. Minha respiração pesada é apenas um dos sinais e Nath não colabora. Seu aperto continua firme no meu quadril, apenas até subir em ondas pela lateral do meu corpo. O caminho que sua pele traçou coloca a minha em chamas. Céus. — Não sei o que pretende, mas acho que isso não vai funcionar. — digo falsamente. Eu sei o que ele pretende. Recordar também é reviver, certo? Não sei. Talvez acredite que algum botão vai ser pressionado na minha cabeça quando nos beijarmos e todas as minhas memórias voltariam. Seria perfeito, se não soasse tão estúpido.
— Podemos tentar? — sua mão afasta os cabelos no meu ombro e inspiro fundo — Eu sei que você quer. — sussurra.
— Não sabe. — replico, mas continuo no mesmo lugar. Minhas pernas parecem ter virado geléia. Não sei nem como estou em pé nesse momento, pois a fraqueza que esse desejo causa é abrasadora. Sinto essa chama esquentando cada pedaço do meu corpo, como a lava de um vulcão em erupção, carregando tudo ao redor. Descontrolado.
— Só me permita, querida. — seu timbre parece ter ficado ainda mais rouco e um alarme dispara na minha mente quando quase esqueço do real motivo da minha visita. Recuo outro passo e o encaro. Estou completamente dividida entre dar razão ao meus batimentos enlouquecidos ou ouvir a minha mente, que parece não desistir de gritar o quanto estou sendo tola e emotiva — Não pense tanto. — sussurra e se aproxima novamente, e tê-lo tão perto e alcançável desse jeito, rompe a barreira que eu estava tentando manter duramemte.
Dane-se.
Fecho meus olhos em um convite silencioso e suspiro.
— Porra. — grunhi — Estava querendo isso desde que entrou pela minha porta. — seus dedos se entrelaçam na minha nuca e ele me puxa para si, colando as nossas bocas em um beijo feroz, que me tira o fôlego.
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Chama azul
Fantasy| SINOPSE | Aos vinte e seis anos, Alice Vieira estava feliz com o rumo que sua vida estava seguindo. Faltavam apenas alguns meses para se formar na faculdade, onde com honras, foi selecionada para uma bolsa integral em Medicina. Morava com seus pai...