Capítulo 28

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| NATH |

Eu sei quais são as regras e essa é a porra do problema. Não ser um humano não me torna acima de qualquer lei. E estou falando de leis divinas, não essa criada pelos homens. Onde fingem que obedecem, enquanto as autoridades apenas pesam as mãos nos mais fracos. Juro que nunca vou entender essa falsa justiça, mas não é um problema meu, de qualquer forma.

Tenho que respeitar apenas as nossas. Tenho o dever de ser o exemplo. Quando se é um arcanjo, você se torna um espelho. Qualquer ação é repetida, qualquer comportamento é visto. O maldito tempo inteiro. Isso porque eu sou o líder. É uma obrigação minha zelar e garantir isso. Nem que seja a força. 

Quando estava quase desistindo de procurar ajuda, depois de algumas tentativas frustradas, tudo mudou quando a vi. Os cabelos negros voando enquanto caminhava apressada pelo corredor vazio do hospital e o olhar distante. Alice não sabe dessa parte, mas eu a tinha escolhido na sala de espera, quando falou com um homem bêbado pelo segundo acidente seguido. Totalmente concentrada e calma. Era daquilo que eu precisava.

— Não nego ajuda, senhor José. — ela suspirava fundo, como se aquilo fosse tão normal, que não aguentava mais — Mas não pode ficar bebendo desse jeito e achar que não vai cair.

— A minha vida não é da sua conta. — ele parecia perder o equilíbrio, mas por algum milagre continuava em pé. Segurei o riso e continuei observando.

— A sua vida se torna da minha conta quando chega aqui de novo pelo mesmo motivo. — diz baixo, mas de uma forma tão controlada que faz o homem empalidecer — Estou deixando de atender pessoas doentes de verdade, porque o senhor não consegue agir de um modo cauteloso.

— Então não posso mais ir para o bar? — ele solta uma risada de escárnio e semicerro os olhos. Vamos lá querida, me mostre o que pode fazer.

— O senhor pode ir para aonde quiser, senhor José. — ela sorri e fica ainda mais interessante — Só estou pedindo que tenha mais cuidado e se puder evitar, não atravesse a cidade no meio da noite nesse estado.

Naquele momento eu a queria. Não no sentido sexual, mas a queria cuidando do problema em mim. Então, fui até o corredor e esperei até que ela passasse. Deu certo ... até não dar mais.

Tento não reparar na forma como seu rosto fica vermelho quando digo alguma besteira e acabo falando sempre que posso, apenas para ver novamente o constrangimento tingindo sua bochecha. 

Toda a rebeldia e a malcriação, faz esse fogo emergir dela e fico enlouquecido. Não sei dizer quantas vezes imaginei Alice debaixo de mim. Tudo começou na sua casa, quando me puxou para a porcaria do banheiro. Achei tão ridículo, mas não vou reclamar. Tive uma boa visão dos seus seios e da sua calcinha. Preta e fina. Fico duro só de pensar no seu corpo ainda úmido do banho e tão perto do meu.

Não sou um idiota, sei das merdas que fiz e do medo que causei. Ainda me odeio por ter ameaçado a sua família, mas que outra alternativa eu tinha? Ela dificilmente ajudaria de bom grado. Ninguém quis. Tentei cinco vezes com outras pessoas, antes de chegar até a ela. 

O pavor ou a risada era só o que eu recebia em troca da sinceridade, então forçar não pareceu errado, só foi o que precisei fazer. Estava desesperado.

Precisei de todo auto controle existente em mim para não segurar seus cabelos e virá-la sobre a mesa. O seu olhar me avaliando e levando um tempo extra no meu pau, foi excitante. Ainda bem que enfiou a agulha no meu coração logo depois, porque eu estava a segundos de rasgar as suas roupas.

Sou um anjo, mas meu corpo não é superficial. Tenho os mesmo desejos que eles. Menos a parte chata. Emoções. 

Não posso fazer o meu trabalho se ficar triste ou apaixonado. Não. Apenas a parte racional. A raiva existe também, o medo, a dor, mas comparado a um humano, é quase inexistente.

Por isso demorei para entender o ponto de vista dela. E quando consegui, foi fácil atingir. Por isso as ameaças. Quando se tem uma parte do coração no peito de outra pessoa, você se torna vulnerável. E isso não chega até nós. Agradeço a Deus por isso.

Saio do banho e quando vejo a luz acesa do celular, desbloqueio e sorrio.

Deixei a porta aberta. Passe a noite comigo

Não preciso nem pensar, a minha resposta é tão obvia que chega a ser engraçado. A memória dela será apagada, então esse envolvimento tem data final. Nenhum dano. Nenhum estrago.

A ousadia dela foi uma surpresa. Eu sei que ela me quer, porque seu corpo mandava sinais o tempo todo, mas não acreditei que teria essa coragem. Faço uma pausa apenas para enrolar a toalha na cintura. Largo o aparelho sobre a cama e saio do meu quarto. 

Encosto no batente da porta e fico em silêncio. Não gostei da sua expressão quando entrei. Será que ela realmente pensou que eu não a queria? Alice é linda e todo esse jeito briguento, só me dá mais tesão ainda. A garota realmente não bate bem.

Assim que seus olhos percebem a minha presença, sua boca se entreabre e ela se levanta. Sei o quanto está insegura, posso ver nas suas mãos inquietas que raspam na calça sem parar. Caminho em sua direção e seu peito infla quando respira fundo. Antes mesmo que diga qualquer coisa ou até que mude de idéia, seguro na sua nuca e a beijo com força. 

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