Capítulo 13

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| A l i c e |

— Como assim você vai ficar aqui? — caminho até ele e empurro sua perna para fora da minha cama — Não vou ficar em pé. — aviso mau humorada e o encaro.

Nathaniel continua sorrindo daquele jeito cínico, como se tivesse alguma piada pronta rondando sua mente perturbada e não quisesse dividir comigo.

E isso me incomoda.

Incomoda porque não deveria achar isso atraente. Céus, eu nem deveria, ao menos, ter esse tipo de pensamento sobre ele, embora sua beleza me desconcerte as vezes, o cara virou minha vida do avesso.

Minha planejada e nem um pouco entediante vida. Eu gostava de como as coisas eram. Eu mantinha um controle, uma organização razoável. Agora só consigo pensar nessa bagunça que trouxe e no que pode acontecer comigo desde que apareceu.

Ele é a porcaria de um tornado.

Maldita hora que cruzei o seu caminho.

Maldita curiosidade que me fez andar até ele no corredor.

Malditos olhos claros e intensos, que parecem me despir toda vez que me observa atentamente.

Maldito seja ele.

— Sim, vou ficar aqui. — responde tranquilamente.

— Isso não vai dar certo. — resmungo — Meus pais vão chegar a qualquer momento e não vou te apresentar para eles. — movo a cabeça para frente, olhando para a janela na outra ponta. Forço meus olhos a se focaram na rua, no vão que a cortina deixou livre e que me libertou nesse minuto.

— Posso me esconder. — comenta despreocupado — Ou, diga que estudamos juntos, sei lá. Não me importa. Você já é adulta, deveria ter sua própria casa.

— Não vou nem responder. — grunho e cruzo os meus braços. Posso sentir seu olhar em mim e isso é desconfortável, porque não sei ele espera algum sinal dos efeitos ou se só está curioso — Pare de me olhar. — ordeno e ouço sua risada baixa — Vai embora e eu te envio uma mensagem se sentir algo estranho. — viro o corpo na sua direção e torço para ele ceda a esse meu pedido. Não é uma idéia ruim, na verdade.

— Não. — diz resoluto e estica as pernas — Vou ficar aqui.

— Você está com medo. — declaro e seu riso, antes baixo, agora aumenta muito, trazendo junto um tom de incredulidade.

— Não sinto medo. — afirma e repuxa o lábio. Esperei por alguma grosseria ou algum sarcasmo sobre ser um sentimento banal humano, mas não. Seus dedos apenas foram até o queixo e permaneceu assim. Perdido nos seus próprios pensamentos.

— Isso pode levar horas e eu preciso dormir. — minhas palavras parecem ser ignoradas, pois após um breve instante, Nathaniel passa a mão pelo cabelo e se levanta — Vou para a faculdade de manhã. — insisto.

— Isso não é problema meu, Alice. — meu nome saiu da sua boca como um insulto e o odiei por me fazer travar tanto o maxilar a ponto de sentir uma leve dor.

— Tudo o que está rolando agora é culpa sua. — vocifero e o ruído baixo que sai da minha garganta, só o faz sorrir ainda mais.

— Pode se deitar — informa — Ficarei exatamente aqui esperando acontecer.

— Vai para a aula comigo também? — questiono ao sentir a raiva me atingir. Eu tenho certeza que isso deve ser contra alguma lei.

— Se for necessário, sim. — ele se move até a parte oposta do quarto e se senta no chão. Acompanho seus passos lentos, em busca de alguma fraqueza, algo que possa indicar o que esse homem seja, mas nada. Não encontro um mísero detalhe de nada. Além da boa forma e do temperamento de um viking, não encontrei nada novo. Ele consegue se agigantar mesmo sentado. Imponente e assustador, mas eu estava disposta a brigar.

— Não vou dormir com um estranho dentro do meu quarto. — sussurro.

— Se eu quisesse fazer alguma coisa com você, já teria feito.

— Isso não ajuda. — retruco — Por que você só não vai embora de uma vez? — replico já cansada dessa intromissão nos meus dias e inspiro fundo.

— Quero estar por perto quando começar. — ele puxa algo do bolso e me retraio desconfiada. Seus olhos me encaram de longe e mesmo com a distância, posso sentir me queimarem — Você é muito apavorada, só estou pegando um elástico. — ele ri e levanta os braços, juntando seus cabelos em um coque e prendendo no topo da cabeça. — quando a curva de um sorriso torto aparece no seu rosto, viro o meu para o outro lado.

Santo Deus. Ele poderia ser pelo menos desagradável ao olhos, tornaria menos complicado.

Culpa sua novamente por me atormentar o tempo todo. — digo e fico em pé, caminho até meu guarda roupa e pego uma muda de roupa. A mais feia possível. Uma camisa velha de uma banda de rock e uma calça de moletom. — Vou tomar um banho. — aviso — Esteja fora daqui quando eu sair. — bato a porta e me encosto nela. Respiro profundamente, sentindo a liberdade falsa de estar sozinha. Passo uma água pelo pescoço e apoio as mãos na pia, olhando meu reflexo pelo espelho. 

— Não recebo ordens. — diz após alguns segundos. Levo a mão ao peito com o susto e fecho meus olhos brevemente. Sua voz abafada e rouca, mesmo com a madeira entre nós, faz um calafrio percorrer minha pele — Não demore. — grunhi, como se tivesse algum poder sobre mim. Como se eu fosse sua súdita que devesse obediência. Ele não poderia saber menos.

— Vai se ferrar. — replico alto.

— Malcriada. — devolve na mesma hora.

— Sai de trás da minha porta, merda. — grito e o barulho do chuveiro, omite sua risada alta e irritante. 

Para quem era tão fechado e sério, Nathaniel está rindo até demais ultimamente. Não que isso seja uma coisa boa de qualquer maneira, assistir Coringa me provou isso. 

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