| A L I C E |
Encosto parte do meu corpo na porta e inspiro fundo. Estico o braço, deixando a mochila cair no chão e fecho meus olhos com força.
Por um breve momento, até gostei da presença dele na aula. Seu sarcasmo idiota, mas ainda inteligente, como se sempre soubesse o que falar, é um ponto positivo as vezes, mas quando começou a colocar em jogo o meu futuro, dando cada vez menos importância para o que é de um grande valor para mim, fiquei irritada. Fiquei muito mesmo.
Nathaniel não deveria ter invadido tanto a minha vida dessa forma.
Ninguém tem esse direito.
Espero que entenda finalmente que aquela porcaria de poder não funciona comigo e suma de uma vez. Não sou útil para ele, porque não posso dar o que precisa. Parece bem claro na minha mente isso, por que é tão difícil assim de aceitar? Nada mudou, ainda sou exatamente a mesma mulher, então não tem necessidade da sua perseguição, não deu certo, uma pena. Só que não para mim.
Tudo bem que o cara é lindo e faz alguns pensamentos percorrerem minha cabeça, mas também é um doente e beleza nenhuma vale tanto problema. Não mesmo.
Caminho até a pia e passo uma água no rosto. Estou enrolando para sair daqui, porque estou com medo de que ele ainda esteja lá fora me esperando. Não faria sentido, de qualquer forma. Esse trabalho que precisa com tanta urgência vai ter que ser com outra pessoa, já que comigo não rolou essa coisa de magia. Enfim, não sei mais o que fazer para que tudo volte a ser como era antes. Para que a minha vida não seja parte de algum seriado maluco de fantasia.
Caminho apressada pelo corredor. Meus olhos seguem firmes e retos, não ouso nem desviar para o lado e nem para trás. O desespero de talvez vê-lo andando preguiçosamente atrás de mim é perturbador.
— Para pernas tão pequenas, você até que anda bem rápido. — levo a mão ao peito, quando a sua voz grossa e baixa, assusta o inferno para fora de mim.
— O que você quer? — retruco e continuo a passos largos até o ponto de ônibus.
— Você sabe. — diz simplesmente e fico em silêncio o encarando furiosamente — Não me olhe assim, garota. Você fez o acordo.
— Aquilo não foi um acordo merda nenhuma. — digo rispidamente — Foi uma ameaça. — eu estava muito concentrada em sair da casa dele o mais rápido possível naquela noite, mas tenho certeza que da sua boca só saíram palavras ameaçadoras. Eu não poderia esquecer nunca do seu tom frio e maldoso, falando dos meus pais.
— Independente do que tenha sido ... — ele balança a mão, como se isso fosse um assunto entediante e me obrigo a não perder a calma. Cravo minha unha no pulso, quando cruzo os braços na frente do corpo e mordo minha bochecha por dentro. Segurando toda essa tempestade que esse homem causa e que faz meu sangue borbulhar.
— Não funcionou comigo. — suspiro impaciente e cesso meu caminhar, fixando meu olhar direto nele — Aceita isso logo e vai procurar outra vítima. — esbravejo e Nathaniel sorri. Um sorriso tão grande e bonito, que com a luz do sol clareando sua íris ainda mais, como se um diamante fosse colocado nos seus olhos, torna quase impossível ficar brava com ele — Está feliz por que, babaca? — bom, eu disse quase impossível.
— Sorrir não significa felicidade. — replica.
— Eu acho que você nem sabe o que isso quer dizer. — digo.
— Felicidade? — assinto e seus dedos se levantam, prendendo seus fios no topo da cabeça e por mais que isso seja de muitas maneiras errado, não posso deixar de observar seus movimentos com algum fascínio — Eu sei o que quer dizer. — sussurra e engulo em seco com a sua proximidade repentina.
— E o que é? — indago e seguro o ar dentro dos meus pulmões, quando o oceano a minha frente parece me hipnotizar. Como se o simples fato de respirar, fosse capaz de quebrar o que quer que seja isso. Parte de mim quer correr para longe, mas a outra, a outra parte sem juízo, quer ouvir o que ele tem a dizer.
— Felicidade é quando enterro meu pau com força em alguma boa mulher, Alice. — Nathaniel se inclina mais, ficando com o rosto a centímetros do meu — E quando eu gozo, derramando cada gota quente, empurro ainda mais fundo. Essa é a minha definição de felicidade, querida. O tipo de felicidade boa pra caralho.
Santo Deus
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Chama azul
Fantasy| SINOPSE | Aos vinte e seis anos, Alice Vieira estava feliz com o rumo que sua vida estava seguindo. Faltavam apenas alguns meses para se formar na faculdade, onde com honras, foi selecionada para uma bolsa integral em Medicina. Morava com seus pai...