| A l i c e |
Não sei qual o plano dele ou que trabalho idiota quer que eu faça, mas esse, definitivamente, não é o jeito certo de se conseguir alguma coisa mais facilmente.
Não estou falando de aparecer em lugares do nada e sumir logo em seguida, ou de me sequestrar e até mesmo vandalizar meu celular. Estou falando dos seus olhos. Eles sim, são o maior problema para mim. Não que toda essa porcaria que já citei seja algo aceitável, porque com toda a certeza do mundo não é, mas seu olhar me perturba em uma escala grandiosa.
Dizem que é o espelho da alma e sempre concordei com isso. A matemática é simples. Você até pode mascarar seu comportamento, mas nunca consegue alterar o que seus olhos expressam. Eles são os melhores indicadores do que se passa no seu interior, mas e quando não existe nada dentro? E quando a pessoa é apenas uma casca, vazia e oca?
O que os olhos dela poderiam representar?
Esse é o problema.
Não sei o que esperar, porque não encontro nada. Nenhuma emoção, nenhuma reação. Não transmitem porcaria nenhuma e não dizem nada sobre ele. Esse é o ponto aqui. Como posso lutar com o invisível?
— Perdeu a voz, Alice? — Nathaniel questiona e seus lábios se curvam levemente para cima quando sorri. Frio e presunçoso.
— Se não vai responder minhas perguntas, então não tenho nada a dizer. — retruco impaciente. Ao contrário dele, sou um livro aberto. Posso até tentar esconder o pânico que cresce a cada minuto e acelera meu coração, mas vou falhar miseravelmente. Minhas mãos estão suando e passo a palma aberta insistentemente pela calça, não consigo me livrar da sensação ruim que afunda meu peito.
— Justo. — comenta e se aproxima. Agachando e ficando de frente para mim — Isso não precisa ser tão difícil.
— Não mesmo. — explodo — É só você usar essa sua coisa de me controlar outra vez e vai ter o que quer.
— Bem que eu gostaria. — argumenta — Mas não funciona assim.
— Isso não faz o menor sentido, babaca. — esbravejo e sua risada alta assusta como o inferno. O encaro confusa e recebo um tapinha na perna como resposta.
— Isso vai ser divertido. — diz com os dentes a mostra em um sorriso torto, ficando em pé em seguida.
— Diversão não parece combinar com você. — murmuro.
— Não do tipo que você aprovaria. — diz com desdém.
Fico em silêncio, porque não acho que queira entender a razão dessas suas palavras. Estou amedrontada o suficiente para acrescentar sadismo a lista.
Ouço seus passos se afastando e levanto a cabeça. Agora seria um bom momento para tentar dar o fora desse lugar, por mais que ele seja mais forte do que eu e tenha uns trinta centímetros a mais de altura, essa minha chance de escapar seria mínima, porque não consigo me mexer. Não que eu esteja naquele transe esquisito de novo, porque não estou. Na verdade, minha mente está nesse estado alerta pelo receio de fazer alguma coisa e por me sentir ameaçada, que paralisou meu corpo. Um mecanismo de defesa excelente se eu estivesse na mira de um animal, mas na companhia de um homem, a melhor reação seria correr e me distanciar o mais rápido possível.
Alguns minutos depois, vejo sua sombra no corredor e encolho a perna, apertando meus braços ao redor dos joelhos.
— Coma. — ordena ao colocar ao meu lado uma lata de refrigerante e uma bolacha.
— Isso nem sequer é comida. — declaro — Tem alguma criança na casa?
— Não dificulte, Alice. — seus dedos deslizam pelo seu cabelo, exibindo uma frustração que me alegra.
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Chama azul
Fantasy| SINOPSE | Aos vinte e seis anos, Alice Vieira estava feliz com o rumo que sua vida estava seguindo. Faltavam apenas alguns meses para se formar na faculdade, onde com honras, foi selecionada para uma bolsa integral em Medicina. Morava com seus pai...