| A L I C E |
— Preciso ir para o hospital. — minha voz dia como um sussurro atordoado. Um completo desacordo com a minha mente nesse momento, ou meu corpo, que pulsa em lugares que não deveria.
Ouço sua risada baixa e balanço a cabeça, afastando qualquer vestígio dos seus lábios grossos pronunciando palavras tão sujas e tão ... sedutoras.
Da forma como ele travou o maxilar, como se pudesse lembrar com perfeição da sua definição de felicidade ou do jeito que minha pele se esquentou pensando no seu peitoral nu a luz do poste, brilhando em partes pela sombra que a janela causava naquela noite na sua casa. Do seu andar calmo e confiante, enquanto me encarava com o olhar baixo e firme.
Se recomponha, mulher. Ele é o inimigo, mesmo que seja um demônio envolto de tanta beleza, não deixa de ser ruim.
— Estava imaginando algo, Alice? — seu sorriso se alarga e desvio o olhar.
— Não seja ridículo. — murmuro e endureço a minha postura, mantendo meu olhar longe dos seus olhos intensos e perturbadores.
— Alice. — droga.
— Oi, professora. — Fátima caminha com uma expressão curiosa e juntas as mãos, observando-me por um tempo longo demais. Troco o peso da perna e seguro seu olhar.
— Você estava bem dispersa na aula hoje e estou te vendo falando sozinha há alguns minutos.
— Eu faço isso às vezes. — minto e sinto a humilhação colorir minhas bochechas.
— Entendo, mas prefiro que não vá para o plantão hoje.
— Por que? — indago — Não tem nada de errado nisso. — argumento e meus ombros caem um pouco. Seguro o nó na garganta e cerro meus dentes para não chorar. Tudo menos isso, por favor.
— Não posso permitir essa sua falta de atenção para lidar na emergência hoje. — assinto derrotada — Descanse e coloque os pensamentos em ordem, tudo bem?
— Claro. — respondo e viro de costas, andando lentamente com o peso da mochila pressionando minhas costas para trás.
— Alice.
— Não fala comigo. — sussurro, porque não encontro nem forças para gritar com ele agora.
— Ela é sua chefe? — pergunta.
— Por favor, não fica perto de mim.
— Pelo amor de Deus. — comenta com desdém e o ódio que estava preso, encontra seu caminho para fora, levando o pingo de paciência que ainda existia em mim.
— Pelo amor de Deus o que, porra? — empurro seu peito e ele segura meus pulsos, prendendo-os próximo ao seu tórax — Por que você está estragando as coisas para mim? — sinto meus olhos arderem e não seguro as lágrimas dessa vez — Por que não pode me deixar em paz?
— Alice. — o calor da sua respiração arrepia minha pele e fecho os olhos brevemente.
— Depois que você conseguir o que precisa, vai embora largando a minha vida destruída para trás, é isso? — seus olhar se concentra na minha boca e o sorriso some do seu rosto. Transformando seu semblante em uma carranca séria — É esse o seu plano? — forço meu corpo para o lado e Nathaniel afrouxa o aperto até libertar meus braços — Parabéns. Você está conseguindo. — bato palmas e solto um riso frio. Aquele que é bem familiar para ele. Sem emoção, bem longe de qualquer sentimento bom.
— Sinto muito. — diz.
— Não pode dizer isso. — retruco adulterada e seco o rosto com as costas das mãos — Voce não pode dizer que sente muito, quando na verdade não é capaz de sentir nada.
— Você não sabe nada sobre mim, então não fique supondo merda nenhuma. — sinto seu corpo ficar tenso e recuo um passo, quando seu timbre se abaixa tanto, a ponto de quase ser inaudível.
— Tem razão. — afirmo e inspiro fundo — Você deve esconder algo muito ruim sobre si mesmo para precisar ser tão fechado sobre tudo.
— Você não sabe o que está dizendo. — vocifera — É melhor ir para a sua casa agora.
— Deve ser tão solitário ter que perseguir uma universitária que não dá a mínima para você, ameaçando as pessoas que ela ama, apenas para poder conseguir o que quer. — sua testa se franze rapidamente, mas em seguida, um sorriso debochado brinca nos seus lábios.
— Gosto desse fogo em você, Alice — diz — Deixa você menos intediante.
— Vai se foder. — digo e volto a caminhar — Não quero ver você de novo.
— Estarei no seu quarto mais tarde. — grita em resposta e não me segue novamente. E eu, fico me perguntando o que de tão errado eu fiz na vida para merecer o que está acontecendo.
Após alguns minutos e já dentro do ônibus, decido mudar os planos que Nathaniel tinha e alugo um quarto de hotel. Quando o idiota for atrás de mim a noite, não vai encontrar nada além da minha cama vazia.
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Chama azul
Fantasy| SINOPSE | Aos vinte e seis anos, Alice Vieira estava feliz com o rumo que sua vida estava seguindo. Faltavam apenas alguns meses para se formar na faculdade, onde com honras, foi selecionada para uma bolsa integral em Medicina. Morava com seus pai...