| A L I C E|
Estou esperando a hora em que Nathaniel vai bater na porta e acabar com o meu plano que parecia perfeito. Como ele pretende me encontrar, afinal? A cidade é enorme e não estou em um hotel famoso, é mais como uma pousada. Claro que ele tem seus truques, caso contrário, eu não teria sido levada aquela noite por um motorista de Uber a força para a sua casa.
Abraço os joelhos ao dobrar a minha perna sobre o colchão e ligo a televisão. Fico passando entre os canais, mas meus pensamentos estão tão barulhentos, que não consigo me concentrar em nada, nenhum programa parece interessante o bastante para desligar a minha mente.
Essa espera é uma droga. É quase uma tortura. Por mais que eu quisesse dormir por algumas horas, fica impossível com a possibilidade da sua aparição repentina. Será que é tão ridícula essa certeza de que ele vai me encontrar? Por que estou supondo tão fortemente que vai? Talvez essa seja sua vingança pela minha brincadeira de esconde-esconde. Levar-me a acreditar que está a caminho, quando na verdade, só está no seu quarto, rindo do meu desespero e pensando no quanto sou patética. Quer saber? Não duvidaria disso.
Fico em pé e abro as cortinas, deixando o vento circular pelo espaço pequeno. Caminho até a cama novamente e desbloqueio meu celular, que estava jogado no outro lado desde a nossa ligação. Rolo o dedo pela lista de aplicativos até encontrar o Spotify. Seleciono a minha playlist favorita e vou para o banheiro, enquanto a voz do Adam Levine soa alto.
Giro os dois misturadores de água do chuveiro e espero esquentar. Estico a mão sobre o jato e entro assim que a temperatura fica confortável. Fico até espantada de como foi fácil, geralmente desisto e acabo tomando um banho quase gelado. Talvez ainda haja salvação para o dia de hoje.
Coloco a cabeça embaixo e fecho os olhos. É uma sensação tão reconfortante, tão boa, que acho que fico uns quinze minutos só sentindo a força da água levando embora todas as minhas preocupações, nem que seja momentaneamente.
Conforme ensaboo os fios, sentindo a maciez da espuma por entre meus dedos, imagens dele se voltam até mim. A forma como seus lábios pronunciaram cada letra, transformando uma simples resposta, em um fogo completo capaz de me incendiar inteira.
E quando eu gozo, derramando cada gota quente, empurro ainda mais fundo.
Fico tentando me convencer de que não o quero, mesmo sabendo que quero. Mesmo sabendo que nada de bom poderia sair disso, porque não consigo pensar direito quando ele está próximo e talvez esse seja o poder dele, no final das contas. Uma linha que puxa, pois a cada passo que dou para longe, acabo voltando dois para mais perto.
Isso é errado de tantas maneiras que poderia até fazer uma lista, poderia escrever até duas, se quisesse, mas é difícil demais não se ver levada. A raiva pela tempestade que a minha vida vem adquirindo por causa dele, é tão grande quanto a vontade que sinto pulsar no pé da minha barriga. E estou me odiando por isso, estou odiando essas armas na minha mente, que me fazem apontar para ele e depois abaixar, como se ele fosse o médico e o monstro. Como se ele me ferisse, mas também me curasse.
Fecho a água quente e quando a corrente fria atinge meu corpo, rezo para que leve embora esse dilema que martela na minha cabeça. Não deveria nem ser uma opção, porque Nathaniel é um verdadeiro pesadelo, mesmo que seja um que valeria a pena cada instante, ainda assim, só me traria mais problemas, porque ele é prejudicial e eu preciso de sossego.
Desligo o chuveiro e enrolo uma pequena toalha na cabeça. Passo o roupão por meu corpo outra vez e vou até a pia escovar os dentes. Inclino para lavar o rosto e volto para o quarto.
— Alice.
Claro.
— Não vou nem perguntar como faz isso. — aponta para a porta fechada, sem nenhum sinal de forçamento.
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Chama azul
Fantasy| SINOPSE | Aos vinte e seis anos, Alice Vieira estava feliz com o rumo que sua vida estava seguindo. Faltavam apenas alguns meses para se formar na faculdade, onde com honras, foi selecionada para uma bolsa integral em Medicina. Morava com seus pai...