| A L I C E |
Eu sei que essa bolha em que estamos vai estourar a qualquer momento. Não sou uma idiota. Sei que em um piscar de olhos ou talvez dois, esse meu aperto na lateral do seu corpo vai se afrouxar e a realidade vai nos atingir sem dó. Fizemos a nossa escolha e lidar com isso agora é meio assustador. Essa redoma invisível que nos abraça parece me sufocar nesse instante. Como se suas paredes se apertassem e deixassem o espaço menor. Como se eu fosse uma formiguinha sobre uma lente de aumento. Ingênua, mas ciente do perigo ao redor.
Nath vai ser banido?
E se o obrigarem a ir embora ou o transformarem em um humano apenas por castigo?
Bom, não é novidade que ele despreza a natureza mortal. Seria uma maldita ironia que eu, definitivamente, riria um dia.
Quanto mais penso sobre esse assunto, mas percebo que não sei nada. Por mais que meu coração dispare com o seu toque e que eu possa sentir, no fundo da minha alma, o quanto isso parece certo, com essa euforia que vibra meu corpo inteiro, não pensei muito a respeito do que viria a seguir. Honestamente, não pensei em muita coisa. Não com a saudade afundando meu peito e implorando por mais. Estava meio complicado não direcionar qualquer pensamento com aquela íris clara e intensa me encarando. Ou com o sorriso torto que prometia mais do que eu poderia imaginar. Dane-se, eu era uma prisioneira naquela momento e nem em mil anos de treinamento, eu seria capaz de desviar a minha atenção naquela hora, apenas para pensar no amanhã. Não mesmo.
Só que agora essa preocupação chegou e chegou rápido. O medo de sair desse quarto e enfrentar as consequências não parece tão excitante mais. Sei que Nathaniel abriu uma porta sem volta, só resta esperar para saber se esse caminho vai nos afastar ou nos fortalecer.
— O que foi, Alice? — seu timbre baixo percorre toda a extensão da minha pele e quando sua língua passeia vagarosamente pelo pescoço, deixando um rastro quase doloroso, arfo.
— O que vai acontecer? — sussurro rapidamente e fico sentada. Minhas costas se apoiam na cabeceira da cama e o observo de cima. Não preciso explicar ao que me refiro, apenas a tensão que vejo curvar levemente seus ombros é a resposta.
— Não sei, querida. — diz — Por que estava pensando sobre isso? — questiona e estica as pernas, passando os braços por trás da cabeça. Posso estar enganada, mas essa postura relaxada não combina com o tom da sua voz.
— E você não está? — indago e sorrio, deslizando pelo colchão até estar deitada ao seu lado outra vez. Sua mão encontra a minha sobre o lençol e ele a pressiona carinhosamente, aquecendo meu coração de um jeito diferente. As batidas dentro do meu peito começam a ficar aceleradas e não sei se é por causa desse ato tão delicado, íntimo ou outra coisa. Só sei que é estranho. É como se houvesse alguma ligação a mais entre a gente. Não apenas uma bagunça de sentimentos e sexo. Algo novo. Como se fosse despertado, pelo menos em mim, algo singular e antigo. Parece até um monte de besteira, na verdade. Mas essa força que sinto crescer no meu interior não é somente uma paixão qualquer. É além disso. Só não sei afirmar o que seja.
— Parceria. — murmura.
— O que? — pergunto confusa e seu sorriso, aquele riso rouco e grave, fazem meus lábios se curvarem também.
— Eu também senti, querida. — diz — Essa agitação e esse fogo sem controle. — seus dedos se apertam sobre os meus e nos viramos, mantendo nossos olhares fixos um no outro.
Posso estar enlouquecendo, mas os pássaros ficaram em silêncio e até a cortina deixou de balançar com a brisa que entrava pela janela. Como se o mundo tivesse deixado de girar naquele segundo apenas para acompanhar esse momento.
— Não entendo. — acrescento e fico impossibilitada de desviar do seu rosto, porque cada marca, cada detalhe, até a cicatriz pequena e fraca sobre o supercilio, parece se acentuar como nunca. Céus, que homem lindo.
— É como se fosse o nosso destino ficarmos juntos. — explica sorrindo — É forte e único. — ele afasta os cabelos em desordem na minha testa e a ponta do seu dedo paira sobre a minha boca — É quando duas almas destinadas se encontram e se entrelaçam com perfeição. — inspiro e seguro o ar quando meu estômago dá uma cambalhota com essa explicação — Apenas estarmos juntos se torna a opção, porque todo o resto deixa de ter importância depois disso, Alice.
Santo Deus
VOCÊ ESTÁ LENDO
Chama azul
Fantasy| SINOPSE | Aos vinte e seis anos, Alice Vieira estava feliz com o rumo que sua vida estava seguindo. Faltavam apenas alguns meses para se formar na faculdade, onde com honras, foi selecionada para uma bolsa integral em Medicina. Morava com seus pai...