Acordo desesperada.
O suor gruda minha camiseta nas costas e a luz do quarto parece me cegar. Tento abrir os olhos alguma vezes, mas mesmo que tente colocar as mãos na frente para diminuir a luminosidade, ainda estou incomodada.
— O que aconteceu? — questiono baixo quando a lembrança invade a minha mente, com aquela sensação da dor atravessando meu corpo e enfraquecendo cada pedaço por onde passava.
— Você desmaiou. —ouço sua voz fria ao longe e não sei se deveria me sentir sortuda por ter sobrevivido. Não me sinto segura o suficiente para comemorar, quando não sei o que vai acontecer. Mais acostumada com a claridade, sento na beirada da cama e endireito a coluna, virando a cabeça até ele.
Depois de uma avaliação rápida e verificar que não há nada de diferente em mim, suspiro aliviada. Pelo menos não fisicamente.
— Por que? — retruco — Você disse que não iria passar de um formigamento. — meu tom ríspido e desconfiado, é o bastante para que curve seus lábios em sorriso de deboche — Isso é engraçado de algum jeito, idiota?
— Saudade do silêncio de antes. — argumenta cínico e distante de qualquer remorso.
— Por que mentiu para mim? — pergunto.
Ele está no chão, jogado no canto como uma mala sem serventia. Suas pernas longas estão esticadas e cruzadas. Seu olhar curioso me encara de um jeito desconfortável e não desvio. Fico apenas passando de um pensamento para o outro, tentando entender essa confusão.
— Não sou um mentiroso. — avisa e o sorriso morre na hora, fechando a cara. Deixando seu semblante severo, como se tivesse se esquecido de usar a sua máscara de gelo por um minuto.
— Você pode ser qualquer coisa. — murmuro — Não sei nada sobre você de qualquer forma.
— Não te enganei. — afirma resoluto e eu até poderia acreditar, se houvesse, de fato, um coração batendo no seu peito. O que eu sabia que não tinha.
— Então que diabos houve comigo? — esbravejo.
— Não sei. — sua boca parece nunca ter dito essas palavras, pois seu olhar sobre mim se aguça, como se eu fosse uma animal exótico em algum maldito zoológico. A repulsa por não entender é tão nítida que embrulha meu estômago. Levo os dedos a têmpora e inspiro profundamente.
Estou apavorada. Esperava qualquer coisa, menos isso. Não estava preparada para o nada.
— E agora, Nathaniel?
— Nath. — interrompe.
— Dane-se seu nome. — resmungo e ele ri com escárnio.
— Talvez esse seu temperamento tenha afastado a magia. — retruca com sarcasmo e dá de ombros. Só existe veneno em suas palavras, nada mais.
— Ou talvez sua magia só é fraca. — comento e arqueio a sobrancelha. Ele franze a testa e sei que isso o acertou. Ponto para mim.
— Você tem coragem, Alice. Isso preciso admitir.
Mal sabe ele, quantas vezes precisei me conter para não encolher o corpo com medo. Apenas com o horror mudo estampando meu rosto, enquanto minha mente gritava sem parar.
— Minha visão está igual a de sempre. — sussurro e fico em pé, ignorando seu comentário. O movimento rápido me tonteia e seguro a cabeceira da cama com força. Vejo sua sombra se aproximando e estico o braço para afastá-lo.
— Não vou fazer nada, garota. — diz com desdém — Só estou bastante curioso.
— Resolva essa coisa, Nathaniel. — ordeno firme — Não quero sentir aquilo nunca mais na minha vida. — ele solta uma lufada de ar, uma mistura de desprezo com impaciência e me observa atentamente.
— Talvez não funcione em você.
— Que Deus te ouça. — murmuro esperançosa — Assim você pode ir embora e não voltar nunca mais.
— Preciso tentar uma coisa. — avisa e avança um passo. Pressiono meu corpo na parede atrás e empalideço.
— O que vai fazer? — pergunto retraída e presa. Mesmo que eu tente escapar para o banheiro, seria idiotice, pois com certeza ele é mais forte do que eu. Acho que poderia até derrubar a porta com um só pé. Céus.
— Não vou te machucar. — seu lábio é uma linha apertada e fina.
Mais um passo.
Seus olhar sério e claro .. e tão bonito, encara os meus de um jeito esquisito. Como se me hipnotizasse novamente, porque não sou capaz de me mexer, embora sinta todo meu corpo se esquentar estranhamente.
Mais um passo.
Ele sorri abertamente como se pudesse sentir toda vez que penso no quanto ele é quente. Mesmo sendo um doente e muito provavelmente, um assassino de mulheres.
Mais um passo.
Eu poderia chutá-lo nos meios das pernas e correr para o resto da minha vida.
— Não tente o que está pensando. Posso ver algum plano estúpido na sua cara. — avisa e cessa o seu andar. Ficando a apenas alguns centímetros de mim.
— O que vai fazer? — repito a pergunta pausadamente e ao tentar me mover, esbarro no abajur, derrubando-o no chão.
Aproveito a sua distração e tento me distanciar, mas Nathaniel é rápido. Seus dedos apertam meu braço, fazendo meu corpo dar um solavanco para trás.
— Merda. — empurro seu peito com o outro braço, mas ele o segura também. Meu peito sobe e desce acelerado, buscando por ar. Muito ar. Vou morrer, é isso.
— O que há de errado com você? — questiona furioso e me solta sem delicadeza — Não vou te machucar, porra. Já falei. — disparo meu olhar até chão e permaneço assim. Não pretendo perder a cabeça por irritá-lo — Olhe para mim, Alice.
— O que foi? — pergunto derrotada.
— Preciso sentir você. — Santo Deus. Sim. Não. O que?
— Como assim? — indago recobrando meu juízo perdido.
— Preciso de uma gota de sangue ou saliva. O que prefere? — o riso que solta ao perceber meu dilema constrangedor é muito fodido. Ele é um fodido. Simples.
— Só isso? — perguntando estranhando.
— Sim. Vou sentir se existir qualquer vestígio em você.
— Não vou te beijar. — digo.
— Eu não estava pensando nisso, Alice. — sinto o rubor queimar minhas bochechas e o observo envergonhada — Vou apenas colocar a ponta do meu dedo na sua língua.
— Isso faz mais sentido mesmo. — declaro e abro a boca. Nathaniel fica mais perto, colocando, como disse, a ponta do seu polegar sobre a minha língua.
Após um segundo ou cinco, ele sorri e percebo que ainda não fechei a boca. Isso foi estranho em um nível bem alto, mas confesso que foi excitante de um modo bem distorcido. Muito distorcido, para ser sincera.
— A magia está em você. Vou ficar aqui até que a mudança aconteça. — e como se estivesse em sua própria casa, ele caminha até a minha cama e se encosta. Deitando preguiçosamente e sorrindo ao cruzar os braços na nuca.
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Chama azul
Fantasy| SINOPSE | Aos vinte e seis anos, Alice Vieira estava feliz com o rumo que sua vida estava seguindo. Faltavam apenas alguns meses para se formar na faculdade, onde com honras, foi selecionada para uma bolsa integral em Medicina. Morava com seus pai...