| A l i c e |
— A fila está enorme. — Ana bufa e revira os olhos.
— Pode escolher não beber. — provoco sorrindo da sua falta de paciência.
— Claro, vou escolher uma cadeira e passar a noite sentada. Quem sabe não encontro alguém para jogar xadrez também. — retruca com sarcasmo e coloca as mãos na cintura — Que saco.
— Vai lá dançar enquanto o show não começa, então. Eu pego os drinks para a gente. — digo e recebo um grito agudo demais como resposta.
— Certo, certo. Vou ficar perto do banheiro. — diz e se afasta animada.
Um grupo de mulheres na minha frente desiste depois de um tempo e saem reclamando da má organização do lugar. Dou de ombros e avanço mais um pouco.
A batida diminui e as luzes se abaixam, quando uma voz grossa anuncia a banda. Como não sei quem são, não presto muita atenção.
— Dois cubra libre. — peço quando chega a minha vez. Deslizo a comanda pelo balcão e espero anotarem o pedido nela, antes de sair com os copos.
Desviando da multidão com cuidado, encontro minha amiga exatamente aonde disse que estaria, só que não está sozinha.
— Oi. — ergo os dois braços, exibindo nossas bebidas.
— Esse é o Breno, Al. A gente se conhece da faculdade. — explica e o rapaz balança a cabeça para me cumprimentar.
— Prazer. — digo e entrego um copo para Ana. Os dois se entreolham por um longo minuto e tenho a sensação de que estou atrapalhando alguma coisa — O que foi? — pergunto.
— Nada. — responde.
— Fala. — direciono meu olhar para ela e entorno todo o liquido de uma vez, fazendo uma gota escorrer pelo meu queixo.
— Ele conhece os caras no palco. — comenta e passa o dedo no meu rosto, limpando — E nos convidou para o camarote.
— Você quer ir? — questiono.
— Sim, mas se não quiser, tudo bem Al, ficamos aqui.
— A fila do bar é menor? — pergunto olhando diretamente para o seu amigo.
— Com certeza. — responde achando graça.
— Então vamos. — completo — Está quente como o inferno aqui, preciso de outro. — sacudo o copo vazio e Ana me abraça, sussurrando no meu ouvido:
— Se ficar em coma não vai conseguir transar.
— Muito engraçado. — retruco, empurrando levemente seu corpo.
Realmente era melhor. Sem dúvida.
Duas pessoas e serei a próxima. Acho que estou fazendo amizade com o barman, pois se não me engano, é a terceira ou a sétima vez que entrego a ele meu cartão para gravar outra compra.
— Você realmente gosta desse. — diz e pondero antes de dizer alguma coisa, pois as palavras parecem não fazer mais muito sentido na minha mente.
— Isso. — digo e tampo a boca com a mão, quando sinto uma cambalhota no estômago — Melhor uma água. — arrasto de volta para ele e aponto para a garrafa na geladeira.
— Boa escolha. — aceno sem jeito e procuro um espaço em algum sofá. Preciso de descanso.
Já estamos aqui há quase três horas e o show parece não ter fim.
Não fiquei com ninguém, não por falta de oportunidade. Dancei com tantos caras, mas nenhum deles atiçou aquela vontade de ir além. Talvez seja o estresse, não sei.
Está legal até. As músicas são intensas e meio sexy, mas a Ana parece estar se divertindo mais. Especialmente porque a sua boca está grudada em um homem muito bonito há uns quarenta minutos.
Coloco a garrafa vazia em uma lixeira e desisto de encontrar um assento. Os que estão sobrando, logo são ocupados e não vou correr ou entrar em uma guerra por isso. Não brinco de dança das cadeiras desde os dez anos e não vou voltar agora. Ainda mais com a gravidade me desafiando após algumas doses.
— Alice. — levo a mão ao meu peito com o susto e viro a cabeça.
— Nathaniel. — sorrio — Que desagradável surpresa. Está me seguindo por acaso? — seus lábios se erguem em um sorriso de desdém e semicerra os olhos.
— Você está na saída. Não posso passar por cima de você. — ele estica o braço, mostrando que estou bloqueando a escada. Sinto o rubor esquentar minhas bochechas e dou um passo para o lado.
Sem agradecer e sem falar mais nada, ele passa por mim, esbarrando seu corpo largo no meu ombro.
— Não tem problema mesmo? — questiona preocupada.
— Não, já chamei um Uber, Ana. Pode ir com ele. — ela encosta sua testa na minha e sussurra:
— Mande uma mensagem quando chegar na sua casa. — assinto e a vejo saindo com as mãos dadas na sua paixão da noite.
Ando alguns metros, quando o aplicativo sinaliza que o motorista está próximo, mas ao atravessar a rua, um barulho alto de buzina me assusta e perco o equilíbrio. Dois carros quase colidem na minha frente e fecho os olhos para não ver meu fim, mas sou puxada para trás com força.
— Você me salvou. — murmuro um tanto surpresa e raspo a palma da mão no vestido destruído. Sinto a ardência de algum provável arranhão, quando minha pele entra em contato com o tecido e torço o lábio.
— Não me olhe assim. — ordena ríspido.
— Não estou fazendo nada. — retruco confusa e fico em pé sozinha. Tão delicado que nem oferece ajuda.
— Sim, está. — Nathaniel suspira alto e me fuzila com os olhos mais frios do que de costume — Não confunda as coisas, Alice. — avisa pausadamente — Estou salvando a mim mesmo, você morrer só me traria mais trabalho e não tenho tempo para esse tipo imprevisto. — finaliza com um tom arrogante e com a voz grave, como se a minha vida não valesse nada. Sou apenas uma peça nesse seu jogo doentio, sem importância a longo prazo. Apenas um papel a ser cumprido e depois a ser descartado. Não que isso seja um desejo, quanto antes estiver livre dele, melhor, mas enquanto esse momento não chega, não vou permitir ser tratada como lixo.
Fico em pé e sinto a raiva fazer seu caminho pelo meu corpo. Não sei se é a coragem do álcool ou por já estar farta dele, mas aponto o dedo no seu rosto e o encaro furiosamente.
— Você precisa de mim, idiota e não o contrário. — esbravejo e ele sorri, o que me enfurece ainda mais — Não gosto de você nem um pouco, sabia? Então não seja um filho da puta insuportável a cada minuto. — sinto meus lábios tremerem e como sempre, em todo episódio de fúria, um nó se forma na minha garganta e sei que vou chorar.
— Inacreditável. — comenta impaciente ao observar minha expressão chorosa e continua — Vá para casa e tome um banho, você está fedendo a macho.
— Você é um porco. — vocifero.
— Já ouvi coisas piores. — declara sorridente e marcha para longe, com os passos confiantes e firmes.
— Eu te odeio. — grito e ele gira o corpo para trás, andando de costas ao responder:
— Ainda sinto seu cheiro daqui. — gargalha e volta a caminhar despreocupado.
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Chama azul
Fantasy| SINOPSE | Aos vinte e seis anos, Alice Vieira estava feliz com o rumo que sua vida estava seguindo. Faltavam apenas alguns meses para se formar na faculdade, onde com honras, foi selecionada para uma bolsa integral em Medicina. Morava com seus pai...