| NA T H |
- O que estava fazendo lá dentro, Alice? - questiono desconfiado e a encaro.
- Estava usando o banheiro. - ela empina o queixo, exibindo uma valentia quase engraçada. Escoro na parede e fico em pé. Caminho alguns passos até ficar bem próximo dela e enfio minhas mãos nos bolsos, deixando a cabeça de lado enquanto a observo seriamente.
- Você nem deu descarga. - acrescento e vejo a surpresa passar por seus olhos, talvez não tenha se atentado a isso, o que significa que estava aprontado alguma coisa - O que você fez? - pergunto outra vez.
- O que eu poderia ter feito dentro de uma banheiro, pelo amor de Deus? - ela sorri abertamente, mas não me engana, ainda mais quando posso sentir a sua respiração mais acelerada, buscando por um ar que parece sufocar seu peito. Culpa faz isso com as pessoas.
- Posso pensar em várias coisas. - sorrio também e me aproximo mais - Espero que não tenha feito nenhuma besteira. - a examino com atenção e ela engole em seco, desviando seu olhar para o chão.
- Para de viajar, Nathaniel. Vamos acabar logo com isso. - resmunga na tentativa de mudar o assunto e sorrio ainda mais.
Tudo se torna mais complicado com ela. Mais divertido. Nada é exatamente como deve ser, porque Alice parece ter o dom em transformar qualquer merda em uma dor de cabeça para mim. Parece sentir prazer em dificultar cada momento. E não vou reclamar. Estou gostando demais de cada encrenca que ela arruma. Pelo menos, torna o processo menos tedioso. Mesmo que eu sinta minhas mãos esquentarem com a vontade do caralho de dar a ela uma lição. Umas boas palmadas nas suas nádegas resolveria essa sua rebeldia. Ou não. Eu a foderia no final, provavelmente.
- O que foi? - ela franze a testa e seguro o riso. Queria segurar a sua mão e apertar com força. Posso sentir daqui a tensão dominando o seu corpo a cada minuto em que estamos mais perto de terminar tudo. Nos seus olhos que não conseguem me fitar diretamente e nos seus ombros, que parecem tão duros, como se estivesse com algum incômodo muito forte nos músculos. Um peso invisível pressionando para baixo.
- Nada. - digo - Você parece que vai passal mal a qualquer momento.
- Estou preocupada. - confessa e solta uma lufada de ar, se sentando na cama em seguida. Aceno e tento não reparar na sua coxa, que parece ter dobrado de tamanho quando se esparramou pelo colchão ou na curvatura dos seus seios sobre a camisa justa, ou até mesmo na sua boca, que recebe uma passada de língua lenta e suave sobre o lábio inferior.
Porra.
- Preocupada? Achei que estaria aliviada. - replico e me sento ao seu lado. Mantendo uma distância curta e segura. Alice se afasta milimetricamente e suspira fundo.
- Talvez eu não queira esquecer tudo. - sussurra.
- Isso não tem importância nenhuma. - minha voz ríspida tem o efeito desejado, pois ela ri de um jeito nervoso e se afasta mais um pouco.
- Você não precisa ser um babaca. - diz baixo e a mágoa no seu timbre, mesmo que eu negue, causa uma sensação ruim no meu peito, como se eu quase me sentisse mal por ela, mas não existe nada aqui além de um trabalho que acabou e que precisa ser apagado da memória. Então, ignoro essa pontada e forço um sorriso.
- Eu até pediria desculpa se realmente sentisse muito. - declaro grosseiramente, porque quero despertar alguma raiva nela, preciso que ela me odeie e despreze tudo o que aconteceu. É muito mais fácil lidar com a rejeição.
Eu sabia que toda essa história daria merda no momento em que coloquei meus olhos nela, mas as coisas são o que são. Não vou mudar como tudo funciona. Alice não é tão especial assim para que eu arrisque a minha posição e a minha cabeça. Existem pontos muito mais importantes para lidar do que me perder no meio das suas pernas. Claro que seria fodido demais, não posso nem pensar da sensação do meu pau dentro dela que começo a ficar duro, mas ainda assim não vale a pena o risco. Talvez por um segundo ou dois, mas nada além disso. Diversão nenhuma terá mais valor do que o meu propósito.
Reúna todos, Nathaniel. Do norte até o sul. De leste até o oeste. Se preparem, pois o inimigo não descansa e não dorme. Não sente e não se arrepende. Tempos sombrios estão a caminho e o exército dos céus clama por seus guerreiros.
Minha mente recita essas palavras, pronunciadas como um trovão dentro da minha cabeça, em cada instante em que sinto a proximidade desse destino. Tão certo e inevitável quanto a morte para um humano.
- Pode fazer então. - diz com o semblante pétreo. Sem emoção, sem nenhum vestígio de nada. Conheço essa armadura, pois é como se visse meu próprio reflexo nela. Um escudo muito bem armado, mas não impenetrável. Seus punhos se apertam, fazendo uma veia saltar em seu pulso. Ela não quer nada disso, mas desistiu da luta. Muito bem, Alice. Admiro a sua força.
- Fique em pé. - ordeno e ela obedece. Acompanho seu movimento e me posiciono na sua frente - Está bloqueado. - aviso e estico o celular. Seus dedos trabalham rápido, mas não firmes. A tremulação em cada parte dela é como um soco no meu estômago. Queria não precisar fazer isso. Alice parece um bom divertimento de se ter na lista, mas como eu bem sei, é um problema também - Assim que terminar, vou ler tudo o que você escreveu e essas serão as lembranças que existirão como verdadeiras. - ela fica em silêncio e joga o cabelo para as costas, deixando o rosto livre dos fios em desordem - Alguma dúvida? - pergunto.
- Não. - ela continua gélida e indiferente. Queria muito saber seus pensamentos agora. Será que está feliz por se ver livre ou de alguma forma, triste?
Alice se mexe e levanta os olhos. Aquelas bolas redondas e tão perto do castanho natural, me observam com um misto de ódio e... desejo. Como pode ficar tão transparente nessa velocidade? Há segundos parecia não haver sequer uma alma em seu corpo e agora entreabre os lábios em um convite silencioso. Alice me intriga.
- Quer saber? Que se foda. - esbravejo e quando a sua expressão surpresa me encara de volta, sorrio e a puxo para mim. Mordendo o canto da sua boca de leve antes de beijá-la com força.
Apago a sua memória mais tarde.
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Chama azul
Fantasy| SINOPSE | Aos vinte e seis anos, Alice Vieira estava feliz com o rumo que sua vida estava seguindo. Faltavam apenas alguns meses para se formar na faculdade, onde com honras, foi selecionada para uma bolsa integral em Medicina. Morava com seus pai...