| N A T H|
Seguro o riso quando a boca de Alice se abre e logo se fecha novamente diversas vezes. Cutuco seu braço e franzo a testa quando ela se assusta com o meu toque leve. Seus pensamentos parecem estar longe e ao mesmo tempo, perto demais. Nenhum som é emitido e não sei o quanto isso pode ser ruim. Pela primeira vez, permiti que me conhecessem por inteiro e agora não sei se foi, de fato, o certo. Ela parece bem, mas bastante confusa. Aliás, confusa em uma proporção gigantesca e isso me desespera um pouco, mas também me preenche com um calor diferente.
Essa garota é imprevisível.
Alice pode destruir meu coração e acabar comigo, e ainda assim, fico a mercê por escolha. Se me esforçar, posso sentir o vento cortante que batia no meu rosto, aquela brisa gelada que não me trazia nada, nem mesmo frio, enquanto subia com a moto para o topo do monte. No dia em que fiquei cansado de ser eu. Cansado da decisão que tomei e com raiva de deixá-la para trás para trilhar o destino que nem escolhi. No dia em que apaguei as nossas memórias da sua mente e acreditei ter pedido a única coisa que já teve valor na minha vida. Posso sentir claramente a dor lacerante que parecia partir meu peito em dois. Deixei um fração da minha essência na casa dela e felizmente, ela encontrou o caminho de volta. Tornando completo o que estava quebrado.
Viro a cabeça no travesseiro para ficar de frente para Alice. A tonalidade que suas bochechas tomaram é malditamente adorável. Posso ver a sua expressão pensativa e o misto de sensações que parecem sem controle, buscando um caminho para fora do seu corpo. Suas pernas se mexem de um jeito meio esquisito, fazendo com que o lençol se enrole aos seus pés. Viro outra vez a cabeça de lado e fico apenas acompanhando seus movimentos distraídos. Estranho, é como se não fosse capaz de encontrar nenhuma posição confortável o bastante, depois de ouvir que eu disse há alguns minutos.
Apenas estarmos juntos se torna a opção, porque todo o resto deixa de ter importância depois disso, Alice.
Seus olhos estão arregalados nesses instante e seu peito sobe e desce em uma velocidade absurda, como se nem todo o ar do quarto fosse o suficiente para acalmar seus pulmões enlouquecidos. Tenho certeza que se eu colocar a mão sobre o seu seio agora, vou sentir as batidas aceleradas do seu coração pulsando na minha palma.
Mordo o lábio para conter a risada e continuo observando seu corpo - tenso e desconfortável -, que se move de um lado para o outro, como se estivesse deitada sobre um formigueiro.
É tão sufocante assim a idéia de estar ligada a mim?
Poderia jurar que a reação dela seria diferente. Escondo a decepção que começa a emergir, queimando cada célula e fazendo uma dor nova se instalar no fundo do meu estômago e sorrio fracamente para disfarçar o esmagamento que sinto.
— Estou ficando preocupado, querida. — sussurro — Pensei que ficaria feliz ao saber disso. — confesso e seguro sua mão, apertando levemente e trazendo até a minha boca para um beijo carinhoso.
— Desculpa. — diz, com a voz baixa — Não é isso. — murmura e desvia o olhar rápido demais. Um alarme soa dentro da minha mente e a encaro ainda mais ansioso, com um peso que parece afundar minha alma até o chão. Merda. Talvez eu tenha me enganado e a sensação familiar de desprezo, que não sentia há anos, começa a arder meu peito.
— O que é, então? — pergunto receoso e aperto seus dedos delicados e quentes contra os meus.
— Essa coisa é meio esquisita, não acha? — pergunta quase em um sussurro — E se eu não for a pessoa certa? — quase posso escutar os parafusos na sua cabeça entrando em colapso buscando por alguma coisa lógica — Como um humano pode ser o destino de um anjo? — indaga constrangida — Nem faz sentido. — talvez a sinceridade desse comentário a tenha assustado de alguma forma, pois sua mão voa rapidamente até a própria boca, como se fosse possível enfiar as palavras de volta para dentro.
— Não se esconda de mim. — digo e puxo seu pulso para longe dos seus lábios — Isso é novo para mim também. — murmuro e fico mais aliviado ao descobrir que a preocupação que estampava seu semblante era apenas na mecânica disso tudo, em que como seria essa estranheza de ligação e não na falta de algum sentimento por mim. Acho que abri mão da minha existência celestial ao me render e seria uma ironia do cacete acabar sozinho. Sorrio e aperto os olhos com força por um segundo, mantendo essa excitação e essa sensação boa dentro de mim.
— Isso é coisa de filme, coisa de livro, sabe? Tipo do Jacob e da Renesmee. Quando ele tem um imprinting com a filha da Bella. Isso acontece em Forks, entende? Santo Deus e não em Minas Gerais. Isso é... incrível e assustador. — diz com pressa e atropelando as palavras. E eu, fico apenas em silêncio, porque não entendi porra nenhuma agora — Estou feliz... Sério, Nathaniel. — seus olhos encontram os meus e ela arfa pesadamente recuperando o fôlego. Tão linda — Só estou um pouco chocada de que isso exista de verdade. — um riso baixo vibra pela sua garganta e parece ir direto até o meu pau, pois no segundo em que ouço esse tom doce, meu corpo se incendeia, como se Alice fosse sempre a tocha que tem o poder de por fogo em tudo. Até mesmo na minha consciência, que virou cinzas desde que a conheci. Um pedaço que foi queimado e jogado ao vento a cada novo encontro, até não restar nada de lúcido, deixando apenas essa brasa no lugar.
Levo um momento encarando seu rosto bonito e suspiro relaxado. É engraçado a forma como um coração partido pode se reconstruir tão rapidamente. Talvez, no final das contas, ser um humano não seja uma experiência tão desagradável assim.
Desço lentamente até a ponta da cama e afasto suas pernas, traçando minha língua vagarosamente pela parte interna da sua coxa e subindo lentamente até encontrar a sua calcinha. E, enquanto Alice se contorce embaixo de mim, perco todo o meu controle ao sentir seu gosto.
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Chama azul
Fantasy| SINOPSE | Aos vinte e seis anos, Alice Vieira estava feliz com o rumo que sua vida estava seguindo. Faltavam apenas alguns meses para se formar na faculdade, onde com honras, foi selecionada para uma bolsa integral em Medicina. Morava com seus pai...