Capítulo 30

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|  A L I C E |

Acordo sozinha e gosto disso. Nada daquele clima estranho onde nenhum de nós dois saberia como agir. Um beijo, um abraço, aperto de mão? Prefiro pular essa parte e pelo visto, ele também.

Ainda posso sentir o calor do seu corpo sobre o meu e a minha pele se arrepia. O seu perfume forte parece ter ficado grudado no travesseiro, pois o quarto parece inundado com o seu cheiro, como se ele ainda estivesse aqui. Inspiro fundo e fecho os olhos. É uma fragrância e tanto.

Nathaniel me surpreendeu. Não que eu esperava menos, mas também não esperava tanto. O cara parecia uma máquina e fazia tempo que não gostava tanto de uma transa assim. Pena que não terei lembranças sobre isso, porque me dariam ótimos pensamentos. 

Abro as cortinas e conforme imaginei, a vista pela manhã é incrível. O vidro parece ser a porta para algum outro mundo, pois o que vejo a minha frente é lindo. A grama verde se estende por todo o quintal e em constraste com o azul marcante do céu, o ambiente parece alguma pintura. É maravilhoso. Talvez essa casa nem seja dele, pelo humor sombrio que ele tem, essa paisagem não combina muito com a sua personalidade estranha.

Enquanto a água do chuveiro leva embora a essência dele que estava presa em mim, imagens da madrugada tomam a minha mente. Do seu toque forte e ainda assim, na medida certa, percorrendo cada centímetro do meu corpo, fazendo com minhas costas se arqueassem e meu coração batesse mais rápido. Do seu beijo quase violento e molhado, que fazia meu quadril se erguer ao seu encontro cada vez com mais urgência, buscando e buscando se libertar do desejo que parecia me destruir aos poucos. Céus. O homem sabe como enlouquecer uma mulher. Aperto as pernas com força. Isso precisa acontecer de novo. O melhor sexo da minha vida com uma pessoa que não lembrarei em alguns dias. Que destino de merda.  

Assim que saio do banho, caminho pelo corredor e vou para a cozinha. Ele está sem camisa e com uma xícara na mão.

— Bom dia. — digo.

— Bom dia, Alice. — responde — Tem café e pão de queijo. — diz e se levanta, mas assim que me vê, abre a boca para falar alguma coisa, mas muda de ideia e a fecha novamente.

— O que foi? — pergunto.

— Seus olhos. — comenta.

— O que tem eles? — corro até o microondas para ver meu reflexo e sorrio — Está voltando ao normal. — minha íris está misturada entre o castanho e o azul. Como se seu fosse uma gata de alguma raça exótica. Diabos, achei que demoraria mais, já que foi uma eternidade para começar o efeito. Um sensação ruim se aloja no meu peito e sei bem o que é. Eu não quero ficar, mas também não quero ir embora, porque quando isso acontecer, por mais que estarei livre, não o verei mais e por mais bizarro que seja admitir isso, não o vejo mais com os olhos de medo, agora só consigo olhar para ele e lembrar das suas estocadas firmes e deliciosas. Eu, realmente, preciso de alguma ajuda profissional.

— Não temos muito mais tempo, então. — replica sério — Vou preparar as coisas. — e assim, sem nenhum sorriso, a noite de ontem pareceu nunca ter acontecido. Nenhum menção, nenhuma reação. 

Voltamos a estaca zero.

Não que eu estivesse esperando flores e café na cama, mas ainda tinha esperança de uma segunda rodada. Seria uma ótima saideira. Mas pelo que estou vendo, isso está fora de questão. Uma pena, na verdade, porque eu ainda queria mais um pouco.

Como sozinha e fico rolando pelas notificações do celular. Nada de ninguém. Minha vida é entediante mesmo. Ele tinha razão nessa parte. Mas se aprendi uma coisa com toda essa experiência esquisita, é que uma pessoa pode bagunçar todos os seus planos e mudar a rota de tudo. Então, quando sair desse lugar e recuperar a normalidade dos meus dias, serei essa pessoa. Não que meus objetivos mudaram. Isso jamais. O que quero dizer, é que viverei de outro modo. Um jeito melhor. Honestamente, não melhor e sim mais intensamente. Quero ter lembranças de alguma diversão, porque quando penso em mim hoje, só consigo lembrar do hospital e da faculdade, e me recuso a ser apenas isso. 

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