Capítulo 4

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| A l i c e |

Caminho apressada pelo corredor, enquanto minhas mãos tremem com o nervoso e o medo misturado, um misto de sensações que parecem despertar todos os meus sentidos. Deixando minha mente em um estado de alerta obscuro. Por que isso está acontecendo comigo?

Meus passos são automáticos, apenas movimentos ensaiados que me distanciam cada vez mais dele, colocando a cada instante, um espaço maior entre nós. E é exatamente disso que necessito. Ficar longe daquele homem esquisito. Meu Deus, estou uma bagunça.

Sinto um arrepio atravessar meu corpo, quando percebo que esqueci a porcaria da carteira e do celular no banheiro. Só de pensar na possibilidade de voltar e talvez ainda encontrá-lo, meu peito aperta de um jeito forte, como se o ar fosse retirado dos meus pulmões e eu fosse adoecer. Um sentimento horrível que se instala em cada pedaço meu e não sei como me livrar disso. Não sei como me libertar dessa emoção ruim e apavorante.

Mas por que preciso ser corajosa assim?

Posso simplesmente chamar algum segurança e inventar que tinha um bicho lá dentro ou qualquer outra besteira.

Inspiro profundamente e paro de andar. Viro lentamente e a passos lentos e calculados, rumo atrás das minhas coisas, não antes de mudar o destino para a sala da administração predial.

— Boa Noite, tudo bem? — pergunto ao me aproximar de um homem rechonchudo. Sua expressão neutra, como se estivesse dormindo de olhos abertos e a sua falta de qualquer resposta, é quase tão assustadora quanto aquele sujeito sem sangue — Amigo, licença. — falo mais alto e balanço a mão na sua frente.

— Estava de fone, menina. Desculpa. — diz ao puxar os fios escondidos atrás dos cabelos compridos e me sinto mal na mesma hora. Uma idiota. Não que seja uma desculpa, mas estou meio sem noção agora.

— Sem problemas. — sorrio — Fui ao banheiro e acabei saindo tão desesperada por causa de um morcego, que esqueci de pegar meu celular sobre a pia e agora estou com medo de voltar. Poderia verificar se ele ainda está lá? — pergunto com uma cara de pânico, mas sem fingir, só o motivo que é outro, mas não importa.

— Claro, agora mesmo. — declara e fica em pé.

Ao nos aproximar, ele abre um pouco a porta e pergunta se pode entrar. Atencioso esse guarda, poderia ter alguma outra mulher lá dentro e se assustar com a sua presença.

— Parece vazio. Fique aqui. — ordena confiante e mesmo que não fosse, nada me faria fazer o contrário nesse momento.

Após alguns minutos angustiantes, ele retorna com as minhas coisas.

— Não encontrei o bichinho. — avisa — Amanhã peço para olharem de novo, tudo bem?

— Muito obrigada e desculpa te incomodar. — comento.

— Não por isso. — maneio a cabeça em agradecimento e me desloco para o refeitório, dessa vez, sem paradas nenhuma.

Confiro o relógio e vejo que tenho menos de meia hora antes de retornar ao meu plantão.

Vou até a máquina e insiro meu cartão, escolho um pão com salame e queijo, e um refrigerante.

Dane-se, preciso de energia. Nada como uma coca. Nem mesmo café vai me ajudar essa noite.

Como sozinha e afastada de qualquer companhia. Basta um olhar para começar as perguntas, sei que não estou bem. Eu não me sinto nada bem. Quanto menos explicações precisar dar, melhor.

Preciso de você para um trabalho.

Sério? Quem aborda alguém desse jeito, intimidando e espalhando o terror?

E que tipo de emprego ele poderia oferecer?

Que droga aquele homem é, na verdade?

Tantas dúvidas e nenhum resposta de novo.

Frustrante ao extremo novamente, pelo menos isso posso esperar dele.

Esteja pronta.

Esteja pronta uma ova.

Próxima oportunidade a conversa vai ser outra. Vou exigir que me conte mais sobre ele e se tentar me hipnotizar ou o que quer que seja, assim que estiver livre, vou apertar tantos meus dedos ao redor do seu pescoço, que não haverá saída, se não a verdade saindo dos seus lábios.

Sou uma ridícula. Quem estou querendo enganar?

Quando estou perto dele, minha mente me abandona. O pavor invade meu corpo e nada me faz reagir como gostaria. E mesmo que conseguisse, ainda sou controlada de alguma forma. Céus, o que ele é?

Isso vai tirar a minha paz.

Esse pensamento vai se tornar tão abrasador e único, que vai me infernizar até descobrir algo.

Assim que termino de comer e descarto o lixo, reparo que a tela do meu telefone está riscada. Não me recordo de ter derrubado.

Aponto o aparelho contra a luz e o que vejo, faz um calafrio percorrer minha pele. A palavra contida nele, gravado sobre o vidro de propósito, gela minha barriga.

NATH

Que diabos é isso?

Chama azul Onde histórias criam vida. Descubra agora