15

3.8K 534 213
                                    

Vi o início do burburinho no portão e começarem a ir de um em um até lá. Eu estava mais afastada, não dava pra ouvir, mas já fiquei alerta quando vi o desespero da irmã do Fabinho.

Eliene: E o Ícaro, Maurício?

Quando eu cheguei perto só ouvi a Eliene perguntando isso, mas nem tava entendendo nada, nem ele também respondeu.

Dandara: O que aconteceu, gente?

Ninguém respondeu, meteram outra conversa por cima real. Papo reto, eles estavam em um desespero pra pegar documentos, Maurício mandou ir buscar logo, daí foi pega carro, moto, um fuá!

Dandara: O que aconteceu, Maurício? - segurei ele pelo braço. - Fala, caralho!

Precisei xingar pra esse corno olhar pra mim, sabe? Só assim pra me responder porque tava desnorteado, me deixou no vácuo, eu estava no escuro na situação.

Maurício: Cara... - passou a mão na cabeça. - Rolou um acidente com eles, carro pegou na moto de lado, maior doideira. - falou nervoso.

Ele nem me explicou mais, prima dele desceu com as coisas e ele já foi saindo com o documento levando o Tio na garupa. Povo se arrumou pra ir atrás também, aquela agonia e calcei minha sandália pra ir também.

Eliene: Carro não dá, já vai a família, acho melhor você ficar aí! - me travou de ir.

Não ia brigar, mas já fiquei puta! Falou na maior arrogância como se eu não fosse nada pro Ícaro, como se eu fosse ninguém.

Papo reto po... Mesmo eu querendo falar, me calei pelo momento. Me segurei pra não respondê-la, pois se eu respondesse daria ruim.

Eles foram e eu fiquei ali esperando com a namorada do primo do Ícaro. Eu tava nervosa já, ainda com o que a irmã do Ícaro me disse entalado na garganta, não desceu... Sério, fico doente quando não falo o que quero, fico doente!

Tava andando de um lado pro outro, maior demora, ninguém tava notícia. Ficamos naquele martírio até  que o primo dele voltou de moto querendo documento de Ícaro.

Dandara: Acho que tá com ele, ele disse que tá no carro, ia pegar antes de ir. Não sei! - falei nervosa.

Ele foi pegar uma blusa pra alguém e voltou, nisso eu segurei ele pelo braço e pedi que ele me levasse também, que se tivesse de ir pra hospital eu queria ir com o Ícaro.

Não falou nada, nem que sim e nem que não, nem muito menos olhou na minha cara, mas eu entendi que era um sim né? Então só montamos na moto e fomos.

Quando a gente foi chegando perto, já avi o pessoal no acostamento sentados no chão de cabeça baixa, uns chorando e um ambulância do samu no local!

Se eu já estava nervosa, fui só piorando. Desci da moto e fiquei olhando pra cara do povo, mas ninguém me falou nada.

Na samu tinha alguém sendo atendido que eu tinha visto, então eu ia me aproximar mas o Maurício me pegou pelo braço, não deixou eu ir.

Dandara: É Ícaro que tá lá, cadê ele? Não tá bem não? - falei apreensiva. - Ein?

Caralho, quando ele olhou pra minha cara e balançou a cabeça em negativo as carnes do meu corpo já tremerem, minhas pernas já bambearam, mas eu mantive, tentei segurar a minha onda!

Dandara: E ele tá onde? Como assim? - falei procurando. - Ele já foi pro hospital? - ele não me respondeu. - Fala, Maurício! - falei alto.

Ele não me respondeu e eu já comecei a olhar pra todos os cantos, a procurar, tava sem entender, não queria, não queria assimilar.

Olhei a cena, não tinha sido uma batida de lado nem aqui, nem a pau, o baque foi de frente. Frente do carro todo amassado, tinha vidro pra tudo que é canto e a moto estava caído de lado toda fudida.

Cena do acidente não tava maneira, tinha tudo, todo mundo mas eu ainda não tinha enxergado ele. Cara, não tinha notado ainda... então fiquei sem entender!

Eu olhava pra todos os lados, via o povo chorando mas não sabia o porque, eu não tinha visto ainda e só fui me tocar quando olhei pra baixo do carro.

Vi um pé, na verdade um calcanhar de alguém já que estava de bruços e atrás do carro. Eu balancei minha cabeça em negativa começando a entender o que tinha acontecido, mas não queria crer.

Não queria crer, pra mim não poderia ser real, não ia aceitar! Não mesmo! Comecei a andar em direção ao carro e a medida que ia se revelando o corpo no chão, eu ia confirmando e passei a me desesperar.

Sabe, passou um filme na minha cabeça... tava passando um filme na minha cabeça contra a minha vontade, pois eu me lembrei que já fiz esse percurso, sei o quanto é doloroso.

Então me recusava a aceitar, não queira aceitar, não aceitaria passar por isso de novo, não aceitaria estar de novo caminhando para encontrar outro corpo no chão de quem eu adorava...

Dei dois passos pra frente e pude ve-lo por inteiro, não aceito! Eu comecei a negar, gritar, me beliscar, me arranhar, queria me machucar... pois estava doendo.

Dandara: Não... não! Não, não, não, não. - fui chegando pra perto dele. - Não, não aceito! Ícaro... - gritei.

Não tinha sangue nenhum ao redor, ele estava de cara no chão sem capacete e com alguns arranhões em seus braços. Mas não tinha sangue, então no momento de desespero, negativa... pra mim tinha que ter jeito.

Dandara: Ícaro, levanta! - toquei nele e ele já estava gelado. - Ícaro... levanta, caralho! - já comecei a gritar. - De novo nao, de novo nao, nao, não aceito!!! Eu não aceito! - falei enquanto chorava desesperadamente.

Eu caí ali no chão sentada e chorei a beça, gritei, me debati, arranhei e belisquei até que me seguravam, me tiraram dali e me levaram pra longe!

Fui pra perto da ambulância da Samu mas não entrei, fiquei encostada na porta. Uma enfermeira me deu um calmante, na verdade me obrigou, mas eu só sabia gritar e chorar.

Caralhoooo, de novo não cara! Como assim? Por que comigo? Por que eu tenho que sentir essa dor e passar por tudo isso novamente?

Dandara: O que aconteceu com ele? O que aconteceu? - segurei no braço dela. - Ele não tá sangrando, ele não tá sangrando... Porque vocês não estavam atendendo ele? Tentando salvar a vida dele? - falei chorando.

Xxx: Se acalme... - eu balancei a cabeça em negativa.

Dandara: Me acalmar é um caralhoooo, eu quero saber! Me diz, fala.

Xxx: Infelizmente quando chegamos no local do acidente já encontramos o corpo dele sem vida, pela gravidade da batida constatamos que ele acabou quebrando o pescoço na queda e veio a falecer. - balancei a cabeça em negativa enquanto chorava.

DANDARA  👠 (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora