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Dandara: Sabe porque você tá aqui? Por que tu veio pra cá? - o encarei.

Uendel: Não! - falou serinho.

Dandara: Por que eu escolhi te trazer, porque eu acredito em você, amo você e não quero te deixar lá a mercê pra se afundar mais ainda, Uendel. Se afundar mais e mais... - já falei chorando. - Tua mãe mandou eu trazer a tua irmã, sabia? Mandou eu olhar ela que era pequena, que eu não teria trabalho, mas eu escolhi você. - ele ficou sério me encarando. -Te escolhi porque não quis  te deixar lá, não fazer nada, assistir teu declínio de camarote po. Você tá aqui porque quero te ajudar, quero que você saia dessa que isso não é vida pra ninguém!

Nosssa! Falei a beça pra ele, falei as coisas do fundo da minha alma mesmo porque o que eu vi naquele dia me doeu muito, muito mesmo.

Tanto por ele, pela mãe dele quanto pela minha sobrinha, sabe? Papo reto po, nem consegui dormir pensando nela.

Eu achei meus documentos naquele dia, mas eu desisti de ir lá e voltei lá em casa. Voltei, peguei minha sobrinha e peguei ele pra levar na boca e falar o que tinha acontecido, tentar achar quem foi.

Não deu em nada não, afinal as pessoas que ele lembrava que estavam com ele minha sobrinha disse que não era, sabe? Só que eu ao menos fiz a minha parte e o que a minha consciência mandava.

Uendel: Po... Tu acha que se eu tivesse visto na hora eu ia deixar passar? Minha irmã po, tá maluco, tá maluco... - falou balançando a cabeça em negativa.

Dandara: Mas se você não tivesse andando com gente errada, não tivesse levado estranhos pra dentro de casa nada disso teria acontecido. Tem amigos e amigos... Amigo de farra, gente que tu não conhece e só se junta contigo pra usar droga e fazer coisa errada não se põe em casa, não se deixa sozinho com irmã pequena não. Assim como foi só isso e se acontece algo mais, e aí? - o encarei abrindo os braços.

Uendel: Eu sei que tô errado po...

Dandara: Sabe, mas vai continuar? Vai continuar com essas amizades? Vai continuar usando? Isso é só desgraça po, só tormento tanto pra você, quando pra tua família.

Uendel: Eu sei po, eu vou sair dessa, eu vou sair dessa... Você vai ver, não vou mais fazer essas paradas não. - disse limpando as lágrimas.

Conversei com ele uma cara, pesei bem na mente, orientei, dei conselhos e espero de verdade que ele siga, que saia enquanto é tempo.

Dandara: Tô te trazendo pro meu espaço! Eu te trouxe pra você me ajudar e quem sabe futuramente te contratar, sabe? Deixa só Deus ajudar e as coisas melhorarem! - sorri. - Então eu espero de verdade não me arrepender, pois estou confiando em você.

Não ia pagar nada agora pra ele, porque se desse dinheiro com certeza ia gastar todo nas drogas. Já na
questão de confiança, falei que estava confiando porque eu sei que tem que mostrar que acredita na pessoa, né? Mas eu de verdade não confiava não!

Não confio nem na minha própria sombra, imagina na dos outros? Eu ficaria de olho, não vacilaria com dinheiro e ficaria ligada ao máximo nele.

Ele não dormia aqui não, todo dia ia e voltava, mas eu também só liberava as cinco da tarde, daqui da favela pra lá é quase uns quarenta minutos então seria o tempo que Vânia estaria chegando em casa.

Me ajudava a arrumar as coisas, colocava pra contar os engradados, carregava comigo. Também aproveitei, já que antes era eu só pra tudo!

Cara, de um nada eu lá sentada com o Uendel brota o bofe lá. Papo reto po, fico de cara com esse pvoo, pois tenho certeza que é fofoca...

Nego fala, não é possível. Bofe veio aqui porque? Veio saber quem era que tava aqui, averiguar, pois tinha nem lógica.

Esses tempos todos a gente sem se falar nunca veio aqui, nem antes que a gente saía. Daí agora uma semana depois que trouxe meu sobrinho, ele brota???? Ata po!

Saddam: Quem é? Teu filho? - já chegou perguntando direto e reto.

Dandara: Aqui só tem gente fofoqueira né cara? Passada com isso! Realmente tu sabe tudo que quer, porque nego não fica de boca fechada, passa a fita da vida alheia mermo.

Se fez de doido ele, ridículo. Me respondeu tu? Pois ele fez que não era com ele, não tinha ouvido minha resposta e continuou perguntado. Dei logo uma trava!

Saddam: Tua mãe, menó? - questionou o Uendel.

Dandara: É po... tive ele com seis anos! - respondi. - Não tá vendo que não bate? Ih! Quer alguma coisa?

Saddam: Tá estressa tú né? - falou sarcástico. - Vou levar nada não. - encarei ele puta. - Mais tarde passo aqui pra pegar o que eu quero quando tiver de carro.

Nem respondi mais nada, ele meteu o pé e eu vi que ele tava foi de carona de moto. Tô dizendo po, só veio aqui averiguar...

Dandara: Escroto! - falei puta.

Uendel: Tu conhece? É bandido, tava com a peça na cintura. - eu assenti.

Passei a tarde lá tranquilinha, nada pra nada... deu cinco liberei o Uendel e fiquei lá até sete horas, era mais ou menos o horário que eu abaixava as grades pra fechar diariamente.

Meu horário já de sair o cretino voltou, não se manca não. Jurava que ele não iria voltar pra pegar nada, mas voltou e ainda voltou de carro.

Ele voltou, pagou, fez maior cena levando um engradado de cada vez pro carro e ainda voltou aqui pra dentro de novo ao invés de seguir o caminho dele.

Dandara: Se tu não percebeu eu já abaixei as grades, quero fechar! Da licença?

Saddam: Quero saber até quando tu vai ficar nessa comigo po, maior bobeira, bagulho chato. Tô me estressando já! - meteu serinho.

Dandara: Eu que tenho motivos pra me estressar contigo não me estresso, faço que tu não existe e você que tá bolado?

Saddam: Não existo? - deu um meio sorriso sarcástico. - Tú é foda, cara! Tu pega pesado com as palavras né? Quando quero atingir é foda, tô ligada qual é a tua, jovem. - respirei fundo.

Dandara: É? Se tá ligado mesmo, deveria se mancar, me deixar. Já me esculachou, foi super escroto... - ele me travou.

Saddam: E tu não fez o mesmo nao? Até de viado me chamou po, tem ideia? Coragem falar uma parada dessas, te admiro por isso. - falou sério. - Tua sorte que me pegou em uma boa fase, se fosse em outros tempos daria ruim.

Chamei ele de assassino, dos caralhos a quatro mas o homem só sentiu quando chamei ele de viado. Posso com isso? Macho é foda! Tnc!

Dandara: Foi na hora da raiva! - meti serinho. - Mas você fez pior né? Jogou na minha cara outras paradas, fez maior deboche e não foi homem de vim conversar comigo na moral, saber minha versão, ouvir a minha história pela minha boca não pela dos outros.

Saddam: Errei mesmo, fiz molecagem... vacilei!

Dandara: Ainda bem que tu sabe. - interrompi ele pra falar e ele me olhou puto.

Saddam: Fiquei neurótico, pensei bobeira e não soube dialogar, já parti pra ofensa e na real tu nem merecia... Sei que errei po, nada a ver aquilo ali, não tinha porque eu trazer a tona uma parada que eu já sabia faz tempo, não tinha mais graça!

Dandara: Hum... pois é né! Já sabia faz tempo, com certeza sabe todos os meus passos também e deveria saber que não tô mais nessa né? Só que mesmo assim quis me por pra baixo, usou de maldade, quis ser escroto.

Saddam: É, já disse que errei. Precisa trazer a tona o assunto de novo não, acabou, acabou! - falou impaciente.

Dandara: Muito fácil né bofe? - rir sarcástica.

Saddam: É po, pra mim é. Eu não tenho tempo pra perder no mesmo assunto por uma cota não. O que passou, passou, agora é seguir em frente. Então qual que é? Vai ficar nessa, tu? Já não admiti que tô errado!? O que tu quer mais????

DANDARA  👠 (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora