Eu não conseguia mais dormir. Tentei de tudo, chá, remédio, gastar energia o dia todo, banho quente e nada. Minha mente estava ligada o tempo todo, eu não consigo relaxar, desligar ou descansar. Tenho muito medo que Ethan entre por aquela porta e termine o que começou há três noites, todos os cantos dessa casa me lembram dele, dos momentos que eu acha que eram felizes, das suas agressões, dos esforços que eu fazia para ser perfeita e do quanto ele fazia questão de me lembrar todos os dias que eu estava longe de agradá-lo. Não tenho coragem de entrar no quarto que era nosso e também não posso ficar no outro quarto vago, porque fica distante da porta e, se ele de alguma forma sair da prisão e voltar em casa, quero que ele me encontre primeiro, que desconte toda a sua raiva em mim e que não tenha chances de encontrar Gabriel no andar de cima. Morro de medo que essa possibilidade se torne real e, provavelmente, é isso que me tira tanto o sono. Sem contar tudo o que vivi e que, agora, finalmente estou livre.
— Mamãe, posso tomar um pouco de chocolate quente? — meu filho pergunta, enquanto brinca com um carrinho sobre a mesa de centro com o braço livre do imobilizador.
Estou dobrando e redobrando roupas limpas apenas para ter o que fazer e não dar a chance de pensamentos sobre a minha vida tomarem a minha cabeça. Deixo isso para quando ele está dormindo e eu posso chorar sem precisar disfarçar.
— É claro, meu bem. — sorrio e me levanto. — Vou esquentar para você.
Nós já jantamos e está quase na hora de colocá-lo na cama, mas acho que um pouco de chocolate quente não faz mal a ninguém nesse frio de dezembro. Aqueço um pouco além do que ele geralmente toma e coloco em duas canecas para me forçar e beber também, já que o jantar não desceu como eu gostaria. Comida ainda era uma das coisas que eu não dava importância, meu estômago se revirava constantemente e eu só conseguia engolir quando meu corpo gritava para digerir algo antes que eu perdesse todas as forças. Isso havia se tornado um hábito desde que os abusos de Ethan se tornaram mais graves e o fato de eu ficar calada os sufocou dentro de mim, eu não queria aceitar tudo o que ele fazia, porém, sentia que não tinha muita escolha. Agora eu vejo que deveria ter buscado ajuda antes que a situação tomasse as proporções que tomou. Eu estava quebrada por dentro, não sentia vontade de fazer o que tinha para fazer, não queria falar ou viver, tudo o que eu queria era entrar num quarto escuro, chorar tudo o que tinha para chorar e esperar que um dia essa dor passasse. No entanto, eu tenho Gabriel para criar, ele só tem a mim para ajudá-lo com isso e eu seguia em frente, fazia tudo o que precisava e mantinha uma imagem intacta por fora apenas por e para ele.
— Você quer assistir um pouco de televisão no seu quarto antes de dormir? — pergunto, afastando seu cabelo castanho dos olhos.
Preciso levá-lo para cortar, é a anotação mental que faço enquanto avalio seu rostinho.
— Quero. — olha para mim. — Você assiste um pouco comigo, mamãe?
— Assisto.
Gabriel nunca mais quis dormir sozinho depois daquele dia, ele sempre me chama para assistir desenhos, ler uma história ou fazer cafuné até que ele durma. Tentei por várias noites me juntar a ele no sono, ao seu lado, contudo, também não foi eficiente e eu só venho acumulando olheiras, cansaço e falta de energia. Deito ao seu lado, cubro nossos corpos e ligo a televisão no canal infantil preferido do meu filho. Ele gargalha em alguns momentos e deita a cabeça sobre a minha barriga enquanto eu corro os dedos por seu cabelo. Sinto sua respiração se acalmando aos poucos, abaixo o volume da TV e continuo com as carícias até que minhas costas doem, por causa da posição em que estou e eu me levanto, lentamente, pousando sua cabeça sobre o travesseiro. Ajusto o cobertor e beijo sua testa antes de caminhar para a porta, que deixo entreaberta, e desço de volta para a sala de estar. Meu telefone toca e o pego em cima da mesa de centro, vendo o nome da minha irmã na tela.
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Rescuing Life |H.S|
ФанфикQuanto um relacionamento pode tirar de você? Quanto vale a pena se doar pelo outro? Quanto vale a saúde física e mental? Sabemos quando é hora de parar? Somos capazes de fazer parar? Sarah não se questionou antes e, agora, não acredita que seja ca...