Capítulo 54

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Eu sabia que o dia dezoito de setembro não seria fácil para mim

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Eu sabia que o dia dezoito de setembro não seria fácil para mim. Tentei, por um ano, fazê-lo ser, ao menos, suportável. Mas não foi. Quando desci do avião e entrei no carro, todas as lembranças me tomaram sem nenhum aviso. Os dias antes do acidente, as horas antes, o último sorriso de Angel que eu pude ver, suas últimas palavras, seu último olhar. Então, os sons do primeiro ultrassom do bebê, a correria para montar o quarto, mesmo que eu ainda tivesse meses pela frente, as pequenas roupas nas vitrines que passaram a atrair meus olhos, a forma como eu imaginava contar seus dedinhos dos pés e das mãos, assim que nascesse e os traços dela misturados com os meus em um novo ser humano. Não pude conter o choro.

Pedi a Sean que parasse numa floricultura qualquer e comprei as flores preferidas da minha Angel, lírios. Visitei o seu túmulo, onde deixei as flores e sai o mais rápido possível, quando comecei a ficar sufocado. Eu queria falar, mas as palavras não saiam, e eu só pude chorar.

Não atendi nenhuma ligação, nem respondi as mensagens que chegavam incansavelmente. Entrei em casa, deixei a mala de qualquer jeito no quarto e desci para o bar, pegando um copo e a garrafa de uísque. Esses seriam os companheiros para o meu dia. No closet, puxei a caixa em que guardei todas as memórias da minha esposa e comecei a beber.

— Não posso suportar. — sussurrei, correndo o indicador pelo rosto dela na foto.

Foi o dia em que a pedi em casamento.

— Estou tentando, meu amor. Todos os dias desse último ano, você sabe. — viro a garrafa no copo e o encho. — Mas é tão difícil. Dói tanto. Queria tanto tê-la ao meu lado.

Perco a noção do tempo. Poderia ter passado segundos, minutos, horas, dias e eu não saberia dizer. Olho para cada objeto dentro da caixa, relembro cada momento das fotos e giro sua aliança a frente dos olhos. Tão delicada, como ela era.

— Eu vou ser capaz de não sentir essa dor algum dia? — murmuro.

Guardo tudo o que está jogado ao meu redor e devolvo a caixa para o seu lugar. Suspirando, eu deixo o meu quarto e estou quase alcançando a escada quando sou atraído pela porta fechada na minha casa. Minha filhinha. Abro a porta, olho todos os móveis intactos, toda decoração e entro, correndo os dedos levemente pela lateral do berço, da cômoda, do trocador e da cadeira de amamentação. A dor que me atinge é tão forte que sou incapaz de permanecer de pé, então, sento-me no chão.

Observo tudo ao meu redor. Imaginando como seria se eu a tivesse comigo, se ela estivesse ali, nesse momento, me deixando de cabelos em pé para protegê-la de todo perigo, exausto de segui-la de um lado para o outro, acalma-lá nas horas difíceis, orgulhoso por assistir seus primeiros passos ou ouvir suas primeiras palavras.

— Não pode ser. — soluço, fechando os olhos e apoiando a cabeça na parede atrás de mim. — Não!

Jogo o copo na parede contrária e assisto-o se despedaçar em pequenos cacos, como o meu coração permanece há um ano.

Rescuing Life |H.S|Onde histórias criam vida. Descubra agora