Capítulo 16

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      O vento forte sopra as cortinas do quarto escuro, seus cabelos voam sobre seu rosto perfeito, seu olhar é confuso, suas lágrimas e maquiagem borrada faz sua aparência antes perfeita agora medonha, seco as lágrimas, enquanto ela empurra minhas mãos fazendo um bico.
— Tira a mão do meu rosto.
— Eu preciso limpar isso, está parecendo a Órfã, só falta pegar o martelo e arrebentar a cabeça de uma freira.
— Engole seu deboche e me ouve.
— Olha... — Pego em sua mão à levando para perto da janela, porém o frio faz ela se aconchegar em meu corpo, à abraço, beijo no topo de sua cabeça, respiro calmamente, sem idéia do que falar, ou fazer, sei que nada e nem ninguém conseguirá medir o tamanho de sua dor.
— O que quer que eu veja?
— A tempestade, aquela floresta sempre foi ensolarada, temos essa casa há séculos, mas não morávamos nela, viviamos escondidos nas sombras, algumas vezes vinhamos aqui, sem deixar vestígios, não queríamos ser vistos por ninguém, Romuel, Dandara e Hadassa viviam juntos, sempre em casas luxuosas, a Dandara tinha que ir nos melhores shoppings, mas a Hadassa vivia escondida dentro de uma casa, não podia se aproximar de ninguém, eu sempre no mundo, conheci tantos lugares, e sempre voltava para cá, mas a Hadassa sonhava em conviver com os humanos... — Olho para ela, que encara a floresta com interesse. — Eu juro que fui contra essa idéia, onde já se viu, monstros como nós, juntos com humanos como você. — Meu corpo acalenta o dela, sua respiração muda, o que antes era tristeza, dá lugar à uma calmaria preocupante.
— Engana-se meu querido monstro, somos mais monstros que vocês, porém mentiram para mim, porque vocês escolheram à mim? — À encaro melancólico.
— Engana-se pequena, não escolhemos você, você quem nos escolheu, és especial, devia perceber, alguém lá em cima sente sua tristeza, e tá à transformando em chuva. — Elle me olha confusa.
— O que quer dizer com isso?
— É a primeira vez que vem uma tempestade desse nível daquela floresta, é como se ela estivesse viva, e sentisse seu sofrimento, alguma coisa está errada, eu sei que está.
— Está tentando tirar o foco de vocês, da mentira que me contaram, do que me fizeram passar.
— Não seja tola tampinha, eu sei muito bem o que fizemos, nada vai mudar o que está sentindo, só quero tentar acalmar esse coraçãozinho, por mais que pareça frágil, sei que é forte, que esse coraçãozinho aguenta muita coisa.

     Tento me aproximar outra vez dela, mas a pequena se afasta parando próxima a porta, ela se curva como se sentisse dor.
— Elle olha para mim, por favor olha pra mim? — Peço e me sento no chão próximo à ela, nunca fui do tipo sentimental entretanto, Elle desperta um sentimento de carinho, como se ela fosse uma criança maltratada e sem lar, como se eu tivesse que protegê-la de tudo até de si mesma.
— Eu só quero entender, o por que? — Pergunta, o vento da tempestade aumenta, algo me preocupa pois sinto que isso tem haver com Elle.
— Primeiro, você tem que se acalmar está bem? Elle eu tô aqui por que me importo com você de verdade. Olha pra mim minha pequena! — Falo e toco em seu rosto, fazendo ela me olhar. — Foi arriscado, sim foi. Porém eu e toda minha família morreria para te manter a salvo, a Hadassa te ama e está lá embaixo preocupada com você e com medo de te perder.
— Domenico eu não estou aguentando tanta dor. — Fala precionando as mãos contra a barriga, tento segura-la, coloco a mão em seu rosto, sua pele está gelada e ela geme de dor.
— Merda Elle. — Falo segurando seu corpo. — Elle me diz o que está acontecendo.
— Tá doendo, tudo esta doendo! — Grita.
— Dandara! — Grito por minha irmã.
Elle começa a vomitar, me espanto ao ver sangue saindo de sua boca, me desespero.
— Dandara, Romuel! — Grito pegando Elle em meus braços, seu corpo desfalece, e a tempestade se torna mais forte, a escuridão toma conta do lugar, tento não encarar o sangue, pois minhas presas já começaram a aparecer.
— O que houve Domenico? — Dandara entra no quarto desesperada.
— Tem algo errado Dandara, a Elle vomitou sangue. — Sai daqui Domenico.
— Eu não posso deixar ela sozinha.
— Corre, não deixa a Hadassa entrar.

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