Um leve gesto com a mão demonstra minha ansiedade, olho para o senhor sentado à nossa frente, Domenico toma o chá como se fosse algo costumeiro, mas o mesmo intercala seu olhar entre sua xícara e o senhor.
— Tenha paciência meu jovem... — Diz e Domenico sorri pelo nariz com o comentário.
— Espero que isso valha a pena, caso o contrário perderei o restante de minha paciência. Odeio esperar e odeio chá.
— Domenico é meu irmão. — Falo tentando fazê-lo ter um pouco de cavalheirismo.
— Dane-se Hadassa, estamos aqui a procura de algo, ele sabe, e está nos fazendo perder tempo com uma idiotice dessas, não caímos em um buraco de coelho, não estamos no país das maravilhas, e ele não é o chapeleiro maluco, portanto, não sou obrigado a tomar a merda dessa chá, nem você. — Fala colocando a xícara em cima da mesa e se levantando da cadeira, Rudolph faz o mesmo, os encaro calmamente, aliás o que posso fazer, eu não conseguiria matar o Domenico, e não iria matar o irmão que acabei de conhecer.
Tomo um gole do chá de hortelã com gengibre, que por sinal está horrível, meu paladar não se dar mais com bebidas humanas, apenas alcoólicas, elas me caem bem.
— Senhor, eu vou levá-los até minha antiga casa, mas preciso saber mais sobre minha irmã, por onde andou, porque o tempo não passou para ela, coisas desse tipo.
— O senhor não deseja saber por onde minha esposa andou, pode ter certeza que não gostaria de saber, nem os motivos de seu belo rosto continuar tão belo, então por favor, nos dê o que precisamos e iremos embora daqui.
— Querida, eu não quero que vá. — O senhor fala melancólico.
— Ah faça-me o favor. — Domenico faz um gesto dramático e vira as costas dando um passo a sua frente, virando para nós novamente. — Ela não é mais sua irmã, o tempo parou por aqui, tudo acabou, aliás já era pra você está morto, e a Hadassa também, então não me venham com melancolias, entenderam. — Franzo o cenho para Domenico, eu não consigo sentir tais sentimentos pelo senhor parado em minha frente, não é como se ele fosse meu irmão e estivéssemos tido momentos alegres juntos, portanto nada me prende mais nesse lugar.
— Domenico, não seja rude, vinhemos atrás de algo de Angèle, e vamos ter, não é mesmo Rudolph?
— Sim, sigam-me. — São as últimas palavras de Rudolph antes de seu silêncio ensurdecedor.♧♧♧
Caminhamos pela cidadela, Domenico atraí olhares por onde passa, sua estatura ereta e olhar maldoso chama a atenção de algumas mulheres que o cobiçam, alguns homens me parecem irritados com sua presença, no intuito de afastar tais olhares agarro em seu braço, ele me transmite um sorriso indecente e continua andando.
O senhor vai um pouco mais a nossa frente, nos guiando ao nosso destino.
— Estamos quase chegando. — Diz.
— Ótimo! — Domenico fala, sem desviar os olhos do caminho.
Paramos de frente há um portão velho com algumas relvas.
— Você morava aqui? — Pergunto já ansiosa.
— Vivi grande parte de minha vida aqui, minha mãe deu seu último suspiro de vida nessa casa. — Fala com lágrimas nos olhos, toco em seu ombro de forma amigável.
— Meus sentimentos senhor, mas nosso tempo está acabando, preciso que nos ajuda se quiser descansar em seu leito de morte. — Olho de esguelha para Domenico. — Sim Dassa, uma hora ele vai ter que descansar, ou quer que ele passe mais uma eternidade esperando por você?
— Não, mas...
— Ele tem razão minha querida irmã, já está chegando minha hora.
— Mostre nos o que precisamos para voltarmos para casa. — Domenico corta a melancolia da cena, me fazendo rosnar para ele. — Menos Hadassa, sabes muito bem o que vinhemos fazer aqui.
— Vamos, entrem, irei lhes entregar o que querem.Nenhuma palavra a mais foi dita, entramos na casa, as teias de aranha tomam conta de toda a extensão da casa, inclusive dos móveis, em cima da mesa de centro há uma fotografia, nela está exposta uma bela mulher de cabelos longos, que por conta da fotografia antiga é impossível descobrir a cor de seus fios, olhos que aparentemente são claros, nariz reto e perfeito, lábios um pouco grossos. Sua fisionomia é de uma mulher requintada, até de mais para uma que fora uma simples empregada. Mostrando que fora bem cuidada por seu antigo amante, encaro a fotografia, e uma sensação estranha toma conta de meu corpo, um medo inexplicável, uma sensação de perigo.
— Domenico. — Sussurro minutos antes de um grito estridente tomar conta do local, tapo os ouvidos no intuito de amenizar a dor que o grito me proporciona, meus olhos ardem, minhas presas aparecem.
— Não tenha medo criança. — Uma voz doce ressoa atrás de mim, fecho os olhos, porém sinto seu toque em meu braço, um toque macio, abro os olhos me virando para a voz lentamente, arregalo os mesmos ao vê-la parada em minha frente, seu sorriso me encanta, seus cabelos negros caem sobre seus ombros, seu rosto perfeito como de uma boneca de porcelana.
— Vo-você... — Gaguejo ao encara-la.
— Não tenha medo, é filha dela, mas sua aparência é dele.
— Meu pai? — Pergunto deixando um leve sorriso desabrochar de meus lábios.
— Sim, seu pai era um homem maravilhoso, eu o amava tanto, ao ponto de morrer por ele, já sua mãe exalava maldade.
— Você era a amante dele, minha mãe devia odia-la. — Falo embravecida.
— Pelo contrário minha querida, sua mãe adorava passar horas comigo, éramos amigas, confidentes, seu pai se tornou uma pedra no sapato dela, e eu tive que ajudá-la a mantê-lo ocupado, pena que me apaixonei.
— Hadassaaa... — Ouço a voz de Domenico, desvio o olhar em direção a voz.
— O diário, leia o diário. — Fala antes de uma luz tomar conta do lugar e ela sumir.
— Aaahhh... — Grito ao sentir meus olhos arderem.
— Dassa, por favor, acorda. — Ouço a voz do Domenico me chamar, percebo que estou sem ar, sufoco, luto para voltar em mim, mas meus olhos ardem, meu corpo dói, quando finalmente encontro um pouco de força em meus pulmões, e consigo sugar um pouco do ar que ainda me resta. — Dassa o que houve? — Domenico me olha preocupado.
— O diário, leia o diário. — Mal consigo respirar.
— Vamos encontrar, fique aqui, venha Rudolph, vamos encontrar esse diário agora. — Domenico fala em tom autoritário, sento no sofá empoeirado, minhas pernas não encontram forças para segui-los.
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Afterlife
VampireHá séculos a minha raça vaga em meio aos humanos, alimentando-se de seu sangue doce. Eu repudio essa sede de matança, sede que faz minha garganta doer, como o fogo do inferno. Inferno... É para lá que eu e meu povo iremos, graças ao nosso criador, a...