Capítulo 76

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O fato de eu estar com o Vlad não significa que sou boa ou ruim, ou que apoio todas as decisões dele e todas as suas ações, sim, há coisas que não concordo e tenho total liberdade de dizer que é errado, bato de frente porque tenho convicção de que ele não é um monstro como muitos o definiram, ele só precisava ser amado e compreendido, afinal a grande maioria que um dia se aproximou dele foi por medo ou interesse, já eu, cheguei a odia-lo por um tempo, e ama-lo por outro, e quanto mais convivo com ele, mais o amo, esse amor chega a doer em meu peito, pois sei que ele sempre será o vilão, sempre será o demônio, talvez me acalenta pensar que por ele ser o vilão jamais me sacrificaria por um bem maior, afinal esse é o papel do herói, e o Vlad nunca será um herói, não ao ponto de ver sua família morrer e não poder fazer nada porque é por um bem maior, tenho certeza que ele foderia com o mundo só pra cuidar de nós, e por um tempo isso me assustava, hoje não, me sinto aliviada por ter alguém que se importa comigo de verdade, que não é só uma farsa, é real e verdadeiro o que ele sente.

Ao encara-lo percebo que no fundo de toda maldade ele um dia foi humano, ao se tornar vampiro se viu sozinho, a solidão não cai bem em ninguém, por mais que seja animador estar sozinho por um tempo, mas não são todas as pessoas que encaram a solidão como algo gracioso, alguns encaram a solidão como um mal a ser curado, muitos só precisam ter paz, e talvez tenha sido a solidão que o fez criar um exército de vampiros sedentos por sangue, e de certa forma não foi tão ruim assim, no final tudo tem um propósito, e se não fosse por esse reinado de trevas e escuridão ele jamais teria me encontrado, e não estaríamos juntos finalmente, sempre tem uma razão para cada coisa ruim que acontece em nossas vidas, eu por um momento pensei ter perdido tudo, o Miguel, meu pai, a faculdade, deixei todos os meus sonhos para trás, mas hoje percebo que não perdi, eu ganhei o mundo, minha filha é tudo o que tenho de mais importante, e o Vlad é o grande amor da minha vida, eu jamais imaginei que estaria ao lado de um vampiro pré-histórico, cercado por maldade, mas estou, e não estou nada incomodada com isso.

  Ao pular a janela em seus braços, percebi que não havia lugar nenhum no mundo em que eu queria estar além dos seus braços, por um curto período sobrevoamos a cidade, o lorde Drácula nos trouxe para o seu Castelo em Edimburgo, na Escócia, fugir de Brașov foi a melhor escolha que fizemos, não estávamos nos sentindo mais bem vindos na alcatéia, Romuel e Dandara decidiram viver uma nova lua de mel longe de todos nós, precisávamos tirar Angèle do corpo da Hadassa a qualquer custo, meu pai poderia nos caçar a qualquer momento, soubemos notícias de que ele havia se juntado a caçadores em prol de procurar e matar o Drácula, então não tinhamos mais o que fazer na cidade, a nossa vida mudou e nos sentimos no dever de desapegar das coisas que nos faziam mal, apesar da dor que senti ao dar as costas a minha antiga vida, eu sabia que era o certo a ser feito.
— Está muito calada ratinha...
— Penso em meu pai, em tudo o que vivi em Brașov, tive uma vida plena por um bom tempo.
— As pessoas iriam começar a perguntar sobre Delaila, iam perceber que você não envelhece, Hadassa não iria conseguir viver lá, Domenico iria acompanha-la como sempre faz, eu não poderia passear dentro da casa do seu pai sem ter minha cabeça arrancada de meu corpo.
— A Hadassa precisava sair daquele lugar, ela sofreu muito.
— Você também sofreu muito minha querida, e eu seria capaz de tentar conviver com seu pai se eu sentisse que você estaria feliz lá com ele, mas eu sinto que seu lugar não é mais lá.
— Meu lugar é onde você está meu querido, a casa da gente é onde nosso coração está, e o meu sempre estará com você.
— Por toda a eternidade... Temos tempo de ver nossa filha crescer, estudar, conhecer garotos e construir família, vamos ser os pais protetores mas os pais liberais, quero que ela tenha tudo o que quiser, e farei de tudo para compensar a falta que fiz ao Domenico, ele é meu primogênito e eu farei o que for preciso para ele se sentir em casa.
— Ele já sente meu amor, só de você ter salvado a Hadassa já ganhou pontos com ele, tenho certeza que ele o aceita como pai.
— Aquela monstrinha é insolente, não mais que você, mas ela é difícil de lidar, só que ela é importante para você, e para ele, então terei o desprazer de conviver com ela... — O encaro enquanto revira os olhos, balanço a cabeça em reprovação e deixo uma gargalhada escapar de minha garganta, por mais que ele tente ser bom, ele não consegue o tempo todo. — Mas não sobrevoei a cidade para falar dos meus filhos e de suas decisões, espero que a Delaila saiba aproveitar a imortalidade e escolha alguém menos irritante, mas não foi pra isso que vim até aqui...
— Então me trouxe até aqui para quê?
— Para um jantar, eu não preciso me alimentar com tais comidas, mas aprecio um bom vinho, e uma boa companhia, nossos primeiros encontros foram um pouco perturbadores e não tive tempo de formalizar nosso relacionamento... — Vlad estala os dedos e dois homens aparecem em nossa frente, nós guiando para dentro de um restaurante, que se encontra quase cheio, percebo que não são humanos por seus trajes e comportamentos, caminhamos até uma sacada, onde tem uma mesa posta, com alimentos aos quais não como há muito tempo, viver na alcatéia não foi tão agradável em relação a alimentação, apesar do doce sabor das frutas e da carne de caça, não consegui aprimorar meu paladar para viver a vida toda comendo carne de cervo.

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