Capítulo 46

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Sentado na poltrona ao lado de minha cama vivo um martírio dentro de mim, me sinto dilacerado ao ver Hadassa saindo daquela maneira, sei que lhe devo uma explicação, mas não sei como falar do meu passado, é tão difícil pra mim lembrar do filho da puta que eu fui, mas não consigo me abrir com ela, olha o tanto que fiquei escondendo a verdade sobre sua transformação, por medo dela me odiar, sendo que eu mesmo fazia o impossível para ela me odiar, é tão irônico, querer ganhar o amor de uma mulher à maltratando, somente na cabeça de um ser desprezível como eu, uma coisa dessas daria certo.

O amor que sinto pela Hadassa é a única coisa boa que existe dentro de mim, o resto se resume em dor, tristeza e sangue.
— Merda!!! — Esmurro a pequena mesa em minha frente.
— Domenico, está tudo bem? — Ouço a voz de Dandara do outro lado da porta.
— Estou, entra. — Minha irmã abre a porta, sua expressão demonstra preocupação, ela está meio agitada, arqueio a sobrancelha, fazendo um pequeno gesto com a cabeça.
— O que está acontecendo entre você e a Hadassa?
— Nada. — Me sento na poltrona que está localizada de frente para a janela.
— Não tente me fazer de boba Domenico, até um dia desses você queria mata-la e agora estão um grude, vi ela agarrada em seu braço, se você acha que sou tola está enganado.
— Você sempre soube dos meus sentimentos por ela.
— Mas eu não sabia que ia chegar à esse ponto.
— Ao ponto de nos tornarmos namorados? Casados?
— Ah, tenha santa paciência Domenico, você nunca foi do tipo de namoro, muito menos casamento, a última vez que você inventou essa história quase nos ferramos.
— Com a Hadassa é diferente Dandara.
— Diferente, você maltratou tanto a coitada, que não me admirava se ela o odiasse.
— Ela não me odeia, mas pode me odiar, com a vinda de Briana, meu conto de fadas está com os dias contados.
— É meu querido, éramos tão felizes naquela época, se você não tivesse inventado...
— Cale-se... — Me levanto. — Se o Romuel não tivesse aparecido, e tentando me matar a mando do Drácula, ainda estaríamos felizes.
— Mas você nos abandonou ... Romuel estava apaixonado por mim, quando você resolveu fugir.
— Foi preciso Dandara...
— Mas você não estava satisfeito com a merda que fez, e nos arrumou a dhampir, e ainda por cima se apaixonou por ela, só me pergunto até quando vai durar esse conto de fadas.
— Eu não sou o único que fez besteira por amor.
— A nossa mãe...
— Não fala nela... Deseja mais alguma coisa além de repreender minhas escolhas?
— Sim... — Dandara ergue sua mão para que eu a pegue, faço sem questionar.
Pulamos a janela, correndo para a floresta, a minha calmaria.

Paramos em meio a floresta, sinto algo estranho tomar conta de mim, Dandara está com um olhar estranho, olho para a copa das árvores, mas não estão balançando como sempre balançam com o soprar do vento, e então percebo que o vento cessou, e um silêncio profundo toma conta do lugar, é como se até os pássaros estivessem amedrontados, mas com o que me pergunto, tudo começa a girar ao meu redor, minha cabeça dói e meus olhos queimam como se estivessem em meio à brasas, grito desesperadamente. — Deixa isso tomar conta de você meu querido, mostre ao mundo quem você realmente é. — Grito cada vez mais forte, apertando minha cabeça, sinto cheiro de magia, magia negra, abro os olhos e não consigo ver nada, apenas uma escuridão profunda, uma luz se acende no meio dela, e uma mulher dança em meio à ela, trajada de preto, os pés descalços, caminho até ela, seu perfume de rosas brancas exala por toda a escuridão, ao ver que estou me aproximando ela sorrir alegremente, correndo para meus braços, me abraçando e beijando em meus lábios, tento me conter mas retribuo o seu beijo com paixão, é como se ela estivesse comtrolado todos os meus movimentos e desejos, aperto meus olhos tentando reconhecer seu rosto, mas me parece impossível, só consigo enxergar sua boca, seu sorriso é encantador.

Uma de suas mãos que estavam envolta de meu pescoço desce sobre ele, acariciando meu peito, sinto dor em meu coração, inacreditável sentir algo nele, já que não bate há séculos.
A linda mulher crava as unhas em meu peito, indo até meu coração que pulsa desesperadamente, grito e me curvo tentando evitar que ela o arranque de meu peito, porém foi falha a tentativa, ela arranca meu coração do peito, o esmagando assim que o tem em suas mãos, antes dos meus últimos suspiros de vida olho novamente para seu rosto, a minha pequena monstrinha sorrir, mas não um sorriso carinhoso ou alegre como ela sempre sorriu, mas um sorriso satisfeito com o que acabara de fazer.
— Hadassaaaa... — Grito...
— Domenico deixa ele sair, liberte-o, você está no controle. — O ar falta em meus pulmões, não consigo mais ver a Hadassa, vejo apenas a Dandara, que faz alguns gestos com a mãos.
— Dandara, o que está acontecendo?
— Calma, preciso que fique acordado.
— Cadê a Hadassa? — Sinto que meu corpo começa a esquentar, porém não consigo me manter de pé, caio no chão como se estivesse tendo o ataque epiléptico, antes que eu perca todos os sentidos sinto meu corpo sendo arrastando pelo chão.

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