Capítulo 49

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O mundo desaba em minha volta, enquanto encaro o teto de meu quarto, a nostalgia da vida que eu tinha séculos atrás chega a doer em mim, penso em minha mãe, e na justificativa para ela ter mentido esse tempo todo, penso na Elle, eu já a amava tanto, e agora descobrir que ela é minha irmã de século diferente tem bagunçado todos os meus sentimentos em relação à ela.

   Eu fui tão longe em busca de uma bruxa para salvar a Elle das garras do Drácula e acabei de descobrindo que a tal bruxa vive dentro dela mesma, os poderes da tal bruxa para ser mais exata, e o pior é descobrir que minha mãe era essa bruxa, e que mesmo sabendo do meu triste fim não fez nada para me ajudar.

  Parece que estou em meio à um livro e não sou a protagonista da minha própria história, e como se houvesse um autor brincando com meu destino.
— Hadassa, não havíamos combinado que você se mudaria para o meu quarto? — Domenico se deita ao meu lado, estou sem ânimo para esboçar qualquer reação, ele me puxa para seus braços. — Vai ficar tudo bem monstrinha.
— Porque a Elle? Minha mãe brincou com o nosso destino, duas filhas, uma com o terrível destino de ser uma dhampir, a outra, um grande poder dentro de si, sem saber como controla-lo.
— A sua mãe não sabia...
— Ela sabia o que ia acontecer comigo Domenico. — O interrompo.
— Mas ela não podia prever que ia ter outra filha, e quem sabe o que aconteceu com ela, talvez...
— A Elle falou que ela morreu, e isso me basta. — Olho calmante para o Domenico, mas não permaneço fixa em seu olhar, logo volto a encarar o teto.
    Eu poderia surtar, voltar para a floresta, fugir para as montanhas, ou simplesmente ir viver como prostituta em uma cidadela qualquer, me alimentar de meus clientes e os induzir a fazerem tudo o que quero, mas continuo ali, parada encarando o teto, enquanto Domenico me abraça cada vez mais forte.

♧♧♧

Confesso que ingerir o fato da Hadassa ser minha irmã não está sendo nada fácil, não pelo fato de eu não gostar dela, eu a amo, mas acreditar que minha mãe teve uma filha há séculos atrás e a abandonou no leito de morte, não é nada bonito ou emocionante, e para completar o meu desespero, ainda herdei seus poderes, enquanto a Dassa, uma triste profecia, a pobre menina morreu sem ter a mãe por perto.

   Me sinto sufocar com tanta coisa em minha cabeça, parece que as quatro paredes de meu quarto estão se aproximando cada vez mais de mim, me deixando sem ar.
  Saio silenciosamente de meu quarto, para que ninguém me ouça, ou me siga.
— Onde a bruxinha pensa que vai há essa hora? — Mordo meus lábios para não gritar, Connor está encostado na parede, firmando seu pé na mesma.
— Quero sumir daqui, destino trágico o meu, não pertenço a lugar nenhum.
— Venha comigo para minha alcatéia, lá você poderá ser livre. — Seguro um riso.
— Vai me levar tão longe para me matar? Prefiro morrer aqui mesmo, assim ao menos terei pessoas para chorar no meu enterro. — Passo por ele sem dirigir meu olhar a sua pessoa, percebo seus passos atrás de mim, me apresso para sair da mansão.
— Eu vou com você então.
— Para onde? — Ultrapasso a porta empurrando para que a mesma se feche, mas ele a segura.
— Não sei, vou onde você for.
— Não preciso de segurança.
— Devo me desculpar por tê-la machucado.
— A noite se aproxima lobo, o dia iniciou mal, quebrei duas costelas, ingeri o sangue de um híbrido que até ontem era só vampiro e talvez meu único amigo verdadeiro, descubro que minha mãe era bruxa, que eu de alguma forma herdei seus poderes, e que Hadassa é minha irmã de sangue, o que mais me falta acontecer? Um raio cair em minha cabeça? Ser engolida por uma cobra? — Caminho em direção à floresta, talvez lá seja o único refúgio para todos nós.
— Falta você dar a luz à esse monstrengo que habita em seu útero.
— O que? — Paro bruscamente.
— Ah, você não sabia, eu e esse meu péssimo hábito de falar o que não devo.
— Como isso... não é possível. — Falo fazendo um coque alto em meus cabelos que se encontravam soltos, meu corpo esquenta ao ponto de querer transpirar.
— Eu sou o único lobo que pode ver o que as pessoas carregam em seu interior, devido aos meus olhos mudarem os tons, eu vi em seu ventre a criança, você carrega em seu coração um amor amaldiçoado, e por um momento, um simples momento chegou a acreditar que seu amor o salvaria das trevas. — Meus batimentos cardíacos aceleram.
— Eu não... você não tem esse direto...
— Não precisa agir assim, a prova desse amor está vivo aí no seu ventre, é inevitável esconder. — Continua sem se importar com meu estado, estou extremamente zangada com suas palavras. — Eu senti a criança assim que a vi na floresta, também senti a sua confusão, ela é apenas um feto, e já se encontra dividida entre a luz e a escuridão, e cabe a você zelar pelo seu destino, a forma como ela será criada vai determinar o caminho que ela seguirá. — Coloco a mão sobre meu ventre, eu jamais iria imaginar que algo assim poderia acontecer, eu grávida de um filho do Drácula.
— Eu tenho que falar com a Dandara, ela conviveu com o Drácula, vai saber me falar se isso pode acontecer. — Me viro em direção a mansão, mas ramos e galhos começam a se formar em minha frente, enquanto um vento forte sopra ao nosso redor.
— Você precisa se acalmar, não é o fim do mundo, a criança vive em seu útero, não seja egoísta como sua mãe foi, mostre que você é melhor.
Connor grita me deixando mais irritada ainda, o vento sopra cada vez mais forte fazendo meu corpo quase que levitar, enquanto o coque em meus cabelos desmancha os fazendo esvoaçarem sobre meu rosto. — Me desculpe... — Galhos voam ao seu redor, o fazendo proteger o rosto com seu braço. — Volte a ser a bruxinha indefesa por favor. — Com um movimento de mão faço com que o vento pare, piso os pés no chão ultrapassando o lobo, adentrando a floresta, o mesmo volta a me seguir, ainda ofegante. — Você fez o vento de propósito? Sabe que poderia ter me matado? E agora eu tenho a chance de mata-la.
— Tenta ... — Paro para encara-lo, mesmo me tremendo de medo do que ele possa fazer contra mim, me mantenho com postura desafiadora, nariz em pé, corpo ereto, respiração controlada.
— Você é uma bruxinha malcriada mesmo em?...
— Meu nome é Emanuelle Norton.
— Hellsing, você é uma Hellsing e herdeira de Angèle de la Barthe.
— Não, sou Emanuelle Norton, filha de Joseph Norton, uum simples diretor de Universidade.
— Seu pai era o lider dos caçadores, não é atoa que tem dois instalados na sua casa...
— Eu não tenho nada a ver com eles...
— Devia se juntar à eles, imagina você caçando monstros, com uma arma de última geração, toda equipada, aí me encontrava em algum lugar, e ... — Ele fala como uma criança cheia de fantasias, sorrindo e dançando em meio as folhas, deixo de prestar atenção no que ele fala para prestar atenção nos seus gestos, e sorrisos, ele é a calmaria de que eu preciso, enquanto Vlad é a conturbação da qual eu fujo.

   ♧♧♧

  Caminho a passos largos para dentro da floresta, à procura do lago ao qual a Dassa sempre fala, meus poderes bagunçam minha mente a tal ponto que não lembro onde machuquei a Dassa e a Karmin, é como se por algum motivo a floresta se tornara estranha para mim.
O lobo continua a caminhar ao meu lado, mas dessa vez permanece em silêncio.
A escuridão da noite se aproxima cada vez mais, dificultando a minha visão, o pouco de luz que ainda restava se esvaiu com o cair da noite, a floresta se torna cada vez mais densa e fria.
— Emanuelle devíamos voltar, você não perdeu nada aqui, as noites na floresta são frias, você não está acostumada.
— Eu preciso organizar meus pensamentos, e a Dassa pode surtar a qualquer momento, se isso acontecer eu posso acabar machucando ela novamente.
— Mas você pode controlar seus poderes.
— Não totalmente, sinto que posso perder o controle a qualquer momento, as minhas emoções estão entrando em colapso.
— A sua teimosia me irrita.
— Você não tinha nada que ter me seguido, pode voltar, não vou mais procurar o lago, nem nada, vou fingir ter uma vida normal novamente, vou para a minha casa. — Me viro tentando encontrar o caminho para a estrada, mas a confusão em minha cabeça, junto da escuridão da noite, faz com que eu me perca totalmente, talvez tenho adentrado muito fundo na floresta. — Onde é a saída? — Pergunto e o lobo me encara.
— Você que entrou na floresta, estou só te acompanhando, não é porque sou um lobo que devo saber onde fica a saída da floresta.
— É, mas você me atrapalhou falando bobagens.
— Eu não falei nada, nem conheço essa floresta, você é a bruxa aqui, use seus poderes e nos tire daqui.
— Sou uma bruxa, não o mágico de OZ.
— Mas já andou muito por essa floresta, saracutiando com os vampiros do Drácula.
— Você é irritante.
— E você é tonta. — Fala se sentando no tronco de uma árvore caída. — Elle ninguém entra desimbestado em uma floresta, por mais que a conheça, principalmente ao entardecer, a floresta é traiçoeira, e esconde vários perigos, sorte sua que ainda não fomos atacados. — Reviro os olhos e sento ao seu lado, mesmo com a densidade da floresta a luz da Lua consegue ultrapassar algumas brechas nas copas das árvores, me fazendo enxergar algumas coisas ao meu redor.
— Tomara que um animal selvagem te coma.
— Hahaha!!! Você parece uma criança mimada, é mais fácil que um animal coma você, se o frio não a matar antes. — Bufo chateada, era só o que me faltava, ficar perdida com um lobisomem, tenho o sangue doce para homens sem coração.

   O frio bate em minha pele, abraço meu corpo, não me atentei em pegar nenhum casaco, saí com um simples vestido fino e um chinelo de dedo, sinto tanto frio que os bicos de meus seios estão duros, quase pulando para fora do vestido, fazendo o lobo os encara-los descaradamente.
— Eu falei que o frio ia matar você, tome, vista meu casaco, deveria deixa-la congelar para parar de ser teimosa. — Pego o casaco e me visto rapidamente. — Venha... — O lobo se levanta estendendo a mão para que eu a pegue, franzo o cenho para ele, que sorrir de lado. — Temos que encontrar um abrigo, uma caverna, uma árvore alta o suficiente, animais de todos os tipos vagam pela floresta a noite, sem contar nos seres sobrenaturais, não quero ser descuidado o bastante para lhe causar a morte, Romuel fincaria uma bala de prata em meu peito, você é muito querida entre eles, agora vejo o porque.
— Sou a poderosa bruxa que pode matar o Drácula sem que a Hadassa precise morrer..
— Não por isso, você é boa, é gentil, sua simplicidade e inocência conquista todos ao seu redor, veja conquistou até o pior dos seres, seu papel na profecia do Drácula é de extrema importância, não é atoa que carrega essa criança em seu ventre.
— O Drácula é um covarde...
— Sim, concordamos com isso, mas esquece esse vampiro e vamos procurar por um abrigo.
— Devíamos procurar a saída.
— E perder a oportunidade de dormir numa caverna?
— Você não pode perder é a oportunidade de dormir comigo seu descarado.
— Estou a brincar com você, agora a noite o máximo que conseguiremos achar seria um animal selvagem, um vampiro sanguinário ou um lobo que queira nos matar, precisamos nos abrigar o mais rápido possível.
— Sim, mas irei ficar acordada no caso de você tentar alguma coisa.
— Parece que quem quer alguma coisa é você, quer algo vivo, tenho certeza que as partes íntimas do Drácula fede a gente morta.
— Você me cansa... — Caminho chateada em sua frente, a escuridão atrapalha um pouco minha visão, e não percebo o buraco em minha frente, caindo dentro dele. — Aaahhh.... — Grito desesperada, enquanto o lobo corre para mim.
— Você tá beem? — Ele grita para que eu o ouça.
— Não precisa gritar, eu estou bem, só me tira daqui logo.
— Dá próxima vez que for se aventurar, lembre-se que não enxerga a noite, venha, e agora ver se fique perto de mim. — O lobo estende a mão para que eu a pegue, faço, pulando para fora do buraco, ao sair ele rosna para mim, me fazendo dar um pequeno gritinho, o mesmo dar uma risada, agarrando em meu braço, no intuito de encontrar um abrigo, sem que eu caia em algum outro buraco.

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