Capítulo 4

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Aquela noite foi uma das maiores, demorei pegar no sono e quando pego ainda tenho pesadelos com a noite que iniciei o meu inferno, todavia tenho que pensar no meu futuro então quando o sol nasce, não perco tempo em me arrumar para a faculdade, estou animada em ver meus novos amigos. Já pronta, desço as escadas quase que correndo, meu pai está sentando em sua poltrona enquanto lê, já Dandara está arrumada e com as chaves do carro em mãos.
— Hoje quem vai te levar sou eu, sua doce e linda mãe.
— Linda até pode ser, não tem como negar, agora doce?
— Sou muito doce querida.
— Igual açúcar queimado. — Diz Domenico ao se aproximar da irmã, lhe deposita um beijo ao topo de sua cabeça e sorrir, seu sorriso é como de um príncipe de contos de fada, mas sua alma é negra igual um demônio, em nenhum momento o mesmo direciona seu olhar a mim, eu nem ligo, seria um alívio acordar e não vê-lo.

Dandara abraça o irmão com tanto amor que chega a vibrar, ele tem todos os defeitos que existe no mundo, mas quando se trata da irmã, ele é muito sentimental, já cheguei a pensar que ele havia desligado suas emoções, mas ele é frio por natureza, ele a beija novamente e sai da sala, acena para o Romuel antes de sumir de nosso campo de visão, Romuel se levanta e segue atrás dele, nós saímos da casa indo em direção ao carro.
— Porque o Romuel não me leva?
— Meu amor, ele tem pendências a serem resolvidas com Domenico.
— Okei então vamos.

Fomos o caminho todo conversando sobre coisas aleatórias, Dandara era uma das que não tinha aprovado a nossa convivência com os humanos, mas acabou baixando a guarda, agora está indo comprar docinhos para tomar chá com nossas vizinhas.
— Divirta-se querida, te busco mais tarde.
— Tchau, mamãe.
— Céus, tchau filhinha.

Assim que me despeço dela, vejo Emanuelle se aproximando, seu coração está acelerado e sua expressão está fechada.
— Oi?!
— Preciso dormir...
— E a noite de ontem foi pequena por acaso?
— E porque está tão estressada?
— Não é nada com você, vamos para a sala, isso é se você não dormir pelo caminho, já que está parecendo um zumbi.
— Minha expressão não está tão feia assim.
— Está sim, pode acreditar que está feia. — Balanço a cabeça com o seu comentário, intrigada pelo seu nervosismo, ela é sempre contagiante, e hoje está mal humorada.

Ela passou a aula inteira calada, às vezes passava a mão sobre seu rosto e cabelo, pude perceber a ansiedade tomando conta dela.
— Quer me contar o que tá acontecendo? — Sussurro para ela.
— Não, problemas com meu pai, não quero colocar você no meio disso.
— Tudo bem, mas caso precise eu estou aqui tá. — Ela suspira e funga baixinho.
— Você é um doce, de todos esses anos foi a única que de fato se aproximou de mim, apesar de ser só o segundo dia que nos falamos. Sério, eu tô bem, obrigada por se preocupar.
— Seremos amigas, certo?
— É claro, já vou avisando que sou daquelas grudentas e super protetora.
Enfim ela sorri e volta a observar o professor explicar a aula.

Fico horas imaginando como as coisas mudaram de uns dias pra cá, a aula se passa muito devagar, estou ansiosa para ver Miguel, para o meu azar ele não está na mesma sala que eu, sinto uma conexão forte com ele, a realidade é que finalmente me senti em paz ao lado de alguém, o Miguel transborda tranquilidade, alegria, e é disso que estou precisando, a realidade é que sempre precisei, já Emanuelle transborda euforia, o seu aspecto contagiante deixa qualquer um fora de si, pude perceber que ela leva qualquer um para o mau caminho, seu ato de observar e capitar as coisas rapidamente me deixa com um pé atrás, ou talvez os dois, ela me intriga pelo fato de eu não conseguir decifrar nenhuma reação dela, ao contrário de Miguel, e quanto a Simone, me faz parar para pensar um pouco, ao mesmo tempo que ela parece ser boa demais, demonstra não ser tão boa, mas não penso que seja alguém ruim.

O sino anuncia o intervalo, todos já estávamos cansados de tanto o esperar, o caminho até a cantina foi rápido, eu sabia que ia encontra-lo lá, Emanuelle percebe meu alvoroço e sorrir animada, porém seu sorriso foi tirado pela presença de Simone.
— Oi meninas. — Ela se aproxima sorrindo.
— Oi... — Respondo retribuindo seu sorriso, Emanuelle que me parece ser um pouco impliquenta fica calada só olhando ela, sua expressão carrancuda demonstra não gostar da presença dela, ainda não entendo o motivo dela se irritar com Simone, algo me diz que essas duas já tiveram suas desavenças no passado.
— Vamos Dassa, quero comer algo logo, antes que minha linda barriga comece a reclamar.
Seguro o riso, pois seu estômago ronca, sua mão aperta meu braço com força, sinto a pressão sobre meu braço.
— É tão possessiva assim?
— Cala a boca e vamos que estou com muita fome.
— Me parece zangada.
— Não estou zangada, e para de tentar ser espertinha pro meu lado que não cola.
— A fome transformou você.
— Você nem imagina, não entendo essa sua barriga nunca sente fome e já percebi que come pouco e muitas vezes só disfarça que comeu.
— Tem que parar de me observar.
— É meu defeito ou qualidade, não tenho amigos por observar demais, os bons ficam, os ruins eu me afasto, só tenho você e o Miguel. — Ela sussurra as últimas palavras pois Simone nos acompanha, em nenhum momento a pequenina larga meu braço, parece uma criança segurando um doce, seu perfume é tão doce que me embriaga, sinto nela o cheiro de minha mãe, o seu toque é macio como o dela.

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