Observo Elle dormir, parece uma criança de cinco anos, toda esparramada em meio aos cobertores, saio do quarto. Vou até a sala e fico olhando a escuridão da noite, os animais noturnos correm em meio ao gramado e as corujas piam a procura de uma presa, escuto passos se aproximando.
— Eu sou uma pessoa ruim? Por colocar minha amiga em risco pelo bem estar da minha família? — Pergunto, sinto as mãos de Dandara em meus ombros, me viro para olha-la.
— Em meu ponto de vista, não... Você não é má, você não quer o mal dela, Hadassa vai dá tudo certo, vamos protegê-la.Uma lágrima solitária rola sobre meu rosto, a confusão em minha cabeça toma conta de meu ser, meus pensamentos embaralham-se entre fazer o que é certo e o que não podemos distinguir, não sei se é o certo levar a Elle ao baile, mas é o que sinto no momento, minha pequena está tão ansiosa pelo baile, tão feliz por poder sair pela primeira vez sozinha sem o pai.
— Dandara, eu não sei, não consigo descrever o que sinto no momento, tenho tanto medo por ela.
— Não teve medo ao propor essa loucura. — Diz Domenico se aproximando.
— Porra Domenico, não tá vendo o meu sofrimento, já não basta pra você?
— Basta pequena, mas eu não me canso de te mostrar a merda que você está fazendo. — O apelido mudou rapidamente de monstrinha para pequena, olho para Dandara, que sorrir de lado.
— Você se alimentou de um animal já morto? — Falo, ele franzi o cenho, beija a testa de Dandara e sai em silêncio, à encaro em seguida.
— O seu irmão está enlouquecendo só pode. — Falo a fazendo sorrir.
— Você ainda não conhece o verdadeiro Domenico querida, saiba ele é doce.
— Igual limão, ou boldo.
— Não seja tola, as coisas não são como você pensa que são.
— Você também falando isso Dandara, não chega o Romuel, o que eu não sei que vocês tanto escondem?
— Um dia tudo irá se esclarecer querida, mas não depende de nós. — Ela me beija e sai, volto meu olhar para a escuridão, é como se eu estivesse vivendo uma grande mentira, como se todos me escondessem a verdade.
Fico mais um pouco observando a escuridão da noite até que o brilho do sol começa a surgir. Passei a madrugada inteira remoendo todos os séculos que vivi até aqui. Nunca tive contato com outros de minha espécie além do meu Clã, espero que corra tudo bem.
Escuto os passos de Elle no corredor, estranho o fato dela acordar tão cedo, corro para encontrá-la no topo da escada.
— Caiu da cama? Ou tinha espinhos nos lençóis? — Pergunto fazendo graça. Ela faz uma cara pensativa.
— Tive um pesadelo, acordei e você já estava acordada.
— Com o que?
— Eu não sei, mas porque você acordou tão cedo?
— Preocupada com umas coisas, muitos afazeres até o dia do baile.
— Vi que a Universidade vai prolongar nossas férias.
— Jura? Que ótimo.
— Bom dia meninas, que tal um belo café da manhã? — Diz Dandara animada.
— Porque acordaram tão cedo? — Pergunta Romuel descendo as escadas, logo atrás Domenico, que passa e dá um meio sorriso para Elle que sorrir de volta, arregalo os olhos pra Dandara.
— Pai estava com problemas para dormir.
— Conversaremos após o café da manhã.
— Sim papai. — Emanuelle segura em minha mão e vamos para a mesa.Durante o café da manhã falamos sobre coisas aleatórias, sorrimos e contamos algumas coisas que já passamos no decorrer da vida, Elle sorrir escandalosamente com cada palavra dita por Romuel, em meio à isso tudo Domenico deixa escapar uma ou duas risadas, Santa Elle, ninguém em 4 séculos conseguiu tirar um sorriso dele, e ela em menos de um ano conseguiu tirar várias.
Termino o café e sigo com Romuel para o escritório, os deixo ainda na mesa, diria que se eu tivesse um coração, eu já teria enfartado, esses últimos dias me trouxeram tantas emoções. Entramos na sala, Romuel fecha a porta atrás dele, solta um suspiro e me mostra a cadeira para que eu me sente, faço, ele se senta ao meu lado, pega minha mão e me dá um sorriso amarelo.
— O que te preocupa tanto minha querida?
— Estou com muito medo, não sei se tomamos a decisão certa.
— Ouça querida, não há mais tempo para arrependimento, e não se preocupe, iremos proteger a pequena Elle, e olha... — Ele se levanta e me leva até a janela, vejo Elle no jardim com a Dandara.
— Ela está com a Dandara...
— Não, olha direito. - Romuel aponta para o canto do jardim, lá está Domenico, parado olhando para as duas que estão sorrindo como se tivessem visto algo muito engraçado.
— O Domenico? — Pergunto confusa.
— Sim, o Domenico irá fazer o impossível para protegê-la, ele sempre faz.
— Mas o Domenico odeia todo mundo.
— O Domenico não é quem você pensa querida, ele tem o jeito dele, mas ele nunca deixaria algo de ruim acontecer, ele sempre protegeu a família Greco com a própria vida; sempre observando pelos cantos, sempre calado, porém sabe muito bem como fazer, e o que fazer na hora do perigo, e veja a pequena Elle, ela é mais forte do que você imagina.
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Afterlife
VampiroHá séculos a minha raça vaga em meio aos humanos, alimentando-se de seu sangue doce. Eu repudio essa sede de matança, sede que faz minha garganta doer, como o fogo do inferno. Inferno... É para lá que eu e meu povo iremos, graças ao nosso criador, a...