Capítulo 59

17 3 14
                                    

Observo atentamente minha amada esposa sentada no capô do carro, em meio a estrada, confesso que espero uma longa explicação, mas temo pelo o que virar a dizer.
— Romuel, viemos aqui para nos divertir, como fazíamos antes de tudo isso. — Fala enquanto solta a fumaça de seu cigarro no ar, me aproximo, sentando ao seu lado.
— Aquele tempo, não tínhamos tantas obrigações, Domenico sabia se virar sozinho, hoje temos a Hadassa, uma dhampir, e a Emanuelle, uma bruxa, ambas, ainda jovens e inexperientes.
— O que me incomoda muito, nunca me conformei com a presença da Hadassa, me conformo menos ainda, com a presença da Emanuelle, ambas deviam parar de nos trazer tantos problemas, porque não aprendem a se virar sozinhas? Ou somem de nossas vidas? Tudo era melhor antes delas.
— Não fale assim. — Dandara bufa chateada, encostando sua cabeça em meu ombro.
— Odeio o maldito lobo que existe dentro do Domenico, se não fosse por ele, o Domenico nunca teria se apaixonado pela Hadassa, muito menos a teria transformado.
— Mas aconteceu, só resta aceitar.
— Nunca aceitarei isso, ela domina meu irmão, ele faz tudo o que ela quer, inclusive se afastou de mim, agora vem Emanuelle, enchendo a cabeça dele, com desconfianças sobre mim, eu jamais me aproximaria do Drácula, ele tem muito mais o que tirar de mim, do que dela.
— O que ele tem a tirar de você? — Me afasto para encara-la nos olhos.
— O Domenico, Romuel, se o Drácula descobrir quem realmente é o Domenico, eu perderei meu irmão.
— Quem é o Domenico? — Seguro em seu rosto, a forçando continuar a me encarar, a mesma chora como uma criança.
— É filho do Drácula, minha mãe e o Drácula realmente tinham um caso, o meu pai morreu por isso, a maldita criança nasceu do amor de Drácula e Befana, meu pai queria matar os dois, o Drácula se livrou de meu pai, e de todos os vampiros que residiam no castelo, eram os primeiros, mas sabiam demais, minha mãe morreu junto deles, eu fugi com o Domenico, tive que me aliar a pior das bruxas para conseguir apagar as memórias do Domenico, para ele nunca descobrir quem era, ou o que era.
— Por isso que ele não se lembra de sua infância? — Pergunto abismado.
— Sim, a bruxa apagou todas as lembranças dele.
— Então o Domenico sempre foi vampiro... — Me levanto do capô do carro, colocando as mãos na cintura, encarando minha mulher que seca as lágrimas.
— O Domenico não é um simples vampiro, Domenico é um demônio, filho do rei do inferno, tem noção do poder que existe dentro dele? — Ela pula em minha frente, tocando em meu rosto. — O Domenico mataria qualquer um de nós com um simples movimento de mãos, é meio bruxo, demônio, vampiro e lobo, tudo dentro de um ser só, Domenico nunca foi e nunca será humano.
— É inacreditável Dandara, como você pôde me esconder isso?
— É a vida do meu irmão, nem mesmo ele sabe, então não me cobre isso, eu tive de esconder isso de todos, era arriscado demais contar, mas o Drácula o tem observado, e isso tem me deixado amedrontada, eu não posso perder meu irmão.
— O Drácula não sabe que ele é filho dele? — Franzo o cenho, enquanto ela me abraça, aos prantos.
— Não... eu falei que ele não havia sobrevivido a fome, eu gerei boatos sobre isso, enquanto a bruxa me ajudou a cria-lo, e o Drácula não se interessou em procura-lo, estava mais preocupado em viver o luto de minha mãe.
— Quem era essa bruxa Dandara?
— Angèle, Angèle de la Barth, ela criou Domenico, depois foi viver sua vidinha pacata na cidadela em que deu a luz e criou Hadassa, depois forjou sua morte, sumindo totalmente do mapa, e então descobrimos sua existência aqui, com outra filha 400 anos mais nova que a Hadassa, sendo que antes disso Domenico se apaixona e salva sua primogênita da morte inevitável, e o pior, as duas irmãs se encontram e se aproximam, não acha coincidência demais?
— Então a sua teoria da conspiração, indica que Angèle planejou tudo isso?
— Domenico não se lembra dela, porque ela apagou sua memoria ao se despedir, mas ela sabia de tudo o que ia acontecer, tenho certeza que ela planejou tudo isso.
— E onde entra a sua traição? Sei que foi você que contou ao lorde sobre a gravidez da Elle.
Vejo seus olhos se arregalarem ao me ouvir, mas noto quando coloca uma máscara em seu rosto, escondendo sua pequena surpresa. No fundo, gostaria de acreditar que ela não ousou nos trair, que não traiu sua própria família.
— Romuel, como pode dizer isso? O que acha que sou? Trair minha própria família... E pelo oque? É certo que a presença dela me é incômoda, mas causar-lhe um dano como esse seria cruel. — Diz desesperada, com suas lágrimas correndo pelo seu belo rosto de mármore. — Como pode dizer que eu seria capaz de trair aqueles que tanto amo... também é minha família, o que ganharia em troca ao trair aqueles que me importo?

Afterlife Onde histórias criam vida. Descubra agora