Sentada em uma árvore observo os pequenos animais correrem em meio a floresta, graças a minha visão aguçada posso vê-los ao longe, alguns pulam, brincam, outros se alimentam.
A saudade da minha família começa a surgir, a maldita humanidade existente dentro de mim começa a querer tomar conta do meu ser novamente, e no fundo lembro do que fiz no passado, e do que fiz dias atrás, as coisas se repetem novamente, como um dejavi.
Uma ponta de dor surge dentro de mim, é como se o monstro estivesse brigando com a humana, e a humana estivesse vencendo pela primeira vez, ou talvez a humana sempre venceu.
Pulo da árvore, pensamentos confusos tomam conta de mim.
— Bem que eu imaginei te encontrar por aqui, já soube do que fez com os humanos.
— Como me encontrou?
— Ele sempre sabe de tudo minha querida.
— E você seu cão de guarda sempre faz o serviço sujo não é mesmo Karmin?
— Não sou cão de guarda do Mestre, sou sua pessoa de confiança.
— Qual de vocês matou ele? — Pergunto e ela sorrir, revirando os olhos.
— Você acha que o mestre perderia tempo matando o pobre Miguel? Ele está mais preocupado em matar você, a maldita Dhampir.
— Já pararam pra pensar que eu posso não ser uma dhampir?
— Não existe essa possibilidade, você foi criada, não foi pelo mestre, foi por alguém com o sangue tão puro quanto o dele, alguém forjado pelo próprio demônio, ou alguém próximo dele, o Vlad é claro, mas o que nos deixa confusos é que a Zella nunca conseguiu parir.
— Eu fui transformada pelo Romuel.
— Aquele idiota não conseguiu salvar nem a própria esposa.
— Como?. — Pergunto com voz trêmula, a fazendo arregalar os olhos.
— Ah, presumo que não saiba da história dolorosa da vida do Romuel, antes dele conhecer a amada Dandara, ele foi apaixonado por uma humana, mas nós não sabemos estar com humanos sem nos alimentar deles.
— Eu nunca me alimentei do Miguel.
— Não deu tempo querida, alguém se alimentou antes, e não fui eu. — Fala em tom debochado, dando de ombros, me irrito e viro de costas para ela, caminhando para longe, a mesma me impede segurando em meu braço, o puxo. — Calma, não quer saber do resto da história do Romuel?
— Você não tem nada de útil para me contar.
— Tanto eu, quanto você queremos saber que tipo de pacto com o demônio Romuel fez para te transformar querida.
— Eu não quero saber de nada. — Grito.
— O Romuel amava a Branca, e em um dia chuvoso ele surtou... — Karmim grita de volta, me sento no tronco de uma árvore e cruzo as pernas, ela não vai me deixar ir mesmo, e eu ainda não tenho forças para ir contra ela, a maldita humanidade dentro de mim me deixa fraca. — Ele a modeu, sugou até a última gota de sangue existente no seu corpo branco, transparente digamos, sua pele era tão delicada, mais parecia uma boneca de porcelana, quando ele viu que ela estava quase sem vida tentou faze-la voltar, lhe dando seu sangue, assim como fez com você, mas olha, o pacto ainda não havia sido feito, ela deu o seu último suspiro e morreu. — Fala em tom dramático.Respiro mil vezes antes de falar alguma coisa, eu não imagino o Romuel ferindo ninguém, ele sempre foi controlado, já o Domenico tem mais cara pra isso, impulsivo e surtado, mas Romuel, nem parece ser um vampiro, a Dandara fez um bem danado para ele, ou talvez ele tenha aprendido com o seu grande erro, ferir alguém que não conhecemos já é doloroso, imagina ferir alguém que tanto amamos.
Karmin me encara, percebendo a minha confusão, seus olhos acompanham minhas mãos nervosas que insistem em amassar uma a outra rapidamente.
— Ei para com isso, não suporto gente nervosa, descobre qual foi o pacto e poderá se juntar a nós, imagina só, estar ao lado do grande mestre Dracula? Seria uma honra não acha?
— Vocês querem me matar, e eu vou ser tola o bastante de me juntar a vocês? Não cheguei à esse ponto ainda.
— Então não me resta escolha se não mata-la.
— Eu não vou discutir com você Karmin, nem tempo pra isso eu tenho, preciso ficar o mais longe possível de vocês.
— Uau, quão dramática você é garota, é mesmo uma vampira? Parece que não... tanta insignificância! — Diz cruzando os braços. — Sinto nojo e vergonha, só de saber que piso no mesmo mundo que você, além de ser uma cria mal feita, ainda é cheia de frescura. Você não passa de um bichinho assustado, nada a mais! — Dou um passo em sua direção e ela sorri maldosa, o que me faz parar.
— Já chega criatura, tá passando vergonha sabia? Você não é um monstro... é só uma criança mimada, nada mais, tenho é pena de você! — Diz sorrindo largamente. Aperto minhas mãos, oque a faz revirar os olhos.
— Você não me conhece! — Falo.
Ela me olha de cima a baixo.
— Nem preciso, só de olhar... me da pena, que repugnante, acha que tudo que anda fazendo, te transforma em que? O diabo? Não... Só uma tola que nem sabe se controlar, você vai acabar sendo morta, não por ser o que é, mas sim por ser uma menininha burra e sem cérebro, que surta até por uma folha seca caida na terra!
— Cala a boca vadia! — Falo.
— Eu quero tanto te matar, muito mesmo, me livrar dessa criação mal feita... mas se eu fizer isso, acho que a ratinha do mestre vai chorar por sua morte, assim como fez na morte do seu amado! — Diz e começa a se afastar de mim.
— O que? Do que você?...
— Cuidado Vampirinha, há lobos por essas bandas e caçadores, que você mesma trouxe até seus amiguinhos Grecos! — Seu olhar é de animação, zombeteiro, seu sorriso maldoso, parece se divertir com a desgraça alheia.
— Espera!!! — Com um passo largo consigo segurar em seu braço, meus olhos queimam, minhas presas aparecem sem que eu queira, unhas crescem em minhas mãos cravando na carne de seu braço, ela me olha com fúria, tentando me fazer solta-la, mas quanto mais ela tenta, mais minhas unhas entram em sua carne.
— O que diabos está fazendo monstrinha... — Vejo os olhos negros em minha frente, como se fosse uma visão, meu olfato aguçado sente o perfume de manhã nevada, era como se eu estivesse voltando naquela noite em que me tornei o monstro que sou hoje.
— Não me chama de monstrinha, não surto com bobeiras, você deve já ter sentido o que eu senti ao ver o meu namorado morto.
— Não seja tola, você nem no enterro do pobre coitado foi.
— Você não sabe de nada, não sabe o que é ter que se esconder para que não a vejam, porque o maldito monstro dentro de você insiste em sair.
— Eu sei muito bem o que é isso minha cara, agora me solte, e siga seu caminho.
— Eu não vou soltar você, agora vai me ouvir... — Falo com voz grossa e firme, a vampira me encara, lutando para não transparecer o medo em seus olhos.
— Eu vou matar você projeto mal feito.
— Se você não morrer primeiro.
— Não tenho tempo para isso, me solte agora. — A vampira torce o braço para que eu a solte, aperto mais firme, ao ponto do osso de seu braço se partir, um grito estridente saí de sua boca.
— Doeu vampira? — Seus olhos estão vermelhos, suas presas a mostrar, suas unhas crescem na mesma intensidade que as minhas, um soco vindo de sua mão esquerda alcança a altura do meu peito, a ponto de meu corpo ser arremessado para longe, quebrando galhos das árvores existentes no meu caminho.
— Doeu vampira? — Pergunta caminhando em minha direção, ainda zonza tento me levantar do chão, enquanto ela agarra em meu pescoço suspendendo meu corpo, nossos olhos fixam um no outro, seus olhos demonstram se divertir com a situação. — Acha que é só você que anda se alimentando de humanos querida, eu também me alimento deles, agora vou arrancar essa sua linda cabeça e joga-la longe de seu corpo para não correr perigo de colarem-na de volta.
— Karminnnn.... — Ouço um grito estridente vindo do meio da floresta, junto com magia, algo muito forte é arremessado em nós, nos separando, caindo cada uma de um lado, meus olhos começam a se fechar compassadamente, vendo apenas dois pares de sapatos, um preto social, e um all star branco, perco as forças antes que vejo os rostos das pessoas que estão vindo em nossa direção.
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Afterlife
VampireHá séculos a minha raça vaga em meio aos humanos, alimentando-se de seu sangue doce. Eu repudio essa sede de matança, sede que faz minha garganta doer, como o fogo do inferno. Inferno... É para lá que eu e meu povo iremos, graças ao nosso criador, a...